Capítulo 33

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- Ele vai ficar bem. – Peter tentava me manter tranquila enquanto Hopper era tratado em uma das bases do Iraque, onde o exército americano tinha montado acampamento para monitorar os avanços das atividades terroristas.

E eu só pensava no quanto desejava que ele tivesse razão.

Me sentia culpada por não ter desistido antes e ir parar ali, com ele ferido por tentar me salvar. Era muita carga em cima de mim, enquanto via a vida se esvaindo do homem que eu amava.

- É tudo minha culpa.

Abracei Peter, sem me importar com todos os olhares recriminadores, sentindo as lágrimas molharem o seu uniforme completamente sujo de poeira do deserto. Eu estava arrasada e não fazia a menor questão de disfarçar isso.

- Não é, Em. Ele fez isso por escolha própria, tenho certeza que não iria querer que você ficasse se culpando pelas atitudes dele.

Eu sabia disso, mas como explicar para o meu cérebro complexado que eu não podia pensar dessa forma? Era quase impossível. Eu sinceramente não queria aceitar que ele poderia me abandonar aqui e ainda querer que eu seguisse em frente, seria muita covardia e Hopper nunca havia sido covarde.

Eu simplesmente não podia aceitar!

As instalações médicas da base não eram o melhor lugar para se tratar ferimentos como aqueles, mas os responsáveis estavam se esforçando, eu sabia disso. E preferia acreditar que mesmo com algumas sequelas Hopper pudesse sair dessa e voltar para mim, porque eu não me importaria de largar tudo e ficar apenas com ele. Ele já me bastava.

Era o suficiente.

E eu apenas não desistiria nesse momento, porque sabia que se o fizesse, não poderia acompanhar o que fariam com ele. Não poderia sequer ter notícias suas já que não era parente. Mas eu poderia falar com Peter e pedir uma atualização do quadro dele sempre que eu pudesse me comunicar. Isso era bom, melhor do que eu poderia pedir.

- Eu vou ir pra casa, Peter.

- Como assim?

- Eu nem sei porque aceitei vir para essa merda de operação. Já não tenho muita certeza nem do motivo por venerar tanto a Marinha... Só quero ficar em paz comigo mesma.

Ouvi barulhos de tiro e olhei atordoada em todas as direções, percebendo tardiamente que aquilo tudo era apenas coisa da minha cabeça. Nada estava acontecendo na instalação, nada. Nem mesmo explosões próximas... Eu devia mesmo estar ficando maluca e paranoica com toda a pressão daquele ambiente.

Quando voltei para a realidade, todos me olhavam com preocupação aparente, devido ao meu psicológico abalado.

Ninguém tinha o direito de me julgar, se soubessem a quantidade de pessoas que eu havia abatido, como se fossem gado ao invés de seres humanos. E o pior, sem poder demonstrar um mísero sentimento de pena.

- Por que está todo mundo me olhando desse jeito?

- Porque você matou mais deles, do que qualquer outra pessoa aqui...

Peter disse e eu olhei em volta, enquanto todos me encaravam fixamente, como se eu me importasse com os números em si. Eu estava naquele estado por causa de um motivo completamente diferente e não pelas minhas honrarias. Que se lascasse ser promovida a suboficial no comando SEAL, isso era o que menos me prendia àquele lugar. Hopper merecia essa promoção muito mais que eu, Hopper merecia viver muito mais que eu.

- Por acaso alguém contou? – Perguntei apenas para tentar aliviar a raiva que eu sentia aumentar em mim, com a ignorância de todos acerca do estado do homem que tinha praticamente dado a sua vida pela minha.

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