29- Inconsistências

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"Aquele que luta com monstros deve cautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você." -- Friedrich Nietzsche.

Os raios de sol invadiam o quarto pouco a pouco. Seus olhos fitavam o mar de prédios e casas a sua frente. O café esfriava em suas mãos e os acontecimentos do dia interior não saiam de sua mente. Na verdade nenhum dos últimos dias saia de sua mente.

Era confuso como as coisas aconteciam e "desaconteciam" na sua vida nos últimos tempos. Como de furacão passava à calmaria, de incertezas à verdades absolutas... Ela se sentia desgastada, frustrada, amuada... Cansada.

Era uma roda gigante de eternas inconstâncias.

-Regina? -um longo suspiro saiu de seus lábios. -Acordou cedo...? -Ela negou.

-Não dormi...-Seus braços envolveram os dela e a morena se deixou relaxar naquele porto seguro. -Eu não sei o que anda acontecendo comigo. As coisas parecem estar nos eixos, mas minha mente não acompanha isso. Deus isso é cansativo demais. -O loiro a apertou mais e mais entre seus braços e ela se deixou sentir protegida. -As vezes me vem uma vontade louca de desisti de tudo, me perder no mundo e esquecer até meu próprio nome. Me tornar cinza e deixar que todos esses sentimentos me consumam sem que eu precise lutar para provar que sou mais forte que todas as minhas desistências. Porque eu não sou, e eu sinto como se fosse uma batalha a qual não vou vencer no final do dia.

-Amor...

-Eu não paro de pensar nos últimos dias e no quão egoísta eu fui, não só com você mas com tudo que me rodeia. Acho que isso me atormenta ainda mais. -Robin suspirou pesadamente, ele sabia que essas crises viriam mais cedo ou mais tarde. E sabia que teria que ser o lado forte dos dois.

-Nos sabiamos que haveriam dias bons, e dias ruins. Mas você é mais forte que todos esses dias de inverno... E eu, Zelena, Benjamin e toda sua família estamos aqui para te colorir quando o cinza tentar te dominar. -Ela abriu um meio sorriso. -Eu sei que essa sua crise repentina tem a ver com os últimos dias... Eu não quero que se sinta culpada, não quero nem que volte a pensar sobre isso.

-Na calada da noite o temporal desaba pela minha cabeça e todas as coisas caem uma a uma sobre mim. No meio da madrugada, perdida nos diversos tons de branco do teto, eu percebo que qualquer mínimo acontecimento é o suficiente para desencadear toda tempestade que me habita. -Ela se virou em direção a ele e fitou seu oceano particular. -É devastador mas no amanhecer do dia eu vejo motivos pelos quais devo sobreviver. -Ele tocou em seus cabelos e deixou-se sentir cada palavra que saia de seus lábios, deixou-se perder nas entrelinhas de tudo que ela dizia.

Regina sempre fora um enigma, quando começou a ser desvendado mais surpreendente ficava. As páginas rasgadas se expondo de uma forma sem igual. Ali era mais um dos inúmeros momentos onde ele via sua alma desnuda, sem filtros.

E por mais que gostasse de acreditar que ela estava em evolução, via em momentos como aquele e fúrias como a dos últimos dias o quão frágil e a beira do precipício ela ainda permanecia.

-A gente só tem uma vida, amor, e devemos viver cada segundo da melhor forma possível. -Ela concordou com a cabeça. -Quando a madrugada te assombra me abraça, me acorda. Mas não se deixe perder nos seus monstro, nas suas angustias. Eu sei que longe de casa as coisas pioram mas eu ainda estou aqui totalmente disposto a segurar a sua mão e transformar dias cinzas em ensolarados. -Ela sorriu e selou seus lábios. -Vamos partir de onde estávamos, terminar o que viemos fazer por aqui e voltar para StoryBrooke. Lá os dias vão ser melhores e vamos superar tudo que tiver para ser superado.

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