Aaron

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Acordei cedo, como sempre. A rotina de mais um dia de trabalho começava. Sentei na cama, estava nu, olhei para a garota de cabelos ruivos que dormia ao meu lado. Ela apareceu na noite passada, exigindo que eu assumisse o nosso relacionamento, que havia deixado o namorado por mim, que agora estava livre, que me amava. Tentei explicar para ela que o que havia entre nós era apenas atração, havíamos transado, mais nada. Não pretendia assumir relação com uma transa de uma noite, duas agora. Levantei e fui nu até o banheiro. Depois da discussão, ela ficou chorosa. Tive que acalmá-la, ela se mostrou deliciosamente submissa e o sexo foi um tanto quente. Agora tinha que dar um jeito de despachá-la. Tomei um banho rápido. Precisava visitá-lo antes de ir para a empresa.

− Bom dia, Senhor – Jarbas cumprimentou quando entrei na cozinha para uma xícara de café, que já me esperava servida sobre a mesa.

− Bom dia, Jarbas. Como está, Francis? – perguntei beijando a minha empregada na bochecha, que preparava biscoitos em uma bela caixa para levar para ele.

− Bem, menino. – respondeu, me olhando de soslaio. Sabia que vinha bronca. – E a garota? Não vai acompanhá-lo no café?

− Não. – respondi e olhei para Jarbas, meu mordomo e faz tudo. − Ela deve ir para casa antes que eu retorne, Jarbas. Dê um jeito nisso, se não tiver para onde ir, hospede-a em um hotel, mas bem longe daqui, por favor.

− Sim, Senhor. – Não seria a primeira vez que Jarbas faria isso. Não sabia se a história do rompimento com o namorado era verdadeira, não sabia se ela tinha para onde ir. Na verdade não sabia nada sobre ela, apenas seu nome. Ela foi uma das modelos enviadas pela agência para o teste da Capa, era linda, mas não se encaixava no perfil que queríamos. Não precisei seduzi-la, quando soube quem eu era se ofereceu descaradamente para uma noite de prazer. Eu estava exausto. A doença dele e agora o afastamento de J.J. Estavam me consumindo horas de sono. Não confiava no novo advogado, mas iria seguir os conselhos do velho, ele nunca errava. Não seria agora, para escolher o seu substituto, que iria falhar. Então quando a bela ruiva de olhos verdes me convidou para um drink, não resisti. Queria fugir um pouco da realidade e uma noite de sexo com uma bela mulher seria perfeito. Levei-a para o meu apartamento, não queria correr o risco de algum paparazzi me fotografar com uma modelo entrando em algum motel e ver minha foto publicada com destaque nos sites de fofoca no dia seguinte. Já havia passado dessa fase de escândalos amorosos. Talvez esse tenha sido o meu erro, ela pensou que era especial e agora queria exclusividade. Desde Katy não tinha namorada fixa, ela foi a única que conseguiu a minha atenção por longos seis meses. Pensei que era amor, mas quando começou a planejar o casamento, virou pesadelo e caí fora.

Dirigi até a casa dele, não deixava de vê-lo um só dia depois do AVC, nos seus setenta e seis anos, meu pai era um homem forte. Mas o acidente vascular o deixou debilitado. Precisava de cadeira de rodas e fisioterapia. Queria voltar a andar.

− Como ele está? – perguntei para a fisioterapeuta quando ela saia da biblioteca. Por que ela estava ali? Ele geralmente fazia os exercícios na academia montada no térreo da mansão ao lado das piscinas.

− Está bem. – respondeu com um sorriso tímido. − Só vim trazer um remédio, está com uma leve dor na perna esquerda. Mas estamos evoluindo.

− Obrigado. – aquilo era um alento. Entrei na biblioteca, ele não estava só.

− Ora...ora, se não é o pequeno Aaron – o outro homem falou sorridente.

− Tio Zackary, quanto tempo? – cumprimentei o velho amigo do meu pai. Um homem alto, cabelos escuros que começavam a ficar grisalhos. As rugas já apareciam no canto dos olhos. Seu sorriso era franco, mas seus olhos deixavam transparecer uma certa tristeza. Eles jogavam xadrez, papai em sua cadeira e tio Zack sentado em uma poltrona. Já passava das nove horas da manhã.

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