Capítulo 30

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''Eu só quero que você saiba que eu estou pensando em você agora e sempre mais. Eu só quero que você ouça a canção que eu fiz pra dizer que te adoro cada vez mais e que eu te quero sempre em paz.'' - A Sua (Silva Canta Marisa).

Emma estava em casa, finalmente arrumando a bagunça que eram suas malas em meio ao meu quarto enquanto dividíamos uma salada de frutas. Nós raramente fazíamos aquele tipo de coisa, mas, ela era a única companhia que eu tinha aquela noite. Meu irmão tinha viajado para cidade vizinha a trabalho e só voltaria pela manhã.

- Quem é Miles? – perguntei, ela não parava de falar que precisava achar uma roupa nova para sair com ele no dia seguinte.

- Ele é um DJ – ela comentou – Ele estava tocando no festival que nós fomos na praia. Ele está ficando bastante conhecido, acho que você já deve ter ouvido alguma música dele na rádio.

- Espere, esse não é aquele amigo do Scott?

- Sim – ela sorriu naturalmente puxando um sutiã vermelho de renda transparente da mala – O que você acha de eu usar isso por debaixo da camisa?

- Deus, Emma ele é amigo do Scott! – a encarei.

- Quem é você para me julgar? – ela me olhou com indiferença.

- Eu tenho certeza que foi ele quem apresentou você para esse Miles.

- Sim, mas eu não me importo – ela deu de ombros – Ele também não se importa.

- Como você pode saber disso? Vocês estavam juntos a uns dias atrás e ele não parecia muito bem no casamento sem você.

- Eu nunca estivesse com Scott – ela disparou ríspida com uma risada sarcástica e fraca.

- Não é o que parece...

- Mas é exatamente o que é – ela deu uma garfada em uma das frutas – Eu não sou como você irmãzinha, eu não gosto de me apegar, nunca serei assim e tenho certeza que Scott também não.

Ela voltou seu olhar para mim frio como o gelo, mas no fundo eu sabia que havia uma fachada entre tudo aquilo, não queria acreditar que minha irmã por mais insensível que fosse não tivesse um coração.

- No final das contas ele é exatamente igual a mim – ela comentou por fim – E você teve sorte de Matt ser um doce com você.

Ela cuspiu as ultimas palavras com desdém quase como se tivesse inveja, não pelo o que tínhamos, mas sim por eu ter conquistado ele e ela não. Fingi indiferença, eu estava saturada demais para me atingir por as palavras de Emma.

Ela era minha irmã e eu já tinha me acostumado ao jeito tóxico dela a um tempo, sentia falta da Emma que um dia eu achei que ela fosse, infelizmente compartilhávamos o mesmo sangue e aquilo não poderia ser mudado. Dos meus dois irmãos de longe ela era a mais parecida com meu pai.

Nossa mãe podia ser um pouco insensível as vezes, mas nada se comparava a Emma e ele.

- Scott poderia ser uma pessoa legal para você se você desse uma chance – comentei, em todo aquele tempo eu vinha conhecendo os rapazes da banda melhor e Scott havia se tornado de alguma forma um dos meus melhores amigos.

Ele era uma boa pessoa, mas não tinha consciência daquilo, acabava descontando todas suas frustrações em álcool. O que me deixava triste, ele era jovem demais para acabar daquela maneira. E bom demais para deixar que aquilo acontecesse e ainda assim sempre encontrava um jeito de manter o sorriso e o bom humor no rosto.

Emma não conseguia enxergar quem ele realmente era e o quanto poderia mudar as coisas entre eles se quisesse, mas ela não queria e se queria não tinha coragem o suficiente para aquilo. No final das contas Emma parecia ser forte, mas era mais covarde que eu, e nunca admitiria.

Emma soltou uma risada longa.

- Oh meu Deus – ela levou mais uma fruta a boca tentando controlar sua risada – Você está tão apaixonada que acha que todos podem viver um conto de fadas, minha querida, cuidado a sua queda pode ser grande.

- E você pode perceber que perdeu algo quando for tarde demais.

O sorriso de Emma desapareceu e suas sobrancelhas recém feitas se arquearam como se ela estivesse surpresa.

- Bem vou tomar um banho e dormir, amanhã será um dia longo para mim. Além de me encontrar com Miles tenho que fechar o contrato do ateliê que estou alugando – ela pegou a toalha sobre a cama e sua camisola e saiu do quarto.

Eu me recostei na cabeceira da cama e terminei de comer as ultimas frutas do meu pote. Emma iria se mudar para Califórnia, o primeiro ato de coragem que eu vi em anos vindo dela. Provavelmente minha mãe iria ficar contente com aquilo ou talvez triste, ela não teria mais nenhum de seus filhos em casa por um tempo, pois eu ainda não tinha meu caminho completamente definido.

Meus pensamentos voaram em direção a Matthew, aquela hora o show estaria para começar já se passava das dez da noite. Eu queria poder ter ido, mas, achei melhor ficar em casa e me concentrar nos meus estudos as provas estavam perto e eu não tinha nenhuma noção da matéria nova de gestão financeira.

Levei meu pote e o de Emma para a cozinha os lavei e voltei para o quarto para tentar dormir.


Acordei por diversas vezes e na verdade acho que não tinha nem conseguido de fato dormir. Olhei o relógio já se passava das duas da manhã. Emma havia roubado todo o meu cobertor e eu não queria estar dormindo ali.

A cama não parecia confortável, não se encaixava ao meu corpo e a minha temperatura. Era uma mistura de insônia e solidão inquietante. Sai a passos largos e silenciosos para não acordar Emma e fechei a porta.

Fui até a porta da frente e abri, pois, como de costume estava destrancada. As janelas do quarto de Matthew estavam abertas deixando que a brisa da noite entrasse por elas. Caminhei até sua cama, notando que ele já estava ali deitado de costas coberto por um cobertor fino até o quadril.

Me deitei sutilmente atrás dele sem saber ao certo se ele estava dormindo ou não.

- Katherine – a voz dele saiu baixa e sonolenta.

- Como sabe que sou eu?

- Quem mais seria? – seu corpo se voltou contra o meu e ainda que a luz que entrava pela janela fosse fraca eu podia ver um sorriso preguiçoso em seus lábios.

Eu me aproximei me agarrando ao seu corpo e ele me envolveu com seus braços.

- Achei que você já estivesse dormindo – ele comentou me dando um beijo no rosto enquanto afastava um fio de cabelo da minha bochecha.

- Eu não queria te acordar – voltei meu rosto contra o dele.

- Eu não estava realmente dormindo – ele sorriu e juntou seus lábios nos meus suavemente me arrancando um sorriso – Você está bem?

- Sim, eu só não conseguia dormir na minha cama, não parecia tão confortável como a sua – Matthew soltou uma risada baixa me aconchegando um pouco mais ao seu corpo.

- Claro.

Beijei seu rosto deixando meus dedos acariciarem sua pele, tocando a pequena tatuagem que compartilhávamos em seu pescoço por de trás da orelha.

- Como foi o show? - perguntei.

- Maravilhoso e diferente de tudo que eu já vi, havia muitas pessoas e todos sabiam cantar todas as músicas, eu gostaria que você estivesse lá pra ver – ele respirou fundo relaxado.

- Aposto que haviam milhares de garotas enlouquecidas – brinquei.

- Sim, mas, sabe qual foi a melhor parte? – seus olhos se voltaram para o meu rosto.

- Qual?

- Voltar para casa e ter você nos meus braços e na minha cama – ele sorriu genuinamente fechando os olhos cansados.

Seus lábios tocaram a minha testa em um beijo e eu fechei os meus olhos deixando minha respiração se acalmar lentamente no ritmo da sua finalmente me sentindo confortável o bastante para pegar no nosso. Eu acho que nunca me acostumaria com aquela sensação de me sentir viva e segura perto de alguém como me sentia quando estava com ele.

GREETINGS FROM CALIFOURNIAOnde histórias criam vida. Descubra agora