Capítulo 48 - Instável

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Byron examinava de pé a cena do atentado, trazendo no corpo a capa laranja que usava para se orgulhar de sua tradição. Naquele dia, entretanto, ostentava um semblante de alguém que tinha poucas coisas valiosas na vida --- e observava, em silêncio, as cinzas de uma delas. Na cela estavam duas metades de uma esfera de bronze. Tornero voltava da cela de Lamar, tendo visto que ele não estava lá.

--- Ele teve ajuda...

--- Não diga! --- Disse Byron, sem tirar os olhos do mineral quebrado. --- O que vai me dizer depois, Tornero? Que o policial foi iludido por este minério na madrugada de ontem?

Tornero calou-se, juntando as mãos à frente do corpo. Percebia, disfarçando neutralidade, o olhar de exaustão que Byron lhe lançava com o canto do olho.

--- Pensei que os policiais dessa cidade fossem menos estúpidos...

--- Cuidado com as palavras, parlamentar. --- Disse um homem de uniforme policial que entrava no vão central do lugar.

Ele andava com determinação tal que seu rosto parecia uma extensão das rígidas pernas e dos fortes braços. Byron manteve sua posição, olhando com curiosidade para o --- observaram imediatamente os magos --- homem comum que entrava no cenário da fuga.

--- Quem é você?

--- Sou o chefe de polícia de Prima-u-jir, e digo que...

--- Nome, chefe de polícia. --- Interrompeu Byron. --- Eu quero um nome.

O homem de grossas sobrancelhas escuras olhou por um instante para Tornero, que não ousaria se intrometer, e voltou-se para o político novamente.

--- Meu nome é Francesco. E nós somos policiais, pagos para cuidar da cidade, não dos seus presos particulares.

--- Policiais são homens e mulheres que devem fazer um trabalho bem feito e saber onde são seus lugares.

Byron caminhou tranquilamente em direção a Francesco, que desviou o olhar ao perceber o aumento na própria temperatura; sua pressão disparara, descontrolada. Byron se perguntava, por diversão, se precisaria ser um mago para causar aquele tipo de efeito --- se não conseguiria apenas por sua autoridade e figura deixar o policial arisco, dotá-lo de passos vacilantes, enredá-lo em indecisão e temeroso respeito.

--- A policial de ontem viu alguma coisa?

--- Não. --- Respondeu Francesco, de cabeça baixa.

--- Ela não viu nada. Nem um vulto sequer.

--- Não.

--- Não ouviu um nome.

--- Não.

A resposta com ênfase atacou os nervos de Byron, que teve vontade de causar alguma espécie de agudo desconforto naquele homem abusado. Mas, entendendo que a resistência faria parte da cooperação, controlou-se.

--- Você entende que uma grave falha de segurança aconteceu aqui, Francesco?

O policial concordou com um balanço enérgico de cabeça. Byron o acompanhou mais lentamente.

--- Devemos pegar o prisioneiro de volta, não?

--- Sim.

--- Posso esperar por sua cooperação? --- Perguntou Byron, amigável.

--- Sim.

--- É claro. Tornero, alguma ideia de quem poderia ajudá-lo?

--- Creio que ele tenha ajudantes o suficiente, mestre.

--- Estava falando de Lamar.

Tornero piscou com veemência por um segundo ou mais.

--- Ele veio para a cidade depois de viver em Kerlz-u-een. Trouxe uma companheira e um filho.

--- Quem são eles?

--- Já perguntei. --- Tornero respirou pesadamente, fazendo um sinal impaciente para o chefe de polícia. --- Para eles. Quando chegamos com Lamar, dei ordens para que ninguém o visitasse... A mulher e a criança tentaram, mas foram impedidos. --- Voltou a olhar para o mestre, dando de ombros. --- Como não entraram, ninguém registrou nomes.

--- Ontem --- disse Francesco --- houve uma visita, mas nenhum dos policiais que estavam na guarda fizeram o registro. E-eu não sei o que aconteceu. Nós sempre fazemos registros.

Byron balançou a cabeça um pouco menos energicamente antes de voltar a olhar para o minério. Francesco, como se acordasse em um susto, olhou para os pedaços perfeitamente curvos da pedra e os juntou do chão.

--- Quem fez isso tinha acesso a minérios como este. --- Raciocinou Byron, andando pela cela. --- Também atacou policiais. Se a mulher de Lamar veio até aqui com o filho, não se arriscaria a tanto.

--- E isso foi há dias.

--- Não eram as mesmas pessoas. --- Completou Francesco.

--- Muito bem... Pode ir, Francesco.

O policial quis que sua despedida fosse profissional, salpicada com obstinada vontade de fazer um bom trabalho, mas pareceu antes uma comemoração para a sorte que teve de poder ir embora.

--- O que eu penso --- explicou Byron enquanto adentrava, seguido por Tornero, o corredor da área de celas --- é que Lamar fez amigos em Kerlz-u-een. Outros alorfos.

--- É provável.

--- Esse amigo veio ao resgate... E agora já está longe demais para nós. Mas você, Tornero, vai ver onde a família de Lamar está. Quero os nomes deles. E se eles não estiverem aqui, você me avisará.

--- O que você vai fazer?

--- Faça o que eu disse, Tornero.

--- Eu farei, mas preciso saber onde você vai estar, mestre.

Byron assentiu, com a mente distante.

--- Procure por mim no Parlamento.

A Aliança dos Castelos OcultosOnde histórias criam vida. Descubra agora