Canções Noturnas

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There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke
Through the trees
And the voices of those who stand looking

Oh, it makes me wonder
Oh, and it makes me wonder

(Stairway to Heaven do Led Zeppelin de novo, porque, né? Ainda não acabou.)  

Jeb

Não era tão fácil quanto Mel fez parecer. Ou talvez minha sobrinha, minha pequena, fosse simplesmente mais forte do que eu. O fato é que você quer sobreviver, quer lutar com todas as forças pela posse do que sabe que está perdendo. E esse foi o instinto que tomou conta de mim antes que eu tivesse qualquer controle.

Permanecer eu mesmo.

Sem que eu previsse, imagens começaram a me povoar, brincar comigo. A criança que eu fui. Os ecos do homem que eu era. Eu. As coisas nas quais não pensava há tanto tempo, porque estavam tão profunda e naturalmente marcadas em mim que não podia mais chamá-las de lembranças. As partes de minha identidade. Nenhum nome era o suficiente para isso. E eu não era tão bom com as palavras. Mas também não precisava delas. As imagens falavam coisas que só eu entenderia.

Mesmo assim, tentei sufocá-las. Não queria dividi-las com ninguém e sabia que não estava sozinho. Era como ser espreitado na escuridão, embora eu não sentisse medo. Como ser protegido por alguém que não se pode ver. Uma sensação que não sentia há muito tempo. Mas eram minhas lembranças. Minhas. Senti que era preciso protegê-las, mas quanto mais eu tentava, mais escorregadias me pareciam.

"Esqueça seu corpo. Imagine-se cercado de paredes."

Sim, eu me lembrava. Esquecer de meus sentidos. Abandonar meus instintos. Deixar tudo escorrer pelos dedos que não podiam ser mais meus.

Ficarei firme, pequena.

Mas resistir doía. As paredes se erguiam de mim como músculos arrancados. Desconectados de minha integridade. Era preciso romper o laço entre corpo e alma e tudo o que eu queria era descansar. Parar a dor. Para sempre.

"Não."

Melanie surgiu ao meu lado. Adulta, olhos prateados. Depois se foi e quem voltou para mim foi a menina daquela tarde.

Trevor e eu não brigamos naquele dia. Foi uma das raras vezes depois que ele cresceu e deixou de ser meu irmãozinho tão simples de agradar. Mel era simples. Minha pequena. Nós dois assistimos enquanto ela jogava futebol. Eu estava feliz.

Então quando Trevor me olhou de novo tinha olhos verdes. Verdes e prateados. Parecia confuso. Mas não. Eu é que estava confuso. Aquele não era Trevor.

Um sentimento estranho me invadiu quando reconheci o garoto. Um misto de familiaridade reconfortante e ansiedade para respirar. Como se a presença dele significasse salvação e desconforto ao mesmo tempo. Como um remédio amargo. Logan. Meu amigo de quem eu tinha que fugir. De certa forma.

"Imagine-se cercado de paredes", ela repetiu. "Assim, vai manter sua mente relativamente intacta dentro da dele."

Melanie.

Finalmente achei minha voz. Usei-a para contar a ele quem ela era. E para lembrá-lo do porquê de estarmos ali. A clareza me invadiu e me senti como eu mesmo de novo. Talvez fosse simples, no final das contas. Ou o mais próximo disso.

A ideia de morte não era tão estranha, eu podia lidar com ela, mas queria viver. Esse desejo era imperioso demais e me guiou para longe da escuridão que espreitava.

Coração Deserto 2 - O Futuro O EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora