Capítulo 5 - Magnífico e fantástico

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Novo-u-joss fica na região Norte de Heelum ou, mais precisamente, na região Noroeste. Há muito tempo, quando a música era feita de contrabaixos, flautas e instrumentos de percussão, descobriram na cidade o níquel, metal que fez os homens se perguntarem se não poderiam criar outro instrumento. A resposta a essa pergunta foi a guitarra, que logo se espalhou por todo o continente.

O som do instrumento de freixo era algo único, marcadamente diferente de tudo que qualquer um já havia ouvido. Pensou-se até que era mais um dos mistérios de Heelum. Era robusto, encorpado --- e alto: enchia uma sala de som com pouco mais que um puxão em uma corda, e parecia ter um tipo de força gutural que arrepiava a todos que a ouviam pela primeira vez. Admiração, respeito, medo. As guitarras eram imponentes, mas sua altivez era diferente daquela de um yutsi: um impulso que fazia tremer de dentro pra fora, ao invés de o contrário; um impulso que fazia crescer ao invés de desejar encolher. A cidade cresceu em torno do estilo musical que a guitarra ajudou a inventar.

O quarto de Beneditt era pequeno, tanto quanto o dos outros homens da casa. Suas roupas, poucas e enegrecidas pelo tempo (de uso), ficavam amontoadas no único canto livre do dormitório. Com a janela acontecia o oposto da do corredor: não abria mais. As paredes eram azul-claro, mas a pintura, descascada e mal feita, tornava todo o ambiente ainda mais soturno do que se fosse apenas pálida, cinza ou marrom. Beneditt não gostava do próprio quarto, mas não porque queria um maior. Queria era poder morar em um lugar diferente a cada rosano. Mas tinha um quarto com dois amontoados de tecidos; um que vestia e outro no qual dormia. O resto do espaço era dedicado aos tambores, pratos e bastões que criavam, combinados, sua própria bateria.

--- Quase pronto? --- perguntou Fjor que, como Beneditt acabara de perceber, estava parado em frente à porta aberta.

--- Quase sim.

Beneditt colocava suas coisas em uma mala feita de goma escura, um dos únicos luxos da casa em que moravam. Precisava de uma dessas para que nada molhasse. Olhou brevemente para Fjor, e mínimos sorrisos cordiais surgiram em ambos os rostos. Fjor, carregando seu baixo nas costas, partiu para o andar de baixo da casa.

Leo colocava sua guitarra na caixa. Era preta e velha, com um formato clássico: simples e eficiente. Ou, talvez, nem tão eficiente, já que uma das cordas estava produzindo um som diferente --- como se ela estivesse perdendo a força e, arrastando-se com a ajuda das outras cinco amigas, ia sobrevivendo. Não foi a primeira guitarra de Leo, mas com certeza era a mais especial. Tinha pintado um "L" na borda de cima, que ele reforçava toda vez que a letra ameaçava se apagar. Todos pensavam que significava "Leo". Quando perguntavam por que ele não desenhava na parte de frente, para que todos a vissem, ele simplesmente dizia que gostava da ideia de ter algo que somente ele poderia ver durante um show. Mas isso não importava muito para ele. Não olhava tanto para o "L" quanto para quem a letra representava.

A guitarra de Leila já era um pouco diferente. O formato era também clássico; nunca teve dinheiro o suficiente para comprar algo mais original, que definitivamente queria. Mas era vermelha, imaculadamente vermelha, e era tão perfeita em seu estado natural que Leila não ousava modificá-la de qualquer forma. A cabeça da guitarra tinha um desenho original que ela preservava com ainda maior devoção: um onioto, uma gigantesca ave da região montanhosa do centro de Heelum, com um bico longo e um olhar severo.

***

Leo desceu as escadas e, quando chegou ao primeiro andar, viu Beneditt encostado em uma parede e Fjor em outra.

--- ... Hoje tem muitos desses malandros que não tocam nada, mas querem tudo! Muitos! Quando eu era mais nova o povo daqui se recusava a ouvir uma coisa dessas! Aaah, é um absurdo!

A Aliança dos Castelos OcultosOnde histórias criam vida. Descubra agora