Capítulo 20

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- Siga-me tenente.

Ele nem precisava dizer isso, visto que eu já estava o acompanhando, não era como Hopper, que tinha uma frieza e confiança nata nas suas atitudes e era exatamente por isso que eu desconfiava que esse, à minha frente, acabaria falhando uma hora ou outra. E infelizmente, ali, uma falha poderia causar muito estrago.

Quando entramos na mesma cabine que o antigo capitão ocupava, as lembranças que me invadiram não foram tão agradáveis quanto as que adquiri nos últimos meses, mas eram uma prova de que tudo havia acontecido apenas para as coisas estarem como eram. E se realmente eu fosse transferida, tudo isso não teria sido em vão, teria?

- Espero que tenha passado bem de licença.

- Sim senhor.

Nada bom. Quando os assuntos começavam amenos, era sempre sinal de turbulência à frente.

- Que bom. – disse se sentando, mais um sinal ruim... A conversa não seria nada boa.

- Se me permite a audácia senhor, poderia ir direto ao assunto? – Keller parou de mexer nos papéis em sua mesa e me olhou de forma penetrante, como quem dizia que eu não poderia abrir a boca se não fosse de seu comando, mas o sinal afirmativo que fez com a cabeça era totalmente contrário as ideias que eu formava na minha.

Eu não ia muito com a cara dele, não sabia explicar ao certo, mas em alguns momentos ele parecia não ser confiável e meus olhos não perdiam nenhum desses raros minutos em que ele transparecia guardar coisas que não eram tão dignas assim.

- Walker, vou direto ao ponto então. Você será transferida para Operações Especiais, e isso não é um convite. Foram ordens do alto comando e as mesmas devem ser obedecidas.

Senti minhas pernas fraquejarem e a água fria caindo em todas as minhas expectativas quanto a uma relação completamente fracassada desde o princípio.

Sabia que Keller estava certo e aceitar aquilo sem nem ao menos pensar duas vezes era o que meu dever pedia, mas meu coração estava relutante quanto o caminho a seguir e nessa batalha entre razão e emoção, já imaginava quem ganharia...

Eu era uma mulher da razão e era por ela que eu trilharia meus medos.

- Sim, senhor. Quando partirei?

- Em dois dias, tempo para arrumar suas coisas e resolvermos qualquer pendência por aqui.

Dois dias, já era o terceiro pior sinal em menos de uma hora. Tão pouco tempo para me preparar, só mostrava o quão desesperados estavam por mais oficiais na tal base "que ninguém falava como funcionava". Pelo menos tinha um lado bom em tudo isso, eu finalmente tiraria todas as dúvidas e sanaria a minha curiosidade quanto ao que realmente acontecia por lá e que tipos de missões eles pegavam.

Tentava ver algo de bom nessa mudança, porque se fosse pensar apenas em todos os medos que teria que enfrentar, a vontade de continuar servindo o país simplesmente evaporaria da minha corrente sanguínea e não voltariam nunca mais. Eu perderia Hopper apenas em pisar naquele lugar e tinha certeza que tudo o que passamos seria esquecido durante o processo de adaptação a nova rotina...

Nosso relacionamento não tinha se solidificado tanto ao ponto de resistir à isso e nem teria como, já que seríamos novamente do mesmo pelotão e aquilo por si só já era algo que não conseguiríamos superar. Eu conseguiria conviver com o tempo longe dele, agora um tempo com ele, no mesmo lugar, sem poder demonstrar nada, era mais do que eu poderia suportar. Assim como desconfiava que ele também.

Parecia que a cada passo que dávamos pra frente, dez eram dados na direção oposta e como lutar contra algo que nos levava sempre ao limite entre a emoção e a loucura?

AustinOnde histórias criam vida. Descubra agora