Capítulo 18

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- A volta foi mais tranquila?

Hopper disse quando paramos em frente à uma casa que eu desconfiava ser a sua, somente pela frente sem nenhum adorno e enfeite, ou mesmo sem a cor "amarela" que era predominante na minha.

Típica casa de um homem prático e discreto.

- Um pouco.

- Bom, eu ainda não vim aqui desde que saí de licença... Pago uma diarista, mas nunca se sabe, então qualquer bagunça, nem ligue, tudo bem?

Eu estava bem atrás dele e desconfiava que aquele passo fosse grande para nós dois... Primeiro conheci sua mãe, agora a sua casa, a próxima alternativa seria conhecê-lo por completo. O que eu queria e muito. Era praticamente impossível passar mais tempo com ele e não desejar saber cada fração da sua vida, seus medos e suas alegrias, assim como o que mais amava no mundo.

Eu queria conhecer o Austin, aquele que durante a licença, passava um tempo apenas consigo mesmo. Não o Hopper que levava as coisas a sério demais. Esse ultimamente tinha passado longe dele, pelo menos no tempo que ficamos juntos, ou seja, quase o tempo inteiro.

Quando entrei logo depois dele, conseguia sentir cada pedaço seu no ambiente. Toda a decoração era bem masculina e me lembraria dele mesmo que eu não tivesse conversado tanto com ele, como havia feito. Parecia que o ambiente remetia a cada lembrança dele. Não havia nada feminino ali, e eu sinceramente desconfiava se esse noivado tinha sido mesmo de verdade... Como não tinha nada que remetesse a isso? Nada, exatamente nada.

Em uma das paredes da sala, vários quadros de moto e customs, estavam pendurados, contrastando de forma harmoniosa com a pintura cinza escuro presente apenas naquela parede. Logo abaixo, um aparador, em madeira, pintado em preto, que continha um toca discos muito bem conservado, com uma caixa repleta de discos ao lado. Para uma pessoa que apreciava isso, aquele lugar era perfeito. Fora a televisão enorme, com os vídeo games guardados, e os sofás em couro preto, perfeitamente posicionados para a tela plana. Como se a sala fizesse parte de um ambiente pronto para assistir o que a pessoa quisesse.

Era tudo tão confortável que ninguém acreditaria que ele quase não vivia ali. Eu mesma, poderia passar muito tempo sentada, lendo ou assistindo a algo qualquer. Achava minha casa um ambiente extremamente agradável, mas vendo a dele, eu sentia que meus conceitos de comodidade estavam completamente errôneos.

- Quem decorou para você? – se tivesse sido ele mesmo, ganharia mais um ponto no meu conceito. Isso levando em conta que nos últimos dias, uns dez deles já haviam entrado para a contagem, deixando a balança pendendo totalmente a seu favor.

Eu estava mesmo muito ferrada com ele e a cada dia parecia estar mais.

- Eu mesmo. Assim que saí de casa, direto para a Marinha, juntei dinheiro de alguns pagamentos e dei entrada na casa... Logo que mudei fui comprando as coisas que gostava, em alguma loja, venda de garagem e a cada licença eu comprava mais... Até que fui ver os móveis combinavam com todo o resto e eu me sentia realmente em casa, a partir daí apenas fui pintando e redecorando. Aqui é o meu lugar predileto, meu lar e mesmo que eu me sinta bem perto da minha mãe, lá não é mais meu lugar. Deixou de ser há muito tempo.

Eu entendia exatamente o que ele dizia. Quando se saía de casa e comprava suas próprias coisas, não seria o mesmo retornar para a família, se sentindo no seu verdadeiro lugar. Depois que comprei a minha, quase não me sentia bem na casa dos meus pais, era como se estivesse completamente fora do meu ambiente. Você arrumava e decorava de forma mais confortável para si e tudo aquilo dava a áurea de um lugar completamente seu e ninguém que experimentava isso queria voltar a dividir lugar com outra pessoa. Era ótimo ter liberdade para comprar e colocar o que quisesse no seu espaço, deixando ele com a cara da sua personalidade e era isso que fazia algo tão pequeno parecer tão grande.

AustinOnde histórias criam vida. Descubra agora