O céu, perfeitamente azulado e alinhado, parecia ter planejado os mínimos detalhes. Conspirador, é isso que ele foi. O céu encontrou uma maneira magnífica de favorecê-los --- e era importantíssimo que nada desse errado.
Sentavam, os dois, debaixo de um baobá frondoso, tão vigoroso quanto sábio. A luz ficava à vontade sob as folhas, e eles também. De joelhos na grama, empertigaram-se. A Leila de vinte rosanos não tinha nada para proteger suas articulações, tão fraquinhas, já que usava um vestido quadriculado amarelo e laranja. Ele usava uma calça azul-escura. A melhor que tinha, ainda que esse não fosse fato notório e público.
Ela olhou bem no fundo dos olhos verdes de Beneditt, apenas um pouquinho mais velho que ela. Aquele seria o primeiro beijo dos dois, e eles sorriam e tremiam juntos, divertindo-se, de mãos dadas, ao curvarem-se para frente e encostar os lábios em um toque carinhoso, sincronizado com a inspiração profunda de cada um.
A versão infantil de Leila lembrava-se, sorrindo como boba, daquele dia. Espraiou-se na grama enquanto o pai, de quem herdara os lábios faceiros, sentava em um banquinho ao lado dela, tocando um ritmo leve na guitarra.
Ele parou e olhou para ela, que escondia os olhos da luz do gigante sol com uma das mãos.
--- O que foi?
--- Nada, pai...
Ele olhou para os campos e árvores ao redor, como se procurasse por algo.
--- Não, o rio não está por aqui. Não consigo nadar sem água.
--- Ah, pai! --- disse ela, dando uma risada.
Ele mexeu um pouco na afinação da guitarra, e ela disparou, incontrolável:
--- Pai, sexo é ruim?
Ele olhou para ela, curioso.
--- Não, filha. De onde você tirou isso?
--- Ah, é que... Todo mundo fala bem pouco nisso, e quando falam parece que é uma coisa... Ruim. --- Argumentou ela.
O pai voltou-se para a guitarra, pensativo.
--- Não, filha, é que... É que nós de Novo-u-joss temos pudores, é só isso.
--- Pudores? --- Perguntou ela, sem entender.
--- É... Nós achamos que existem horas apropriadas pra falar sobre sexo, entende? Horas, lugares... Pessoas. --- Ela balançava a cabeça afirmativamente. --- Você, por exemplo. Você é a minha filha, então tudo bem falar com você. Você sabe que pode falar comigo sobre tudo, não sabe?
--- Claro, pai! --- Ela sorriu. Assim que o assunto ficou suspenso sua mente se voltou para o beijo de Beneditt mais uma vez.
--- Isso é ter pudor, filha. Nem em todos os lugares é assim. Então a gente não fala... Nem faz... --- Ressaltou ele. --- Sexo em qualquer circunstância...
Leila continuava balançando a cabeça, começando a sentir na vergonha das bochechas o sentido do pudor. Tinha toda a liberdade para usar a palavra, mas seu conhecimento era tão vago e frio do que sexo de fatoera que o uso parecia imerecido; um cálice de sabedoria e poder que tinha que ser ganho na ponta de uma espada.
--- Está vendo aquela árvore, filha?
Ele apontou para uma planta baixa e seca que, com quase nenhuma folha, retorcia-se em direção ao chão. Leila não pôde deixar de compará-la a um corvo. Ela parecia agonizar lentamente rumo à morte do mundo vegetal, que era sempre sutil e graciosa.
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A Aliança dos Castelos Ocultos
FantasiaNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou comandar as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No primeiro volume da série, A Aliança dos Castelos Ocultos, Heelum está...