Capítulo 25 - Mina de Prata

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O quinto dia de viagem começou com nuvens negras, ameaçando uma chuva que nunca começava. Apesar do presente da velha mulher --- que ainda deixou que dormissem na varanda dos fundos da casa, voltada para os arrozais --- nenhum deles sentia-se verdadeiramente à vontade. A viagem drenava suas forças, e Fjor procurava manter a mente ocupada para não se irritar por antecipação. Se deixasse a cabeça à deriva, ele logo estaria prevendo a decepção de não conseguirem nada depois de terem passado dias na estrada.

Uma chuva fina começou a cair, e os peregrinos nada puderam fazer a não ser seguir em frente. Não podiam parar, e não havia nada com o que se proteger sem se cansar mais e diminuir o passo. Passaram através de algumas outras jirs à margem do Rio Noroeste, mas não tentaram mais a sorte com a hospitalidade de Dun-u-dengo.

A noite chegou quando estavam quase aos pés do pico mais ao leste do Triângulo Seco dos Rios, um vasto campo entre três montanhas. A passagem por entre as duas do norte levava ao centro de Dun-u-dengo, enquanto que o centro de Jinsel ficava próximo à do sul.

Dormiram preocupados. Puseram roupas secas, a comida bastava e a chuva dera uma trégua, mas nada lhes garantia que o céu continuaria tranquilo.

Acordaram no mesmo horário de sempre, e com o mesmo humor da noite anterior, especialmente em relação ao prognóstico climático. Antes do meio-dia chegaram a uma bifurcação na estrada. Avistaram a Fortaleza Leste de Dun-u-dengo, um largo castelo marrom no qual a estrada à direita, que ia para o Norte, esbarrava. O caminho deles estava ao sul, desimpedido. Almoçaram e continuaram o percurso. Não pararam para mais nada, e raramente viam outros viajantes. Uma vez apenas viram dois homens magricelos, com casacos azul-bebê rasgados e pálpebras pesadas, caminharem com bengalas na direção contrária. Olhares constrangedores foram trocados, mas foi tudo. De resto só charretes indo e vindo, algumas mais tortas e desequilibradas --- as que geralmente tinham mais pressa --- outras decoradas, altas e pacientes.

Perto da noite a chuva caiu mais uma vez, com ainda mais força. Procuraram uma árvore com uma copa mais avantajada, e pararam ao encontrar alguns cedros, vizinhos de um bosque de pinheiros finos, rodeados por arbustos e azevinhos. Dormiram protegendo-se o quanto podiam da tempestade da madrugada.

Foi apenas no outro dia que os sorrisos surgiram novamente entre os músicos. Depois de comerem a última fatia de pão --- embebida na polpa cremosa do último dos doces marrons que haviam trazido --- recomeçaram a caminhada. A montanha sul do Triângulo figurava-se bem maior quando eles viram uma casa.

Ela parecia abandonada; o capim crescia em volta das paredes, que já não eram bonitas: retas e simples, pintadas com um amarelo sujo e irregular, as janelas pareciam como que buracos mal planejados e mal abertos em lugares que simplesmente não pareciam sob qualquer perspectiva ser os certos.

Começaram a correr, loucos de expectativa; pararam em frente à casa no momento em que uma mulher fechava a porta e saía. Ela mancava usando um vestido decotado que ia até o joelho --- um tipo raramente visto em Novo-u-joss. O cabelo, desarrumado e sujo, combinava com um rosto mortalmente enjoado.

--- Com licença... --- Disse Beneditt, preenchendo o silêncio que ficou com o primeiro contato. --- Chegamos a Jinsel?

A pergunta ficou sem resposta, já que a mulher foi embora, caminhando em direção ao mato do lado direito da estrada. Passou pelo meio do grupo enquanto uma lágrima descia pelo rosto.

--- Que recepção... --- Comentou Leo, incrédulo.

--- Estamos ou não em Jinsel? --- perguntou Beneditt.

--- Sim, definitivamente estamos. --- respondeu Fjor, olhando para o mapa.

Seguiram em frente. Não viram mais nenhuma jir: apenas terras pouco cultivadas ao lado de casas, esparsas umas entre as outras. A estrada era levemente curva, cobrindo toda a face oeste da montanha referência da cidade. Passaram a ganhar mais confiança quando viam mais trabalhadores simpáticos e receptivos à medida que avançavam. Nenhuma cidade é bela na fronteira mesmo, pensaram.

A Aliança dos Castelos OcultosOnde histórias criam vida. Descubra agora