| A d a m |
Quando finalmente chego em casa, sinto alívio por ter sobrevivido a mais um dia de aula e de treino. Além de estar morto de fome, estou morto de cansaço por conta do treino que durou mais do que realmente deveria.
A primeira coisa que faço é seguir até a cozinha, de onde um aroma maravilhoso de comida vem. Impressionantemente, vejo uma mulher de costas mexendo nas panelas sobre o fogão. Não faço ideia de quem seja, mas uma ladra não chegaria e faria a comida, então sei que ela obviamente trabalha aqui.
Recordo-me de Margot. Essa deve ser Margot.— Olá? — Digo, soando mais como uma pergunta.
A mulher se vira, assustada, mas abre um sorriso quando aparentemente vê que sou eu. Da mesma forma, ainda não a conheço.
— Você é o Adam? — Ela inquire com a voz serena, sentando-se em um dos bancos em frente ao balcão.
— Sim. Você é a Margot?
— Sim, cuidadora da Nina. — Ela se apresenta e estica sua mão acima da extensão da ilha em forma de comprimento.
— Ah, sim. É um prazer.
— Enfim, eu espero que você goste de macarrão. Nina não come muitas coisas além disso e eu não faço muito além disso, porque é fácil, prático, rápido e meu conhecimento culinária é bem limitado.
— Sem problemas. Na verdade, como de tudo. — Balanço a cabeça e pego um copo de vidro no armário.
— Ótimo, menos mal! — Ela suspira alívio. — Eu sei que, possivelmente, Victória já falou com você sobre Nina, mas se importa de termos uma conversa? — Ela indaga gentilmente.
— Não, sem problemas. — Sento-me do outro lado do balcão.
— Então, eu sei que Tori comentou que Nina sofre de uma fobia social que tornou pior com o tempo e isso atrapalha a capacidade de comunicação verbal dela. E como se não fosse o bastante, a bolha da depressão ainda a mantém mais desmotivada e apartada da realidade. — Ela junta os dedos sobre o balcão. — Eu gostaria de te pedir para tentar ser amigo dela. Ela não tem amigos porque é difícil socializar nessa situação, mas não deve forçar. Mas insista. Acho que Nina precisa de alguém insistente, mesmo que ela odeie isso. A maioria das pessoas desiste dela, mas acredito que a insistência leve à vitória.
— Eu adoraria, sinceramente. Devo dizer que ela aparenta ser muito legal. — Eu suspiro.
— Sim, ela é. Nina é uma pessoa maravilhosa e profunda, ainda mais quando a conhece. — Ela sorri. — Antes ela só falava com os pais, mas houve a tragédia com o pai dela e ela só falava com a mãe, mesmo que pouco. O número cresceu quando me tornei a cuidadora dela e depois ela arranjou uma amiga e etc.
— Quantos tempo até ela falar com você? — Deixo a curiosidade falar.
— Seis meses. — Ela abre um sorriso triste. — Ela não dizia mais que três palavras.
— Nossa. — É tudo o que consigo proferir.
— Depois ela passou a falar com a psicóloga. Acho que ela se sentiu mais confortável com a dra. James, porque foram só algumas semanas. Durante o tempo silencioso com a psicóloga, ela fez alguns desenhos e escreveu alguns textos sobre o que a doutora pedia. Ela é uma ótima escritora, Adam. — Ela explica calmamente. — E graças a Deus, ela está se abrindo com seu tio. Cody foi bastante paciente com ela e cuidadoso. Ela já diz algumas palavras.
— Ela disse algumas palavras para mim ontem e hoje. Não foram grande coisa, mas significativas. — Murmuro. — Acho que significou muito para mim.
— Isso é incrível, Adam. Isso é realmente bom. — Ela suspira em felicidade.
— Eu posso fazer uma pergunta?
— Manda. — Ela se levanta para mexer no que seja o que for que estiver no fogo.
— Se houvesse um livro que me fizesse entender a situação dela, qual seria? Já que ela é fissurada em literatura.
— Ah, tem um que é muito bom! Ele é bem grande, mas vale à pena. É um dos livros favoritos da Nina e para você entender bem a situação dela, seria melhor se você lesse o livro que ela tem, por conta do que está marcado. — Ela diz, ainda de costas.
— Ela me emprestaria? — Franzo o cenho.
— De modo algum! Não esse. — Ela ri com ironia.
— Qual o nome do livro? — Indago calmamente.
— O Demônio do Meio-Dia, eu acho. — Margot dá semicerra os olhos.
— Eu posso comprar um e substituir. Se importa?
— Nem um pouco. Mas quando me comprar, me avise. Eu posso comprar daqui a pouco. Tenho que ir à cidade comprar os remédios da Nina. — Ela sugere gentilmente.
— Eu tenho que comprar algumas coisas na cidade, então eu posso ir por você. — Afirmo.
— Pode levar Nina? A livraria está com desconto e ela precisa de novas sapatilhas de ballet e queria comprar casacos. — Ela diz calmamente.
— Claro, seria legal. Eu irei chamá-la.
— Vou pôr a mesa. — Ela avisa.
Subo as escadas gradativamente, dirigindo-me até o quarto de Nina. Empurro a porta com calma e a vejo sentada no chão da varanda, olhando para fora, com os fones no ouvido, cantarolando. A voz dela é macia, melodiosa e bonita, mesmo que desafinada. Eu nunca ouvi a voz de um anjo, mas tenho certeza que a voz da Nina é o mais semelhante de uma. É estranho como ela não canta bem, mas canta bem. Eu conheço a música que ela está cantando e é Ed Sheeran. Ele é demais. Ela cantarola Lego House da forma mais sem jeito e sem saber bem a letra, mas é bem melhor que o Ed Sheeran jamais faria.
A ouço cantar por um tempo, até ouvir Margot nos chamar. Havia perdido a noção do tempo.
— Nina? — Chamo seu nome, mas ela não responde. Provavelmente não ouviu.
Levanto-me da sua cama e caminho até ela. Toco seu ombro para chamar sua atenção. Ela olha para mim com os olhos arregalados.— Você quer ir à cidade? — Questiono. — Margot disse que você tem que comprar sapatilhas, livros e casacos. Eu estou indo lá agora e gostaria de saber se você quer ir. — Sugiro na esperança dela aceitar.
Nina balança a cabeça negativamente.
— Sério? Tipo, um dia com livros pela metade to preço? Você vai comprar o dobro! — Tento parecer convincente e espontâneo.
Nina hesita por alguns segundos de olhos semicerrado. Ela solta um suspiro longo e assente.
— Um programa de melhores amigos? — Arqueio as sobrancelhas e acabo por dizer de forma engraçada. Ela ri.
Puta que pariu. Sinto calafrios. Todo o meu corpo oscila.
— Você deveria sorrir mais. Seu sorriso é incrível. — A olho, totalmente encantado.
Meu Deus, de todas as coisas que eu já presenciei em toda a minha vida, eu nunca vi algo tão lindo. A forma como seu rosto se contrai e os seus lábios rosados se curvam e seus dentes brilhantes expressam sentimento e seus olhos se fecham levemente de uma forma amável e sua cabeça se inclina para trás e seu corpo treme. De verdade, é lindo. Não é só o sorriso mais lindo que eu já vi; É a cena mais linda que eu já vi.
Suas bochechas ruborizam fortemente e sinto sua vergonha quando ela abaixa sua cabeça levemente, deixando seu cabelo negro grosso cobrir seu rosto.
— Vamos almoçar. — Sorrio, e estico minha mão para que ela a pegue para se levantar.
Nina assente e pega em minha mão. No exato momento em que ela faz isso, todo o meu corpo estremece e se arrepia. Um choque corre por toda a extensão do meu corpo e meus olhos encontram os dela. Ela entreabre os lábios e retira sua mão rapidamente da minha, fazendo-me perceber que aconteceu o mesmo com ela. Que ridículo. Isso não devia acontecer só em livros e em filmes? Por que diabos ocorreu na vida real? Mas que merda esquisita.
Estranho.
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O Silêncio Entre Nós
RomanceHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...