Austin

Capítulo 26

Dois meses depois

Depois de fazer os mais diversos tipos de atividades que pessoas normais nunca fariam, como: saltar de aviões em alto mar, escapar de submarinos e navios naufragados, escalar prédios de no mínimo três andares, fazer o que precisávamos e dar o fora dali, e tantas outras pressões psicológicas, eu me sentia a própria mulher de ferro, sendo capaz de me impor ao meu limite sempre que eu precisasse. E por incrível que pareça, achei que o treinamento se daria nas instalações, mas a realidade é que fomos para a linha de frente, sozinhos, tendo que ficar muitas das vezes um de costa para outro, cobrindo 360 graus no campo de visão, correndo o risco de tomar tiro mesmo não sendo um Seal oficial.

Foram os piores dias da minha vida e se alguém tivesse me mandado comer merda para não ter que passar por aquilo, eu comeria, e sorrindo ainda por cima, essa era apenas uma comparação para entenderem o tamanho da falta de humanidade que era toda aquela coisa.

Nunca. Em nenhum momento da minha carreira, eu achei que tal treinamento existisse e caramba, me considerava sortuda por ter saído viva daquela porcaria. Se eu pudesse desistir de ter a "honra" de ser uma Seal, teria desistido sem olhar para trás. Era a segunda mulher que conseguia passar por todas as provações e Mary a outra... Mesmo eu sendo uma mulher considerada forte, tinha sofrido mais do que imaginava conseguir suportar e jamais, de forma alguma, escolheria tudo isso por vontade própria.

- Vocês concluíram o treinamento com aproveitamento máximo e agora fazem parte dos seis, o grupo de elite da Marinha americana! O país conta com vocês, suas famílias contam com vocês e principalmente: nós contamos com vocês! Agora são Seals e como tais, devem obedecer e colocar a pátria acima de qualquer vontade, qualquer negação! "Os amadores treinam até ter a certeza de que vai dar certo. O Seal treina até que seja impossível dar errado", esse é nosso lema e jamais, jamais, façam com que as pessoas duvidem dele!

Eu e Peter estávamos completamente eretos, enquanto o mesmo homem que nos supervisionou no treino, falava com tamanha arrogância. Eu realmente não conseguia confiar nele e como Hopper sempre me falava, todos os dias em que ia me checar, eu tinha que manter um olho aberto com John. E se Austin estava falando isso, algum motivo ele devia ter.

Olhei para as fileiras de homens e uma mulher; sim, porque nos Seals eram somente eu e Mary, a qual encontrei logo que cheguei aqui; e tudo exatamente pelo machismo nas bases americanas. Eles não faziam questão de disfarçar, cabia a nós fechar os olhos e ignorar com todas as nossas forças qualquer comentário idiota. E encarando todos, procurava apenas um rosto que poderia me trazer um conforto como eu nunca sentia com outra pessoa. Sinceramente, ele sabia que eu iria procurar por seu apoio, porque quando o encontrei ele me olhava da mesma forma, tentando dizer com o olhar que as coisas dariam certo, bastava eu ter fé em mim mesma e confiar nele.

Hopper mexeu os lábios dizendo "confia em mim" e Senhor, como ele achava que eu não faria isso quando ele nunca tinha mentido pra mim? Se tinha alguém no qual eu confiava, esse alguém era ele e mesmo o odiando mais que tudo, logo que passei a conhece-lo melhor entendi que as pessoas viam apenas o que ele as deixava ver, e o que guardava dentro de si era muito mais bonito e envolvente; me mantendo totalmente presa à sua mercê.

O evento não era oficial, apenas algo que era tradição entre eles, mas na verdade, alguns de nós nem existiam para as pessoas da pátria, nós trabalhávamos em nossa maioria, anonimamente. Porque se os cidadãos sabiam, os terroristas também saberiam e ter uma família se seu nome real fosse utilizado era a pior das ameaças que alguém poderia sofrer. Retaliações eram terríveis. Sabia disso muito bem.

- A próxima missão de vocês, agora como Seals que são, será daqui dois dias. Se reúnam daqui trinta minutos para poder saberem mais a respeito.