Amanda caminhava nas sombras. Ignorou a charrete, mandando-a de volta para casa. Preferiu voltar a pé, esperando que andar fosse fazer algum bem. Descobriu, minutos depois, que seu maior desejo era poder arrancar com as unhas a pele do corpo e jogá-la fora, num amontoado de folhas caídas.
Sentia raiva de todos que passavam por ela, por motivo nenhum. Chorou o trajeto inteiro, em acessos espremidos, tendo um acesso de raiva a cada vez que se imaginava perguntando para Tadeu por que ele não estava lá. Imaginava que ele pediria desculpas de joelhos, mas não sabia o que visualizar quando ele começava a se explicar. Ele gaguejava e a olhava, suplicante, e este era o momento em que ela apagava aquilo da mente como se passasse a mão por uma névoa grossa.
Não soube dizer se o pai a vira quando ela entrou em casa, ou mesmo se ele estava ali. Trancou a porta do quarto e jogou-se de qualquer jeito na cama feita. Amassou quase que de propósito a colcha rosa em que pequenos pássaros azuis, de bicos longos e asas abertas, voavam no céu simulado. Fechou os olhos. Sentia até mesmo seus pulmões doerem a cada vez que tinha contrações de pranto.
Virou-se de barriga para cima. Pensou em um jeito de ficar definitivamente sozinha, num lugar onde pudesse fazer o que quisesse.
Fechou os olhos e deixou que o formigamento tomasse conta de si. Em breve sentia como se o corpo todo estivesse suspenso; uma dor nas têmporas surgiu enquanto ela deixava de sentir os membros. As lágrimas no rosto evaporaram, e ela podia senti-las se despedindo com o vento. Não havia mais distância entre ela, as mesmas lágrimas levadiças e o céu púrpura acima do próprio castelo. Tudo era uma borrada junção de coisas e seres, que se destacou como papel rasgado quando ela finalmente abriu os olhos.
Olhou para si mesma. Usava um vestido longo e rodado, com bastos ombros preenchidos, feito de um quente tecido roxo e bordado com marcantes fios vermelhos. Estava dentro do próprio castelo, em um corredor suspenso que ligava pelo segundo andar um grande saguão a outro. A parede tinha aberturas em toda sua extensão, janelas sem vidro, e a débil luz de um gigantesco sol quase completamente desaparecido formava fileiras de sombras compridas atrás dela.
A preculga debruçou-se sobre uma das janelas, sentindo-se enfim em casa. Respirou fundo, percebendo que não tinha vontade de fechar os olhos, de chorar ou de gritar. Só queria ficar ali, parada, por muito e muito tempo.
Ao olhar para frente, viu que o cenário se alterava de uma maneira estranha. A planície perto de si continuava a mesma, com jovens eucaliptos fazendo companhia à grama sem fim. O problema era o próprio horizonte, que parecia rolar para dentro em direção a ela, absoluto, gigantesco, faminto.
Amanda se afastou do parapeito, dando passos estabanados para trás. Um castelo surgia, avançando como uma espécie de navio; ele barrava a vista para o que sobrava do sol, crescendo a cada instante, até enfim parar exatamente à frente do castelo de Amanda. Uma pequena torre destacada lateralmente de uma outra, esta mais alta e mais grossa, ficou a apenas alguns pés de distância da entristecida maga.
--- AMANDA! --- Berrou Tadeu, do chão. --- AMANDA!
Ela voltou à janela, inclinando-se mais para a frente. Viu que ele estava com as mãos apoiadas sobre os joelhos. Ao sentir a presença dela, olhou para cima; balançava o corpo, desconfortável com o cansaço.
--- Amanda...
--- Por que você não foi, Tadeu? --- Perguntou Amanda, desabafando. --- Por quê?
--- Amanda, desça aqui, eu posso...
Amanda teve um pensamento terrível que a empurrou para fora da cama num pulo. Embora não tivesse caído totalmente no chão, demorou a recobrar o equilíbrio; escorregando um pouco, foi até a janela. Tadeu estava ali, praticamente idêntico ao seu iaumo em Neborum --- logo abaixo da janela do quarto, no meio da rua.
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A Aliança dos Castelos Ocultos
FantasyNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou comandar as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No primeiro volume da série, A Aliança dos Castelos Ocultos, Heelum está...