De Esperança e Dor

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The door is open to go through

If I could I would come, too
But the path is made by you
As you're walking start singing and stop talking

Oh, if I could hear myself when I say
(Oh love) love is bigger than anything in its way

So young to be the words of your own song
I know the rage in you is strong
Write a world where we can belong
To each other and sing it like no other

(Love Is Bigger Than Anything In It's Way – U2)

Doc

Sharon acha intrigante a minha maneira de ver o mundo.

É bonitinha, ela diz, o que é um adjetivo estranho para uma mulher como ela.

Um furacão. Uma ruiva explosiva, no melhor e no pior sentido.

No mundo de antes, talvez ela não perdesse dois segundos comigo, porque eu sou aquele cara em quem ninguém nunca repara por mais tempo do que isso.

Não chega a ser um problema, porque estou acostumado. E também não é que eu seja um sujeito totalmente desinteressante. Já me disseram que sou cínico demais para ter baixa autoestima. Portanto essa não é um tipo banal de constatação autodepreciativa.

É só o jeito como as coisas são.

Somos diferentes, as pessoas. E eu gosto de observar essas diferenças. Observo, tiro conclusões, catalogo em minha mente. Acho que cheguei a uma boa noção de como as coisas funcionam fazendo isso. Por esse motivo tenho um respeito saudável pela agressividade natural de cada um, pela maneira como os indivíduos encaram suas paixões, suas perdas e frustrações. Na maior parte do tempo, tento não interferir nas decisões de ninguém e reservar meus julgamentos para quando são requisitados.

Essa é a parte que Sharon acha "bonitinha". Do ponto de vista dela, eu sou paciente e sei lidar com os outros de forma empática. Palavras da bela ruiva que eu simplesmente aceito de bom grado, tentando não ficar muito envaidecido para não estragar a boa impressão. Porque nesta nova realidade eu sou o tipo de homem por quem ela se interessou e na vida toda, aparentemente, essas são qualidades que ela aprecia muito.

Entenda, Sharon era professora de crianças no mundo de antes. E continuou exercendo essa vocação em nossa célula. Primeiro com Jamie, Kate, Isaiah e Liberdade. Depois com os pequenos John e Lindsay, na medida do que a pouca idade deles permite. Empatia e paciência são, portanto, condições que ela considera sine qua non para um ser humano de respeito.

Pouca gente sabe disso, porém.

Porque ela acabou criando para si uma carapuça impenetrável de mulher furiosa e inacessível. Uma defesa que as circunstâncias da vida fizeram parecer necessária. Mas é uma capa destacável. Prova disso era que estávamos juntos ali, à espera de seres que ela tinha passados a década vendo como inimigos.

— Eles parecem amigáveis — comentou nervosa enquanto ajeitava repetidamente os óculos escuros, nossa tática para reduzir o impacto de nossos olhos humanos sobre os amigos de Logan.

— Fique calma, Shar. Temos tudo sob controle.

— Temos? — ela perguntou com aquele jeito provocativo que, por minha vez, sempre achei tão atraente.

Mesmo naquela situação, a capacidade que Sharon tinha de, com um palavra ou um olhar, me fazer questionar o que acreditava ainda era muito mais interessante do que o conforto das certezas. Então apenas sorri em resposta e segurei firme a mão dela.

Coração Deserto 2 - O Futuro O EsperaOnde histórias criam vida. Descubra agora