Capítulo 36 - Um pouco mais de tempo

516 37 10
                                    


–Ela foi embora... -A voz embargada pelo choro saia como sussurros. –Levou tudo... -Os olhos claros iam perdendo o foco, e os diversos tons de azul se derramavam junto às lágrimas a deixando cinza. –tudo.

Quantos segundos cabem dentro de uma escolha?

Quantas escolhas antecedem uma partida?

Quantas horas cabem dentro de um minuto?

De um olhar?

De um momento?

Quantas?

–Os víneos sumiram da prateleira, e todas suas roupas do armário... -seu corpo, cansado, reencostou-se na pilastra e escorregou rumo ao chão gelado.

Quanto custa seguir sua própria jornada?

A perda de um amor?!

Uma família?!

Certezas?!

E não segui-la?

Os primeiros raios de sol invadiam o céu. Eram por volta dás 6:00am de uma quarta-feira, e todas as chances de que aquele dia fosse ser tão tranquilo como todos os outros, escorria pela pilastra junto à Zelena.

Seus braços envolveram o corpo da mais velha que soluçava. Uma fraqueza que ela jamais havia visto na irmã... uma franqueza sua, que doía na alma.

–Oh meu amor... -O que dizer? Nem todas as palavras desse mundo a consolaria. –Onde está o Theo? -Perguntou calma.

–No carro... -suas palavras não passavam de sussurros. –Eu não queria que ele me visse assim.

–Eu vou buscá-lo, vamos entrar e quando você estiver mais calma conversamos. Pode ser? -a mais velha concordou com um breve aceno. –Vem, levanta.

Haviam se passado duas semanas desde a conversa com Mary. Duas semanas desde a chegada de Theodoro. Duas semanas que

as coisas pareciam entrar em curso outra vez. De repente a vida não parecia correr por entre seus dedos. De repente ela não se sentia mais assustada, sentindo o tempo passar e a doce agonia de estar em desvantagem a atingir. De repente tudo ficaria bem no final do dia...

Ou não, e essa era a graça da vida.

O menino de longos cabelos loiros dormia abraçado a um urso de pelúcia, alheio ao tormento que acontecia ao lado de fora. Com toda delicadeza que possuía, Regina, tirou-lhe da cadeirinha e o ajeitou em seus braços, batendo a porta em seguida. Passos pequenos eram dados em direção à entrada enquanto ela se perdia naquele rosto de anjo. Theodoro lhe transmitia uma paz absurda, inexplicável.

A porta da frente bateu e a morena seguiu em direção ao andar superior, tudo permanecia no mais absoluto silêncio. Agradeceu mentalmente. Zelena precisava de toda sua atenção agora. O pequeno anjo foi colocado na cama de um dos inúmeros quartos de hóspedes, e assim saiu deixando a porta entre aberta. O caminho até a sala de estar parecia ter triplicado e sua mente a traia a cada novo segundo, talvez ela não pudesse lidar com o desespero da mais velha, ver Zelena assim doía mais do que era capaz de calcular. Seus passos diminuíram gradativamente e um longo suspiro saiu de sua boca antes de pisar no outro cômodo.

–Ele está dormindo como um anjo. -um breve sorriso surgiu no rosto da ruiva. –Quer me contar o que aconteceu? -Uma sombra de dúvida passou por seus olhos, mas logo desapareceu. Seus dedos se agarram ao copo de vidro e assim ela fechou os olhos se permitindo mergulhar nas últimas horas.

EssenceOnde histórias criam vida. Descubra agora