Capítulo 13

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- Não foi tão ruim assim. Você exagerou.

- Tem certeza?

Eu sabia que não tinha exagerado. Ele também sabia. A sorte é que quando as coisas desandariam de vez, minha mãe intercedeu a nosso favor e tudo pareceu ficar tranquilo. Minha mãe sempre teve esse poder sobre meu pai e sinceramente eu agradecia sempre que ela o exercia.

- Se você conhecesse a minha família, acharia a sua perfeita. Minha mãe é a clássica matrona ao estilo texano. Ela recebia os namorados das minhas irmãs com a espingarda na mão e o dedo no gatilho! Nem precisava muito que eu defendesse a honra delas, minha velha fazia isso melhor do que ninguém. Quando meu pai morreu, ela se viu perdida entre duas meninas e um adolescente com os hormônios em ebulição e se virou do jeito que achou melhor. – ele contava sobre a sua família com um sorriso no rosto e mesmo que o mundo estivesse acabando eu não iria interromper isso – Quando decidi entrar para a Marinha, ela foi a primeira a me apoiar e a primeira a me ameaçar também, disse que se eu morresse em serviço ela me ressuscitaria para me matar de novo. Aquela dá tapa na cara de urso e ainda fica pra ver o resultado!

Só pelo que ele tinha falado eu percebi o quanto ele a amava. E o quanto ela tinha sido forte e um exemplo de vida para os filhos. Porque eu poderia dizer qualquer coisa sobre o Hopper, mas jamais afirmar que ele não era um homem digno. Se não o fosse não teria feito tudo o que fez apenas para seguir as regras que acreditava fielmente.

- Se quiser ir comigo, estou pensando em viajar pra lá na próxima semana. Uma das minhas irmãs teve filho e eu queria ver meu primeiro sobrinho de perto. É chato demais ficar conversando por vídeo chamada! Eu odeio!

Aquele definitivamente não era o mesmo capitão que eu via todos os dias no navio. Aquele era o lado humano dele e estava mais do que difícil não me encantar em como os olhos dele brilhavam ao falar de seus entes queridos.

Será que algum dia, alguém perguntaria sobre mim e ele falaria com esse mesmo carinho? Eu estava viajando por pensar isso. Mas me sentiria no mínimo especial se um homem falasse de mim com esse brilho e saudade. Nunca tive nada disso na minha vida, sempre focada em alcançar meus sonhos e agora eu sentia falta de um abraço quando eu voltasse pra casa, ou um beijo de despedida.

Sentia saudade pelo que nunca tive. Vai entender.

- Vai de moto?

- Claro!

- Quanto tempo demora?

Falei com cara de assustada, porque ao meu ver, uma viagem dessas seria longa e cansativa ao extremo. Não que eu fosse uma molenga, mas pelo amor, não estava muito afim de rodar o mundo em uma moto, vivendo sem saber o amanhã. Apesar que com ele pilotando, poderia muito bem ser um motivo imenso para mudar de ideia.

- Mais ou menos um dia. Parando para comer e dormir um pouco, um dia e meio. Mas é divertido, passamos pelo Arizona e Novo México. As paisagens são maravilhosas e aqueles postos de beira de estrada têm uns hambúrgueres que faz até marinheiros se jogarem ao mar!

Ele descrevendo dessa forma era melhor do que um carro forte cheio de dinheiro. Como um homem pode ser assim tão persuasivo, apenas falando de forma casual e extrovertida?

- Mas minha bunda vai ficar quadrada!

- Não vai não! A gente para pra dormir e relaxar. – seu olhar era totalmente sugestivo e não precisaria desse truque baixo para me convencer. Eu já estava praticamente maluca por ele. Quem não ficaria?

No fundo eu queria imaginar que ele precisava que eu fosse junto, porque não conseguia ficar um minuto longe de mim. Mas a mulher firme por outro lado, sabia que nada disso era verdade e sabia mais ainda que passada a licença, só Deus sabia o que aconteceria com toda essa nossa estranha relação.

AustinOnde histórias criam vida. Descubra agora