Hopper tinha mesmo ido embora. Logo após a cerimônia de despedida no Jean Paul Jones. Eu não sei quem seria o próximo Capitão, mas tinha certeza que não seria tão bom quanto ele.
Eu o odiei durante quase todo o meu serviço e agora eu estava sentindo a sua falta como nunca imaginei sentir. Eu era durona, do tipo que não chora por homem e nesse exato momento a única vontade que eu tinha era de ir para o meu dormitório e chorar sozinha.
A dispensa para os seis meses em terra estava quase chegando, só que eu não conseguia me animar com isso. Alguns anos eu realmente ficava feliz e contava os dias para ver as pessoas das quais eu gostava. Mas esse ano eu não estava realmente empolgada. Eu passaria mais seis meses em alto mar tranquilamente, sem reclamar e treinando como uma condenada.
Simplesmente não via motivos para ir até a minha casa, não via muitos motivos para nada na minha vida. Em breve eu seria uma oficial de alta patente, mas e depois disso? O que eu faria da minha vida? Quando me aposentasse não teria ninguém com quem dividir meus anos de descanso, ninguém com quem contar verdadeiramente.
- Não fica assim Em.
- Kat me deixa em paz. Não estou com paciência hoje.
Vi quando ela deu meia volta e fechou a porta atrás de si. Eu precisava daquilo, de um momento sozinha, sem fazer nada além de sentar e pensar.
A partir do dia em que entrei para o serviço militar eu não tive mais tempo para não fazer nada, todos os meus minutos eram minuciosamente ocupados e planejados. Ninguém imagina o trabalho que dá servir o país.
Desde a Segunda Guerra Mundial não se tem nenhuma guerra anunciada, graças a Deus. Porém, as investigações continuam, os treinos continuam, assim como as operações sigilosas para descobrir espiões. Nós continuamos na mesma correria, sem momentos para descansar e as pessoas nem imaginam que enquanto elas estão sentadas em suas poltronas vendo algum programa idiota de reality show, nós estamos aqui, tentando descobrir se não há ameaça iminente.
Um contratorpedeiro é geralmente calmo, mas em épocas de treinamento militar se torna um dos navios mais populosos da frota. Todos devem saber como utilizar as armas disponíveis, como agir quando um míssil não dispara devido a problemas técnicos e principalmente o que fazer quando algo calamitoso for anunciado. É um trabalho em conjunto, algo que só funciona com a dedicação de todos e sinceramente eu estava desanimando disso.
Só em pensar que minha vida seria solitária depois daqui eu já ficava um pouco deprimida. Afinal, quem namoraria uma mulher da Marinha? Com a probabilidade de perder em uma queda de braço para a própria namorada?
Só um homem que vivesse a mesma realidade. O que era expressamente proibido.
Nunca odiei tanto as regras como o fazia agora. Se pudesse voltaria atrás em algumas coisas. Só pelo prazer de revivê-las em minha mente.
Quando pensei que tudo estava finalmente dando certo, Hopper me rebaixou, humilhando e pisando em mim como se não fosse nada. Então eu dormi com ele quando estava bêbada e o fiz abandonar seu cargo de Capitão por um que claramente o colocaria em perigo iminente.
Ou era a rainha do azar ou da má sorte. Poderia ser de ambos também, porque toda aquela reviravolta não era normal.
O tempo passaria rápido, era o que eu esperava. Queria sair dali, me sentia presa, como nunca tinha me sentido antes. E pela primeira vez durante todo esse tempo eu me perguntava se entrar para essa carreira tinha sido uma boa escolha. Eu era boa no que fazia, sabia disso, mas não ao ponto de viver amargurada por algo que não conseguiria viver. Como um amor.
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Austin
ChickLitVocê acha sua vida difícil? É porque não tem Austin Hopper como Capitão. Ele é uma lenda entre os Capitães da Marinha Americana, comanda um dos mais eficientes contra torpedeiros da frota e com certeza não esperava que aquela mulher fosse comandar s...