38 | Day 3.

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Nina saiu mais cedo hoje de manhã e eu ainda não a vi. Estou caminhando até a última aula, mais desanimado que nunca; definitivamente triste. E eu lembro que a última vez em que estive triste, foi pela Natalie. E antes disso, só pela minha mãe.
Adentro a sala de aula. Tenho literatura agora e eu finalmente a verei. Nem com Anna encontrei Nina. Estou tentando ficar bem, mas é muito difícil.
Noto que, sobre a mesa da professora, tem muitos tabuleiros de xadrez e uma caixa, que suponho ter peças. Vamos jogar hoje?
Sento-me no fundo, perto de onde ela costuma sentar. Onde, hoje, está vazio. Mas assim que me sento, ela entra pela porta. Parece tão estranhamente triste. Não como geralmente está, mas seus olhos estão profundos e inchados, como se houvesse chorado por muito tempo. As olheiras estão aparentes e meu coração se desfaz. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo e ela está de moletom cinza, que é tão grande, que nem parece que Nina usa shorts por baixo.

Ela não calça meias coloridas hoje.

Nina se senta um pouco longe de mim e eu tento não ligar. Logo, srta. Hale adentra a sala. Ela tem parecido um pouco triste ultimamente.
Eu não tiro meus olhos de Nina. Não tiraria nem se quisesse, mas eu não quero e nem sequer posso. Quero atravessar a sala de aula e abraçá-la. Quero perguntá-la o porquê de ela estar tão acabada dessa forma; isso me destrói.
 
 
⠀⠀— Boa tarde, meus amores. — Ela diz. — Eu fui encher minha garrafa; desculpem-me pelo atraso.
 
 
Ninguém liga muito, só proferimos um uníssono "boa tarde" educado de volta.
 
 
⠀⠀— Então, hoje vamos jogar xadrez. — Ela diz, sentando-se sobre a sua mesa. — Vocês já sabem toda a matéria. Não temos mais livros para ler, interpretações para fazer. Joguem xadrez, conheçam-se e escrevam um sobre o outro. As duplas têm de ser as mesmas das últimas aulas. Vamos todos lá para fora. Cada dupla um pega um tabuleiro e depois eu dou as peças. — Ela afirma, pegando sua bolsa e a caixa, e saindo da sala.
 
 
Eu hesito em me aproximar de Nina, mas eu o faço. Ela não olha para mim, só caminha até a mesa e pega um tabuleiro. Eu só a sigo calmamente até lá fora, onde ela se senta sobre a grama e põe o tabuleiro à sua frente. Sento-me do outro lado, de pernas cruzadas, assim como ela. Mas nada; Nina não diz nada.
Emery passa entregando as peças e nós as arrumamos. Ela escolhe as peças pretas e eu, as peças brancas. Irônico.
 
 
⠀⠀— Oi. — Eu digo quando ela começa movendo um peão do meio. Nina não responde, então eu movo um cavalo. — Desculpa por ontem. Você está bem? — Eu suspiro. Nina olha para o meu rosto pela primeira vez hoje e sua expressão é de uma óbvia resposta: não.

⠀⠀— Cheque. — E a única coisa que ela diz depois de sete jogadas. Ela é rápida e eu não sei como mudar o cheque. Estou cercado. Movo minha rainha em direção à sua torre e Nina revira os olhos. — Cheque-mate.

⠀⠀— Touché. — Ergo as mãos no ar.

⠀⠀— Jogo errado. — Ela diz.

⠀⠀— Desculpa. Eu não queria ter te assustado ontem, Nina. Pode falar comigo? — Eu peço.

⠀⠀— Não quero falar sobre aquilo. — Sua voz é fria e baixa.

⠀⠀— Precisamos falar daquilo. É importante, Nina. — Eu aproximo a mão do seu rosto, mas ela se afasta.

⠀⠀— Não, Adam. Não pode gostar de mim. Você nem me conhece. Eu sou uma bagunça. — Sua voz se torna embargada, tão frágil como vidro. Eu sei que ela vai chorar e não quero isso.

⠀⠀— Não fale assim. Claro que eu conheço. — Eu suspiro. — Por isso que eu gosto de você.
 
 
Ela não responde, só se levanta, apressada e sai andando por entre as pessoas. Não hoje; não agora. Agora não, Nina. Eu a sigo.
 
 
⠀⠀— Pare de me seguir. — Ela grita. Está tão confusa e assustada, que consegue falar. Isso é muito, muito irônico e confuso também.

O Silêncio Entre Nós Onde histórias criam vida. Descubra agora