| A d a m |
⠀⠀- O que está fazendo? - Pergunto à Nina.⠀⠀- Costurando minhas sapatilhas. - Ela diz. - Por quê?
⠀⠀- São três da manhã. Acordamos às seis para o primeiro dia de aula. - Digo, sentando-se ao seu lado à beira do lago.
Acordei sem querer e Nina não estava na cama. Olhei pela casa, mas da sala, a vi sentada na beira do lago, bem no deck. Achei estranho que estivesse ali.
⠀⠀- Estou sem sono. - Diz.⠀⠀- Posso ficar com você? - Pergunto.
⠀⠀- Sim. - Ela assente e continua costurando as fitas na sapatilha.
Ficamos em silêncio por alguns minutos.
⠀⠀- Acho que não consigo mais dançar. - Ela olha para mim.
⠀⠀- Balé?
⠀⠀- Principalmente, mas acho que qualquer coisa. - Nina suspira. - Eu rompi tantos ligamentos. Eu... eu fodi meu pé.
Nina disse um palavrão. Não acredito.
⠀⠀- E-eu acabei com ele. Eu não sei se posso subir numa ponta, Adam. Vou ter que fazer fisioterapia e só deus sabe quando vou poder voltar. Quanto tempo eu perco nisso? O suficiente para toda a academia me passar e eu perder qualquer chance de ser bailarina profissional. Não que eu tivesse muita. - Dá os ombros.
⠀⠀- Eu não sei nada sobre balé. Nada sobre sapatilhas de ponta e tutus ou qualquer coisa desse tipo. Eu só sei que você sempre se esforçou o seu máximo pela sua arte. Por que vai parar agora que mais precisa?
⠀⠀- Porque eu não tenho chance.
⠀⠀- Superou o medo de dançar no palco, de dançar na frente das pessoas, de ir para Londres e de tantas outras coisas, Nina. Isso é nada diante de tudo o que você é capaz de derrotar.
⠀⠀- Aquelas meninas passam o dia inteiro na Academia. Elas não saem de lá antes das oito da noite e eu nem vou para a aula todos os dias. Eu sei que sou talento natural, mas eu estaria no Bolshoi se me esforçasse como elas. - Põe as sapatilhas de lado.
⠀⠀- Você é mesmo um talento natural. Você tem o dom, Davis. Você se esforça muito. E vai continuar se esforçando para subir na ponta de novo.
⠀⠀- Ok, mas e se a minha recuperação não for tão consistente como os médicos esperam? Eu nem sequer poderei usar essa ponta que estou costurando e nem o tutu de Esmeralda que eu usaria no Royal Ballet.
⠀⠀- Nina Davis. - Chamo-a. - Vamos à fisioterapia, vamos cuidar do seu pé, vamos costurar mais sapatilhas e você vai usar aquele tutu que fica muito bem em você, diga-se de passagem. Eu sei que sim. Logo estará no Bolshoi e Nina, eu juro, te sigo para qualquer lugar. Qualquer companhia de balé do mundo, seja o país que for. Logo estará na que você sonha.
⠀⠀- Eu quero ir para a o Royal Ballet, mas não sei se consigo pisar em Londres de novo. Era meu sonho de criança; de quando ainda morava lá. - Ela deita a cabeça em meu ombro. - Eu estava tão perto...
⠀⠀- Eu já sou o namorado mais orgulhoso do mundo, agora imagina te vendo no Royal Ballet. - Sorrio. - Você vai dançar de novo, Nina. Fazer aqueles giros que eu fico tonto só de ver e essas outras coisas que não sei pronunciar o nome. - Digo e ela ri.
⠀⠀- Espero que sim. Espero mesmo.
⠀⠀- Eu tenho certeza absoluta, Davis. - Beijo sua testa. - Aliás, não vejo a hora de te ver naquele tutu. Você fica tão bem...
⠀⠀- Você não presta, Collins.
⠀⠀- Eu sou um anjo. - Rio. - Vamos entrar; está frio e temos que acordar em três horas.
⠀⠀- Tudo bem. Vamos.
Eu e Nina entramos e ela termina de me contar seus sonhos que envolvem o balé enquanto termina de costurar o elástico. Dormiu pouco e eu nem consegui dormir direito pensando se ela pode ter razão e seu pé não se recuperar como deve para que volte a dançar. A vida não tem o direito de tirar a dança dela. Não pode tirar isso também. A possibilidade das coisas darem errado para ela de novo me deixa aflito. Queria poder protegê-la de toda a crueldade; de todas essas coisas que não deviam alcançá-la. Ela é boa demais para isso.♡
Esse foi um capítulo curto, mas muito importante, porque fala um pouco sobre o rumo da Nina. Essencial.
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O Silêncio Entre Nós
RomanceHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...