Capítulo 34 - Epílogo

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Eduardo

Eu estava prestes a ter um colapso nervoso.

Onde já se viu ter que pedir a mão da noiva para o pai. Isso é coisa do século retrasado, mas para ver Ana feliz eu faço qualquer coisa. Até pedir a mão dela em casamento para o pai, que diga-se de passagem, não é muito meu fã.

Contudo, tenho que admitir que ele está coberto de razão de não gostar de mim. Eu engravidei a filha dele. Fui responsável por ela abortar nosso filho. Fiz com que ela sofresse horrores por minha causa.

Diante disso tudo, não posso esperar que ele goste de mim. Se fosse minha filha, eu mataria o sujeito que fizesse isso com ela.

Mas eu espero convencê-lo de que a amo. Que nunca mais farei nada que a faça sofrer. Que ela será a mãe dos meus filhos, que serão muitos.

Quero encher a casa de criança. Não quero que meus filhos cresçam como eu, sozinho, sem referência na vida. Quero que eles cresçam saudáveis, felizes e seguros.

- O Senhor quer falar comigo? – Ouço a voz de poucos amigos do pai da Ana falando atrás de mim.

- Sim – falei tentando parecer seguro.

Ele me apontou uma poltrona para eu me sentar e sentou-se na frente. Pode falar disse sem delongas:

- Eu amo sua filha mais do que tudo na vida. Sei que eu a fiz sofrer no passado, que fui um cafajeste, mas eu me arrependo imensamente tudo o que fiz pra ela. Ana é a mulher da minha vida.

Ele continuou em silêncio e impassível e eu cada vez mais nervoso, pois esperava que ele fizesse um sermão de cara, pois assim ficaria mais fácil. Mas como a melhor defesa é o ataque, continuei:

- Nós nos conhecemos há vários anos e sua filha sempre foi uma moça correta e trabalhadora. Começamos a namorar a pouco menos de um ano, mas tenho certeza dos meus sentimentos por ela e por isso estou aqui.

Ele continuou calado e sisudo, sem dizer uma palavra sequer, com a expressão inescrutável e então eu continuei:

- Eu vim até aqui falar com o Senhor para pedir a mão de Ana em casamento. O Senhor me concede essa honra?

Não sei de onde tirei essas palavras. Acho que de algum filme antigo, pois "conceder a hora" foi brega demais, ainda bem que ninguém estava nos ouvindo.

- Seu Eduardo, presumo que o Senhor já tenha falado com minha filha e que ela já tenha aceitado, senão o Senhor não estaria aqui.

Assenti com a cabeça afirmativamente.

- Se eu disser que o Senhor é o genro dos meus sonhos, eu estaria mentindo, pois o Senhor fez minha filha sofrer uma vez e quem me garante que não irá fazer ela sofrer de novo.

Tentei falar, mas ele levantou a mão e eu me calei.

- Se o Senhor se casar com a minha filha, terá filhos e aí saberá porque estou falando isso pra o Senhor. Filho é o bem mais precioso que a gente tem. Não há nada na nossa vida que seja mais importante que nossos filhos depois que eles nascem.

"Ver minha filha naquela cama de hospital por causa do Senhor foi muito difícil pra nossa família, pois somos pobres, mas somos unidos, mexeu com um mexeu com todos."

"Se acontecer alguma coisa com a minha filha por culpa do Senhor, não iremos perdoar e não importa quantos seguranças o Senhor tenha, nós iremos atrás do Senhor. Está claro?"

Balancei a cabeça afirmativamente, pois minha voz não saía, o velho tinha pegado pesado comigo.

- Se o Senhor entendeu e diz que ama minha filha, eu vou autorizar o casamento, mas ele será do nosso jeito. Como pai da noiva, eu banco todas as despesas e quero que seja aqui na nossa cidade, onde Clarinha foi batizada.

Desejos e Mentiras (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora