O quinto dia de viagem começou com nuvens negras, ameaçando uma chuva que nunca começava. Apesar do presente da velha mulher --- que ainda deixou que dormissem na varanda dos fundos da casa, voltada para os arrozais --- nenhum deles sentia-se verdadeiramente à vontade. A viagem drenava suas forças, e Fjor procurava manter a mente ocupada para não se irritar por antecipação. Se deixasse a cabeça à deriva, ele logo estaria prevendo a decepção de não conseguirem nada depois de terem passado dias na estrada.
Uma chuva fina começou a cair, e os peregrinos nada puderam fazer a não ser seguir em frente. Não podiam parar, e não havia nada com o que se proteger sem se cansar mais e diminuir o passo. Passaram através de algumas outras jirs à margem do Rio Noroeste, mas não tentaram mais a sorte com a hospitalidade de Dun-u-dengo.
A noite chegou quando estavam quase aos pés do pico mais ao leste do Triângulo Seco dos Rios, um vasto campo entre três montanhas. A passagem por entre as duas do norte levava ao centro de Dun-u-dengo, enquanto que o centro de Jinsel ficava próximo à do sul.
Dormiram preocupados. Puseram roupas secas, a comida bastava e a chuva dera uma trégua, mas nada lhes garantia que o céu continuaria tranquilo.
Acordaram no mesmo horário de sempre, e com o mesmo humor da noite anterior, especialmente em relação ao prognóstico climático. Antes do meio-dia chegaram a uma bifurcação na estrada. Avistaram a Fortaleza Leste de Dun-u-dengo, um largo castelo marrom no qual a estrada à direita, que ia para o Norte, esbarrava. O caminho deles estava ao sul, desimpedido. Almoçaram e continuaram o percurso. Não pararam para mais nada, e raramente viam outros viajantes. Uma vez apenas viram dois homens magricelos, com casacos azul-bebê rasgados e pálpebras pesadas, caminharem com bengalas na direção contrária. Olhares constrangedores foram trocados, mas foi tudo. De resto só charretes indo e vindo, algumas mais tortas e desequilibradas --- as que geralmente tinham mais pressa --- outras decoradas, altas e pacientes.
Perto da noite a chuva caiu mais uma vez, com ainda mais força. Procuraram uma árvore com uma copa mais avantajada, e pararam ao encontrar alguns cedros, vizinhos de um bosque de pinheiros finos, rodeados por arbustos e azevinhos. Dormiram protegendo-se o quanto podiam da tempestade da madrugada.
Foi apenas no outro dia que os sorrisos surgiram novamente entre os músicos. Depois de comerem a última fatia de pão --- embebida na polpa cremosa do último dos doces marrons que haviam trazido --- recomeçaram a caminhada. A montanha sul do Triângulo figurava-se bem maior quando eles viram uma casa.
Ela parecia abandonada; o capim crescia em volta das paredes, que já não eram bonitas: retas e simples, pintadas com um amarelo sujo e irregular, as janelas pareciam como que buracos mal planejados e mal abertos em lugares que simplesmente não pareciam sob qualquer perspectiva ser os certos.
Começaram a correr, loucos de expectativa; pararam em frente à casa no momento em que uma mulher fechava a porta e saía. Ela mancava usando um vestido decotado que ia até o joelho --- um tipo raramente visto em Novo-u-joss. O cabelo, desarrumado e sujo, combinava com um rosto mortalmente enjoado.
--- Com licença... --- Disse Beneditt, preenchendo o silêncio que ficou com o primeiro contato. --- Chegamos a Jinsel?
A pergunta ficou sem resposta, já que a mulher foi embora, caminhando em direção ao mato do lado direito da estrada. Passou pelo meio do grupo enquanto uma lágrima descia pelo rosto.
--- Que recepção... --- Comentou Leo, incrédulo.
--- Estamos ou não em Jinsel? --- perguntou Beneditt.
--- Sim, definitivamente estamos. --- respondeu Fjor, olhando para o mapa.
Seguiram em frente. Não viram mais nenhuma jir: apenas terras pouco cultivadas ao lado de casas, esparsas umas entre as outras. A estrada era levemente curva, cobrindo toda a face oeste da montanha referência da cidade. Passaram a ganhar mais confiança quando viam mais trabalhadores simpáticos e receptivos à medida que avançavam. Nenhuma cidade é bela na fronteira mesmo, pensaram.
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A Aliança dos Castelos Ocultos
FantasyNa série Controlados, a magia está em todo lugar. Os magos podem alterar os seus sentimentos, os seus pensamentos ou comandar as suas atitudes. Não se pode confiar em ninguém. No primeiro volume da série, A Aliança dos Castelos Ocultos, Heelum está...