Era noite alta e iluminada quando os quatro viajantes chegaram à Fortaleza Norte de Roun-u-joss. Vinham andando, mas só eles sabiam da força que faziam para não rastejar pelo chão até um lugar afastado da estrada, onde sonhavam poder dormir em paz e acordar misteriosamente saciados e sem preocupações. Continuavam andando, sendo ajudados pela certeza de que não tardaria muito para chegar a um descanso minimamente similar.
A Fortaleza Norte era uma região murada que a estrada atravessava; a não ser que fosse contornada, era a única estrada para Roun-u-joss para quem viesse de Al-u-een. Os muros escuros iluminavam a área exterior e interior a partir de uma miríade de minérios, e do lado de dentro havia uma pequena vila de administradores, fazendeiros e pecuaristas, com uma área para a criação de bufões e plantações diversas, as residências dos moradores e uma zona militar com uma porção notável do exército da cidade. Aqueles que, como Hiram, Kan, Raquel e Gagé, vinham da estrada norte, encaravam uma torre de seis andares, marrom e quadrangular, com um portão suficientemente resistente em seu andar térreo.
Enfim chegaram. Olharam uns para os outros, de posições relativas diferentes no bando. Estavam ansiosos por sorrir mas cansados demais para tentar. Hiram respirou fundo e se aproximou de uma espécie de minúscula janela do lado direito da porta. Kan observava as muralhas, que logo faziam curvas, mas não via nenhum sentinela caminhando por elas; as janelas da torre também estavam fechadas. O lugar parecia inabitado.
Hiram bateu algumas vezes na janela, que assustou ao se abrir imediatamente.
--- Mas quem são? --- Perguntou uma voz masculina.
Hiram era capaz de enxergar apenas os olhos do rapaz, realçados por uma luz azul parcialmente encoberta.
--- Meu nome é Hiram. Joana nos espera.
--- Um instante.
O homem tornou a fechar a portinhola, e Hiram olhou para os companheiros. Poucos segundos depois, um estrondoso som de correntes fez-se presente. Todos entraram na fortaleza pela porta, que se abria rangendo.
Não havia ninguém no grande pátio logo após a porta, onde se podia ver claramente a estrada continuar o caminho que logo ladeava casas de um ou dois andares. Por dentro os muros projetavam, perto das bordas, espaços em que alguns soldados se escondiam e pelo qual outros ainda patrulhavam, ocultos para quem estivesse do lado de fora. O chão à margem da rua já não era verde como antes, mas coberto de terra batida e seca.
O homem que os atendera tinha olhos grandes e um rosto alongado. Apesar de sua postura militar, era baixo e andava com dificuldade, mancando na perna direita. Saindo da torre por uma porta ao lado do portão principal, que agora se fechava com mais uma sequência de torcimentos metálicos, lançou a Hiram um olhar respeitoso que continha uma centelha distinguível de orgulho alheio.
--- Vou comunicar a Joana que estão aqui.
Hiram balançou a cabeça de leve, e um agradecimento quase mudo de tão rouco saiu de sua garganta.
--- É isso? --- Perguntou Raquel, analisando o bairro familiar quando o homem se fora. --- Estamos salvos?
***
Depois de virar a esquina de uma rua cheia de casas fixas ao ritmo parado da madrugada, o grupo de filinorfos enfim enxergou uma convidativa luz amarela vindo de uma porta aberta. Era uma casa diferenciada; tinha apenas um andar e pouco espaço, com o exterior pintado em um verde alegre e cativante. Joana estava em pé, encostada ao batente da porta com os braços cruzados. Era uma sorridente mulher alta de curto cabelo claro, cortado de maneira estranha, e cultos olhos esverdeados que se divertiam ao observar os extenuados viajantes.
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A Aliança dos Castelos Ocultos
FantasyNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou comandar as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No primeiro volume da série, A Aliança dos Castelos Ocultos, Heelum está...