Capítulo 30

8.5K 727 78
                                    

Caminhamos por um tempo que parecia infinito, enquanto nossos corações batiam em um ritmo tranquilo, mesmo com os medos que nos assolavam como a tristeza na escuridão. Não era a primeira vez que faríamos isso e que Deus quisesse, não fosse a última.

Nem eu, muito menos Hopper, ficamos conversando durante o tempo em que andamos. Não tínhamos a menor força de vontade para o fazer. Nossos futuros eram como um furacão, arrastando qualquer coisa que passasse pelo seu caminho e fazendo com que elas se chocassem com toda a força em seu interior, enquanto rodavam, rodavam, rodavam... Cada vez mais perdidas no espaço e tempo que se encontravam.

Hopper e eu estávamos ambos indo de encontro com a tempestade e prestes a se perder nela, sem chances de volta, sem chances de reviver algo que pra mim, era fundamental.

Agora eu entendia todas as mulheres no mundo que abandonavam tudo por amor, em busca dos seus felizes para sempre e de alguém que pudesse cuidar delas quando não estivessem bem para fazer isso por conta própria. As entendia porque se eu pudesse, faria a mesma coisa e era exatamente isso que eu queria quando voltasse dessa missão.

Estava cansada de lutar por algo que eu sonhei há tanto tempo, sabendo que nem tudo era como eu imaginava e que junto com o meu sucesso eu teria que deixar minha felicidade para trás. Não, isso eu não poderia permitir. Preferia ser feliz com Austin, do que uma vida inteira na Marinha sem ele.

Seria como se eu estivesse oca, quando poderia estar perfeitamente completa. Ele causava esse efeito em mim e eu abriria mão de qualquer coisa para sentir o que isso proporcionava.

Nós estávamos lado a lado, em um acordo mútuo de não encostarmos um no outro. Afinal, ninguém poderia saber nada a respeito da gente e isso era vital para que conseguíssemos cumprir com todos os nossos deveres.

A possibilidade de voltar e sair de todo esse meio, era maravilhosa ao mesmo tempo em que me deixava receosa, mas Hopper merecia, eu merecia e tudo o que estivesse ao meu alcance seria apenas um meio para se chegar ao fim; que era sermos felizes, enfim felizes.

- Queria que soubesse de uma coisa, Em... – seu tom de voz era entrecortado e não por ele estar sussurrando, mas sim por querer falar algo que eu já imaginava o que seria. Só em pensar nessa possibilidade eu já conseguia sentir a dor me consumindo e transformando tudo de bom em mim em apenas algo vazio.

- Pode falar. – Concordei tanto por querer saber, como também por querer dizer que tudo ficaria bem... Mesmo não tendo a certeza disso.

- Esse não é o melhor momento, mas sinto que se eu não falar agora, poderei nunca mais ter essa oportunidade. Eu te amo, Em. E é por esse motivo que se eu precisar escolher, vou escolher você.

Senti como se meu mundo estivesse resumido a ele e quase não consigo segurar as lágrimas que ameaçavam descer livremente pelas minhas bochechas.

Ele me escolheria.

Hopper me escolheria.

E foi nesse momento que eu percebi o quão idiota fui por achar o contrário. Ainda mais dele, que sempre demonstrou todo o seu carinho comigo melhor do que se tivesse falado qualquer palavra. Palavras podiam ser vazias, mas os gestos carregavam muitas intenções e provavam muito mais do que apenas frases.

Ele olhou nos meus olhos e todo o meu mundo parou de girar. Eu amava o que fazia, mas eu amava mais ele do que todo o resto.

Balancei minha cabeça, para que ele soubesse que eu o havia entendido, mesmo ele sussurrando sob o barulho dos nossos coturnos de encontro à areia.

Eu provavelmente o ouviria, mesmo que estivéssemos em plena guerra e ele falasse mais baixo do que os insetos que batiam suas asas ao nosso redor. Eu sempre o ouviria, porque ultimamente ele era a única coisa na qual eu prestava atenção. Quando ele estava por perto eu podia jurar que até mesmo seus batimentos ecoavam em sintonia com os meus e tudo acontecia de forma lenta e agradável, como se estivéssemos aproveitando a vida ao máximo do que ela oferecia.

AustinOnde histórias criam vida. Descubra agora