Essence

Capítulo 27- Preto e Branco

"Você é colorida, e eu sou preto e branco."

-...Lúpus. -A palavra se repetia em sua mente vezes seguidas. Ela conhecia bem a doença, cursava oncologia. E era assustador conhecer tão bem algo que dominava seu corpo, e se sentir impotente diante disso.

As paredes brancas perderam mais um tom, as palavras difíceis e o diagnostico, no seu ponto de vista, desnecessário se quer eram ouvidos.

Ela estava morrendo.

Suas cores iriam se apagar.

Seu eu se perderia, e suas conquistas? Quem se quer lembraria que um dia ela havia existido?

Seus olhos caíram sobre a aliança de noivado... E suspirou. Quem daria a noticia a ela?

-Quando podemos começar o tratamento? -Perguntou o loiro que a todo instante permanecia firma ao seu lado, segurando sua mão.

-Eu estou morrendo! -Afirmou antes que o medico tivesse a chance de responder. -Não haverá tratamento.

-Não, você não está.

Mas ela estava, ela sabia... ela sentia.

-Eu não vou discutir isso com você. Eu já não a trouxe comigo para não haver esse tipo de discussão. -Ambos respiraram fundo e se fitaram. -Não diga para alguém que estuda oncologia quais são as suas chances. -Suas mãos se fecharam sobre bolsa e uma ultima vez puxou o ar antes de se levantar. -Eu conheço esse olhar, Dr.Hernandez, eu o vejo todos os dias no meu estagio. Médicos e mais médicos respirando fundo procurando palavras para poderem acabar com a vida de alguém.

-Sempre há chances Srta...

-Não quando vocês oferecem o olhar que o senhor me ofereceu. Não quando eu venho a meses ignorando os sintomas e repetindo para mim mesma que é apenas estresse. Não quando eu não quero passar o resto dos meus dias tentando me curar de algo incurável. Para mim não há chances.

Nada mais foi dito... nada precisava ser dito. Ambos queriam contraria-la mas eles sabiam que por pior que fosse ela tinha razão.

Suas mãos soavam frio e lagrimas escorriam pelos lindos olhos verdes. Quanto tempo ainda tinha? Quais órgãos haviam sido atingidos? Sua cabeça girava perdida em meio as memorias dos inúmeros livros que havia lido sobre algo tão cruel, surpreendente e indecifrável. Uma doença com um difícil diagnostico mas capaz de levar alguém a óbito em simples três meses... Seria esse seu prazo final? Seu corpo tremia e as certezas que antes possuia pareciam evaporar por cada canto de seu corpo.

Seu corpo, a quem tanto amou e se dedicou, a quem aceitou mesmo quando, na adolescência, não achava perfeito. Seu corpo, sua morada, seu ponto de refugio, de prazer e de calma... Hoje seu pior inimigo.

-Lern...

-Não fala nada não, só me abraça. -Em sua mente ainda se passava as inúmeras coisas que ele queria dizer para ela. Suas mãos coçavam só de pensar na possibilidade de a agarrar pela cintura, joga-la nas costas e adentrar novamente aquele ambiente... Seu coração doía só com a possibilidade de perde-la... Mas quem o culparia? Ela era sua pessoa, seu eu em outro corpo. O melhor e mais lindo ser humano que ele tivera o privilegio de conhecer.

-Você não pode me deixar, Lauren Michelle. Como eu vou viver sem a minha pessoa? -Verdes no azul. Lagrimas em ambos universos. -Como vou terminar a nossa lista sem você...? Ainda temos tanto para fazer...