Capítulo 59 - A sala verde

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Gustavo morava em uma região ao norte de Al-u-ber. Era preciso atravessar uma ponte de corvônia por sobre o Rio Trojinsel e continuar andando por alguns minutos em uma rua parcialmente sustentada por grossas colunas antigas. Abaixo da avenida elevada ficavam casas mais próximas à margem do rio, que descia abruptamente naquele ponto ao ficar mais próximo do mar revolto.

Amanda seguiu em frente, passando por restaurantes alojados em prédios de arquitetura semelhante à da ponte; blocos dourados constituíam as paredes e as colunas que, ao redor de todo um quarteirão, serviam como passagens sem portas. Entrou em uma rua à direita, logo depois de uma praça pela qual algumas pessoas de idade passeavam, com os olhares caídos e o andar precário. Amanda não se demorou ao observá-los, mas o fez por tempo suficiente para que um homem sem cabelo ou barba, com roupas azuis por cima da fina pele, balançasse a cabeça. Estava de braços abertos, os cotovelos enganchados em um banco de tiras de madeira. A maga apertou o passo.

Logo avistou a casa de Gustavo, uma residência que, embora simples, transbordava classe --- elegante até mesmo no modo como humilhava a vizinhança com janelas meticulosamente pintadas de um vivo vermelho e uma bem arranjada alvenaria marrom.

Amanda abriu o portão de ferro, que deslizou suavemente pelas dobradiças negras. A frente da casa não era muito larga, e a proteção parecia meramente decorativa; as barras eram espaçadas e finas, sem pontas no topo que pudessem machucar um intruso. Ainda assim, havia um portão, e Amanda sorriu levemente ao terminar a divagação fechando-o novamente.

Aproximou-se da porta. Era escura e escovada, levemente envernizada, com uma maçaneta cúbica que fez Amanda levantar as sobrancelhas, impressionada. O único detalhe encravado na madeira com precisão e majestade era um opaco minério hexagonal --- símbolo da medicina. Aquele era azul, e Amanda sabia o que ele fazia. Aproximou a mão dele, esperando que o frio daquele quase fim de tarde de céu sépia passasse, pelo menos em uma parte do corpo. Nada aconteceu, e ela voltou a cruzar os braços ao se lembrar de que o minério precisava ser rachado.

Vasculhou a área rapidamente, percebendo dois castelos ao todo: um próximo ao dela, que parecia ser o que ela vagamente lembrava do castelo de Gustavo. Outro, muito menor e mais longínquo, movia-se vagarosamente, quase saindo de vista no horizonte alaranjado. Olhou em volta e não viu coisa alguma se mexendo. Devia ser um transeunte; talvez até mesmo um dos idosos da esquina passada.

Amanda sentiu-se um pouco nervosa ao pensar que poderia acabar encontrando o pai de Gustavo mais uma vez. Balançou a cabeça, tentando fazer cair a própria agonia. Não havia por que ficar nervosa, afinal. Gustavo apareceu à porta depois que Amanda se anunciou.

--- Oi. --- Disse ele, apertando os olhos. --- Não esperava ver você aqui.

--- E você não viu meu castelo antes de abrir a porta? --- Perguntou ela, sorrindo.

--- Bem, na verdade... Na verdade sim. Mesmo assim não esperava ver seu castelo por detrás da porta.

--- É, bem... Eu vim de surpresa.

--- Como sabe onde eu moro? --- Perguntou ele, em uma mistura de curiosidade e desconfiança. --- Perguntou ao seu pai?

--- É, perguntei. --- Ela olhou para o lado de dentro, pensando que provavelmente admiraria mais o interior da casa do que o exterior. Contraiu os lábios e olhou para o mago com outro sorriso melindroso. --- Não vai me convidar para entrar?

--- Ah... Claro. Entra.

Amanda viu-se dentro de um cômodo que combinava com artística maestria luz e escuridão. A base de todas as paredes era coberta por tábuas uniformes de madeira escura; na parte de cima um amarelo decidido era adornado por pares de minérios verdes e beges que enchiam o teto com uma dança estática de paz. Havia uma lareira de corvônia que se destacava de uma das paredes, sem fogo. De frente para ela ficava um sofá da mesma cor da madeira nas paredes, e um tapete vermelho e caramelo seco e raso, mas cheio de motivos circulares e espirais.

A Aliança dos Castelos OcultosOnde histórias criam vida. Descubra agora