Capítulo 20- Lullaby

767 41 12
                                    

"Ela gostava de tulipas, mas era alérgica a elas. E por mais que houvessem tantas outras flores em seu jardim, não adiantava, ela sempre se pegava observando e tocando naquele mal que a fazia tão bem." Marcos Felipe.

Quanta vezes você já pensou em jogar tudo fora? Fazer as malas e sumir... Sumir de sí, dos problemas e da falta de um todo. Se reencontrar em outra história, trilhar um novo caminho, viver uma nova vida onde suas feridas não sangrassem mais. Quantas vezes?

Se a pergunta fosse para Regina, a resposta seria milhares de vezes, tantas vezes quantas seu coração bateu no ultimo minuto. Tantas vezes quantas se olhou no espelho e pediu, em silencio, socorro. Ainda assim foram mais vezes que essas, muitas mais.

E em todas elas falhou.

Falhou pois já não era mais sobre fugir das coisas ao seu redor, do mundo que a olhava com pena, da família que sofria. Disso era fácil fugir. Mas Regina queria fugir de sua sombra, seu eu machucado, suas marcas permanentes e suas escolhas erradas.

Mas quem consegue se enganar por muito tempo? O coração grita, o espelho escancara a sombra fica. E é sempre uma tentativa falha.

Aquele choro era um grito, um grito da realidade lhe chamando e lhe mostrando que é sim muito mais fácil fugir, virar as costas e se afogar em sentimentos. Aquela copia de seu antigo passado lhe esfregava na face o quão fraca havia sido e que deveria ter lutado, mesmo quando a guerra parecia estar perdida.

O peso em seu coração se apertou e como veio foi-se, o anjo de olhos verdes a encarava, a pureza escorrendo por cada veia e transbordando no pequeno coração. O choro finalmente havia parado. E ele apenas a encarava. E por mais machucados não cicatrizados que a morena ainda tivesse, das vezes que os sentiu sangrar, aquela fora a única que enxergava, em curiosos verdes, um caminho de volta para casa.

-Eu tô com tanto medo. -Seus olhos se voltaram para onde o loiro estava. -Eu se quer sei trocar uma frauda, eu... eu nunca peguei um bebê nos braços antes.

-A pratica leva a perfeição... -Divagou voltando-se para o pequenino.

-Frase feita, Regina? Serio...

-Você sabe o quão difícil é isso para mim? -Sua voz não passava de sussurros. -Minhas feridas estão sangrando, e teu filho permanece nos meus braços, não me pede mais que isso. -respirou fundo. - Não hoje.

-Regi...

Lentamente a mulher sentou-se no sofá e ajeitou o pequeno em seus braços, voltou-se para Robin e entrelaçou suas mãos.

-Eu sei que não estávamos juntos e que eu não posso. -olhou para suas mãos. -Que não posso te cobrar nada, muito menos te fazer escolher. Mas se coloca na minha situação, por um segundo olha do meu ponto de vista e tenta me entender.

-Eu entendo, e eu me odeio por estar te fazendo sofrer. -Uma lagrima solitária desceu dos olhos da morena que se aproximou do loiro roçando seu nariz na bochecha dele.

-Eu gosto muito de você, Robin, eu amo o que você faz comigo e como você me da vida, mas eu tenho muito medo de todos os sentimentos que me rodeiam. -As lagrimas voltaram para seus olhos. -Quando você me diz que quer ficar do meu lado, e ajudar com que a bomba não exploda, isso mata os monstros que ameaçam renascer dentro de mim, e isso por um momento me faz querer ficar também. Ficar do seu lado, ficar com seu filho. Ficar...

Os olhos castanhos procuraram pelos olhos azuis e ela sentiu seu peito doer ao ver que sua calmaria não estava lá.

-Eu não vou pedir que você fique. -As mãos entrelaçadas voltaram a se apertar. -Mas eu queria muito que você ficasse. -A respiração pesou. -Não por pena, gratidão ou qualquer coisa do tipo. Não quero que você fique porque eu fiquei, mas sim porque você acredita na gente e quer ficar.

EssenceOnde histórias criam vida. Descubra agora