Austin

Capítulo 32

Eu não vi ao certo o que estava acontecendo, apenas tinha a noção de que enquanto as explosões aconteciam, eu e Hopper corríamos como dois espiões em plena segunda guerra mundial.

Sempre olhando para todos os lugares e vendo possíveis ameaças.

Não iria mentir dizendo que não estava com medo. Eu estava e muito. Mas nesse momento, esse sentimento apenas atrapalharia e aumentaria nossos problemas.

Olhei para Hopper, fazendo um sinal com a mão, dizendo para darmos a volta e encontrarmos os outros que estavam encarregados de explodir os outros dois balcões. Corremos como sombras pela escuridão, evitando fazer qualquer barulho que pudesse denunciar onde nos encontravamos.

Austin corria à minha frente, sem deixar de olhar para trás, verificando se eu o estava seguindo. Receava pelo que via refletido em seu olhar e ficava cada vez mais apavorada em constatar que se acontecesse algo comigo ele não seguiria em frente como deveria seguir, assim como no meu caso, se a situação fosse inversa.

As coisas estavam realmente de mal a pior, já que esse envolvimento atrapalharia tudo e o pressentimento ruim que eu sentia desde antes de sair da instalação permanecia ali, apenas me lembrando que talvez nada acabasse bem. Me senti sendo consumida pela culpa e pelo arrependimento por ter entregado meu coração a alguém como ele, agora ambos estávamos completamente ferrados para sequer voltar atrás e fazer o que seria certo para o serviço. Se é que eu continuaria servindo quando saísse daqui... Não queria mais sentir toda essa confusão, precisava de paz e só a teria no conforto da minha casa, com um emprego comum que meu pai queria que eu tivesse. Agora eu o entendia completamente, tudo o que havia me falado quando decidi seguir em frente apenas porque ele me disse que eu não iria conseguir; decidi fazer isso para provar que eu era capaz, mas agora eu desistiria para garantir que tivesse um futuro.

Viver sabendo que poderia morrer a qualquer momento não era a sensação que eu queria pra mim... Achei que a adrenalina de uma missão era tudo o que eu sempre tinha procurado, mas não era. Eu tinha procurado alguém que me aceitasse exatamente do jeito que eu era e Hopper tinha o feito. Se eu já tinha encontrado o que tanto ansiava, não havia mais motivos para continuar me desafiando e impondo limites para serem ultrapassados.

Quando chegamos perto dos barracões pela retaguarda, conseguimos observar os três outros SEALs derrubando a maioria dos inimigos. Hopper me olhou, autorizando que eu achasse uma brecha e apoio para mirar a longa distância e eu rapidamente o fiz.

Arma carregada.

Respirei. Abri meus dois olhos para prestar atenção no ambiente enquanto mirava e me desliguei de toda interferência, até mesmo do vento que eu sentia açoitando meu rosto com frieza.

Tiro. Barulho. Em cheio no alvo. Queda.

Engatilhei. Mirei. Atirei. Barulho. Alvo caído.

Essa sequência foi sendo refeita várias e várias vezes na minha cabeça, enquanto via a trajetória da bala antes mesmo que ela passasse pelo cano da metralhadora. O tranco que a arma devolvia quando meu dedo puxava o gatilho, de forma alguma atrapalhava a minha concentração. Eu estava acostumada com a força, estava acostumada com os hematomas. Só não estava acostumada por olhar através da mira e ver Hopper agora bem ao lado dos outros três, enquanto as balas passavam raspando de onde se encontravam.

Aquilo apertou algo em mim e de repente me vi com uma ânsia de terminar com aquilo mais rápido do que era possível. Mirando com toda a agilidade que eu conseguia forçar.

Hopper não errava, ele fazia a mesma coisa que eu, a única diferença é que estava bem de frente com a maioria. Eu tentava cobrir todos ao mesmo tempo, porém só eu não conseguia manter os três seguros. Então quando senti mais alguém ao meu lado, apenas rezei para que a morte fosse rápida e que eu fosse para o céu, mesmo tendo perdido as contas de quantos alvos derrubei hoje. Se eu fizesse isso para salvar um número maior de pessoas, eu poderia ser salva?