Capítulo 38

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Quando pisei em solo americano, o alívio que senti foi imenso. Aquele ambiente de guerra e tensão estava acabando com o que havia sobrado da minha sanidade. Era como se eu não conseguisse mais conviver com o silêncio, estava sempre ouvindo conversas, tiros e bombas explodindo. Cheguei a conversar com Peter sobre isso e segundo ele, era um trauma por tudo o que passamos e eu precisava me tratar para não piorar, antes que eu não conseguisse mais distinguir a realidade da minha imaginação.

- Vai voltar para alguma incursão?

Peter havia voltado junto comigo, mas apenas decidiu que faria isso depois do susto que tomamos. Porém, ele não tinha pedido baixa do serviço, veio com a desculpa de visitar seus familiares e para se recuperar dos traumas psicológicos na última missão, porém eu o conhecia já há algum tempo para saber que assim que se sentisse preparado, iria voltar.

Sinceramente, ele gostava mais do serviço do que eu achava que gostei um dia. Estava completamente enganada e apenas agora percebia isso. Eu me focava nessa carreira, mas deixava todos os outros pontos da minha vida, completamente relapsos, e esse foi meu maior erro. Devia ter levado em conta a minha vida pessoal, antes de sair querendo ingressar em sistemas que me deixariam presa por um bom tempo.

- Talvez daqui alguns meses, depois que resolver algumas situações. Preciso me recuperar dos últimos acontecimentos, não sou tão durão assim como pareço. Na verdade, acho que você se saiu muito melhor que eu em vários momentos.

Eu duvidava. Peter tinha salvado minha vida, quando eu travei e nem mesmo sair do lugar de bombardeio eu conseguia. Se não fosse pela sua coragem, eu estaria embaixo dos escombros e seria praticamente impossível que meu corpo fosse encontrado para ter um funeral digno e para que meus familiares pudessem ao menos dizer um adeus.

Eu devia minha vida à ele.

- Não acho.

- Se está pensando naquele momento em que eu te ajudei, esqueça! Não a deixaria pra trás nem em meus sonhos. Acho que somos uma dupla e tanto, não é? Ou éramos se for levar em conta que não voltará mais.

- Você podia ter morrido quando ficou pra trás pra me acordar e fazer com que eu corresse junto.

- Faria o mesmo, tenho certeza.

Claro que eu faria! Mas não significava que ele precisava correr risco de vida para me salvar. Era bem melhor um sair respirando, do que dois mortos, sem poder contar nossa história de alvos para o mundo. Porque realmente eu e ele, tínhamos feito um número muito bom de baixas, tanto que fizeram uma emboscada e acabaram por nos encontrar mesmo com os vários tiros sendo disparados ao mesmo tempo.

Eles não eram burros como imaginávamos. Deviam estar prestando bastante atenção nos seus homens que caíam um atrás do outro, com tiros certeiros na cabeça.

- Vai atrás dela?

- Não, ainda está em mar. Parece que faz tantos meses que respiramos ar e areia, não parece?

- Mas falta o quê? Um mês? Teve o tempo que passamos no treinamento também, então já sabe.

- Mais ou menos isso... O problema Em, é que nós não nos despedimos, entende? Não esperamos nada desse envolvimento, então talvez ela nem queira mais falar comigo... Foi algo que aconteceu e acabou, o tempo passa e a vida segue, não posso achar e esperar que ela venha atrás de mim.

- Não te falei para esperar que ela vá até você. – Se ele esperava isso, lamentava dizer, mas sentar seria o mínimo que teria que fazer.

Minha amiga não iria atrás de homem nenhum, o que estava claro inclusive nas suas feições. Kat queria viver a vida, mas jamais, jamais mesmo, se humilharia e perderia o orgulho correndo atrás dele.

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