--- E para isso quer o cargo de volta.
Kent estava em pé em seu escritório, que não era muito diferente do de Hideo. Os móveis e o estilo eram padronizados em todas as salas do gênero no prédio, de modo que ambos viviam em um ambiente de austera ostentação. O espaço do político idoso era mais limpo, entretanto; seus óculos o faziam enxergar de uma maneira excepcionalmente boa, de modo que suas lentes, mantidas sempre em aguda transparência, não o deixariam em paz se ele tivesse uma sala exclusiva que fosse suja e bagunçada.
Enquanto o parlamentar limpava energicamente os óculos, pensando a proposta de Dalki, o ex-chefe de polícia fitava-o tranquilamente próximo à parede. Preferia a mesma posição do político a se sentar. Sabia que não conseguiria manter boa postura; que se sentiria estranhamente diminuído, como alguém estranhamente indefeso, fazendo negócios com um homem cheio de astúcia e experiência --- isso sem sequer precisar supor Kent como um mago.
--- Se você quer pegar os assassinos de Hourin, eu quero meu cargo de volta.
--- Nada me garante que você sabe quem eles são. --- Kent colocou os óculos de volta, ajeitando a manga das vestes negras. --- Quero o que sabe primeiro.
--- Com todo o respeito, senhor Kent. --- Disse Dalki, sorrindo com cuidadoso sarcasmo. --- Não vou negociar desse jeito com um político.
--- Al-u-een não é uma cidade que se arrisca, Dalki. Por que acha que vou me arriscar com você?
O policial, que desta vez não se vestia a caráter, olhou para Kent sem entender como ele não via como era absurdo o que dissera.
--- Isso demonstra sua ignorância quanto à história dessa cidade, senhor parlamentar.
--- Não, meu caro. --- Riu Kent, exibindo uma torção de músculos faciais que se traduzia em sabedoria tácita. --- Demonstra a sua ignorância de pensar que o passado ainda diz algo sobre quem nós somos.
--- Então quem nós somos, senhor Kent?
--- Assassinos cruéis.
Kent deu a volta na mesa, indo ocupar a própria cadeira.
--- Nem todos, senhor Kent.
--- Então você quer ajudar a prender os assassinos cruéis! --- Kent dizia, irônico, com as mãos fazendo abrangentes gestos sobre a mesa. --- Mas apenas se isso lhe beneficiar.
--- Não quero benefícios, senhor Kent. Quero as coisas como eram antes, sem magos para me dar ordens no trabalho ao qual há rosanos me dedico.
--- Magos? --- Outra desconfortável torção de rosto em que o velho homem deixava clara, com a sanção das rugas, sua opinião. --- Ora, Dalki...
--- Então não acredita que eles são magos. Ou pelo menos ele.
--- Sinceramente...
--- Como explica que um policial que nunca foi destaque apareça com um parlamentar a tiracolo e seja declarado chefe de um dia para o outro?
Kent abriu a boca, mas logo a fechou, contentando-se em usá-la para respirar.
--- E a sua teoria --- recomeçou ele --- é que há um mago na polícia mexendo com um parlamentar.
--- O senhor tem uma melhor?
Polícia e Parlamento se olharam, entrando em um acordo de olhares com muitas cláusulas não ditas, todas múltiplas e contraditórias, abarrotadas até o ponto final de esperanças e contrapesos.
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A Aliança dos Castelos Ocultos
FantasyNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou comandar as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No primeiro volume da série, A Aliança dos Castelos Ocultos, Heelum está...