Capítulo 17 - O Conselho

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A erma região do centro de Heelum era composta por um conglomerado de colinas e árvores que, acreditava-se, era inabitado. Ainda que ninguém morasse ali, o lugar era usado como passagem: das Montanhas Iarna nascia o Rio Joss, pelo qual desciam de barco aqueles que viessem da Cidade Arcaica com destino a Kerlz-u-een. Era também um atalho, ainda que não claramente definido, para Imiorina; podia-se chegar à cidade do deserto pelo norte, através de uma longa estrada a partir de Enr-u-jir, mas aqueles com pressa tinham a aventura como a opção mais adequada. Esse era o caso de alguns magos que, pagando um pouco a mais, eram deixados logo na outra margem do rio, e adentravam um espaço longo e solitário que qualquer um preferiria evitar. Aqueles que permaneciam na embarcação observavam, meditativos, as reservadas figuras que se dispunham a seguir aquele caminho, e concluíam que eles deveriam ter uma boa razão para fazê-lo.

De fato tinham. Desmodes seguia apressado rumo às Montanhas dos Oniotos. A charrete seguia por um estreito vale em que o chão tinha marcas de rodas e cascos; a trilha ladeava verdes campinas, oliveiras cujas folhas mais baixas tinham frágil aspecto e eventuais coelhos e raposas. O caminho seguia sinuoso, mas mantinha-se relativamente reto rumo ao centro das altas montanhas. Na última meia hora de trajeto observadores ficavam escondidos, camuflados em uma mata um pouco mais fechada, para evitar que estranhos seguissem o caminho até o final. Desmodes não era um estranho para eles.

Agora o caminho era de subida, mas os yutsis não pareciam abalados; seguiam firmes por uma terra já sem vegetação. Logo já era possível perceber o quão alto era o lugar: o tablado curvo de toda região ao leste aparecia ao longe.

Desmodes seguiu em frente e passou por uma abertura entre duas paredes rochosas. Entrou em uma gigantesca planície completamente cercada pelas montanhas. Um suntuoso castelo fora construído próximo à entrada, com colunas frontais exibindo ricos e complexos detalhes em prata e uma torre de três andares, no canto mais distante da entrada, para que pudessem observar as terras mais baixas, situadas após um desnível: um acampamento militar, com cerca de duzentos homens de prontidão, entre soldados e oficiais. Aquele era o exército do secreto Conselho dos Magos, e o castelo servia de reunião e quartel general do Conselho, além de residência para qualquer mago membro do Conselho que quisesse ficar ali.

Desmodes parou a charrete. Desceu dela e, sem esperar por alguém que viesse tirá-la dali primeiro, entrou no castelo.

A sala de entrada era ampla, alta e principalmente vazia; uma câmara escura em que as luzes das janelas, uma a cada lado da porta principal, lançavam raios espectrais sobre um chão de pisos azuis. Havia uma entrada à esquerda e uma à direita, sem portas, e uma escada de pedra cor de bronze em cada parede subjacente, ambas convergindo para o segundo andar. De lá vieram Igor e Ramos. Este, um homem mais velho e carismático com alguns fios grisalhos no preenchido couro cabeludo e alguns fios negros na aguda barba cinza --- e nenhum dos fatores dava a entender que perdera o viço de sua juventude. Aquele, um sujeito baixo com um peculiar bigode espesso, trazia na boca dentes irregulares e espaçados.

--- É Desmodes, não? --- Perguntou Igor, com um sorriso que parecia ser torto devido a uma desfunção de ótica.

Desmodes era novo no conselho; era natural que alguns magos não lembrassem seu nome.

--- Sim, de Jinsel. --- Respondeu ele. --- Vocês são Igor e... Ramos.

--- Certo. --- Disse Igor, enquanto Ramos confirmou com um aceno. --- Está voltando de onde? De Jinsel?

--- Vim de Enr-u-jir. Já estão todos aqui?

--- Quase... Só esperando por Lucy, agora que você está aqui. --- Igor passou a olhar para algum lugar fora do castelo. --- Cremos que ela chegará em breve.

A Aliança dos Castelos OcultosOnde histórias criam vida. Descubra agora