Planos

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− Ela não veio trabalhar, Bruce – Pepe repetiu a mesma frase pela terceira vez. Terça-feira e eu não fazia ideia de onde havia se metido a minha esposa. No começo pensei que era birra de garota mimada, mas depois a teimosia de Amber me irritou. Ela não veio nem buscar roupas para Sky, isso significava que estava bem amparada. Pensei que havia se refugiado com Pepe, mas agora, estacionado em frente à loja de antiguidades, percebi que o velho não mentia. Não havia nenhum sinal de Amber. Ela não havia levado a Sky para a escola ou para o balé. Então onde ela havia se metido? A ideia de que havia voltado para a casa dos Xavier começou a parecer a mais plausível, mas para ela ser aceita pelo pai, isso significava que não pretendia voltar para mim. Se isso fosse verdade, Amber iria ver com quem estava brincando. Afinal Sky era minha filha e eu tinha direitos sobre ela e tudo que ela pudesse herdar. Estava na hora de fazer uma visitinha ao meu sogro.


A mansão Xavier era um espetáculo arquitetônico, o prédio tinha três andares, as janelas em estilo europeu lembravam os "appartement haussmanien"  com suas pequenas varandas. As pedras de Calcária branca completavam o estilo parisiense da bela casa. Estacionei em frente a porta principal e subi a escadaria que me levaria ao  hall de entrada. Quando me casei com a bela herdeira, imaginei que ali seria o meu lar, mas sou paciencioso. O velho Xavier não vai durar para sempre. Amber é a única herdeira e ele, mesmo tendo deserdado a filha, não deixará a neta sem amparo.

− Onde está a minha esposa? – perguntei ao mordomo que veio me receber.

− Desculpa, Senhor. Mas a quem devo anunciar? – indagou o homem vestido de negro com um bigode grisalho e cabelos ralos.

Quero falar com Amber, minha esposa. Sei que ela está aqui. Vá chamá-la – ordenei.

− Bruce? – minha linda sogra surgiu usando um vestido azul que combinava com seus belos olhos.

Olá, Juliaquerida – disse caminhando em sua direção e pegando suas mãos para beijá-las, mas ela as puxou, me impedindo do galanteio. Não me abalei.

− O que faz aqui? Sabe que não é bem-vindo a essa casa – falou caminhando em direção à porta, eu não a segui, apesar de saber que era isso que ela desejava.

− Vim buscar minha esposa e minha filha – falei caminhando na direção oposta, entrando para dentro de uma das salas de estar da casa. – Por acaso ela está no quarto? – perguntei olhando para as escadarias de mármore.

− Amber não está aqui, Bruce – respondeu com uma tranquilidade que a denunciou.

− Mas você sabe onde ela está – falei me aproximando e a encarando ameaçadoramente.

− Por que pensa isso? - perguntou retribuindo o olhar, minha sogra era uma mulher admirável, forte, decidida, encantadora. 

− Uma mãe não ficaria tão calma ao saber que a filha desapareceu – ela continuou me olhando impassível. Será que eu havia me enganado.

− Eu falo com ele, mamãe – a voz de Amber me fez dar um giro de 180 graus. Lá estava ela, aquele cenário elegante combinava com a frágil Amber. Sorri e caminhei ao seu encontro.

− Tem certeza, querida – minha sogra perguntou visivelmente preocupada.

− Sim – falou afastando-se do meu toque.

− O que significa isso? – perguntei assim que ficamos a sós. – Estava preocupado com você, meu amor – disse pegando suas mãos. Ela puxou com força.

− Não me toque! – disse com repulsa, aquilo me enfureceu. O que ela estava pensando, eu era o seu marido. Tinha direitos sobre o seu corpo.

− O que significa isso, Amber? Você é minha esposa, me deve explicações sobre o seu sumiço e esse comportamento inadequado.

− Comportamento inadequado? – repetiu irônica. O que havia acontecido com ela? Aquela atitude não combinava com a minha Amber, a submissa Amber. – Quem é você para falar de comportamento inadequado, Bruce?

− O seu marido. Você me deve respeito – ela deu uma gargalhada.

− Eu vou entrar com os papéis do divórcio. Não serei mais sua esposa, não deverei respeito e não terás mais que se preocupar com o meu comportamento a partir de agora.

− Ficou louca? Eu não vou aceitar o divórcio.

− Você não tem que aceitar nada. Eu já decidi – sua petulância era uma afronta. Segurei o seu braço com força, ela tentou se desvencilhar mas não conseguiu.

− Não me provoque, Amber. Você vai buscar a nossa filha, agora, e vamos voltar para a nossa casa, entendeu? – soltei-a de súbito e ela se desequilibrou caindo no chão.

− O que significa isso? – a voz de Zackary Xavier ecoou na sala, ele caminhou até a filha amparando-a.  Hector, mostre a saída para esse senhor - ordenou ao brutamontes que o acompanhava. - Nunca mais se aproxime da minha família – esbravejou.

− Eu só saio daqui com a minha esposa e a minha filha - respondi avançando em direção à Amber.

− Por favor, senhor, me acompanhe – o motorista de Xavier, um homem puro músculos de dois metros de altura me segurou pelo braço. Encarei Amber com ódio, o pai a auxiliava, cuidadoso. Era tudo o que eu queria.

− Isso não ficará assim - ameacei -. Sky é minha filha, lutarei pela sua guarda – Ela não sabia com quem estava lidando. Sua atitude impensada só acelerou as coisas. Agora que voltou para os braços do pai, eu só precisava conseguir a guarda da minha filha e teria a fortuna do Xavier em minhas mãos. – Você só facilitou as coisas, querida! – falei, com um sorriso vitorioso, quando entrei no carro dirigindo a caminho da Faces.


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