Desencontros

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Estava atrasado para um reunião marcada por J.J., dirigia até a Thompson controlando o ímpeto de mudar o curso e ir atrás de Amber, queria uma explicação, precisava entender o que significou a noite anterior. Por que ela não estava ao meu lado quando acordei?

− O Senhor J.J. já o aguarda na Sala de Reuniões, Senhor Thompson – Tracy falou me alcançando uma pasta com a agenda do dia e alguns documentos.

− E o Senhor Garret? – J.J. havia exigido a sua presença.

− Ele ainda não chegou.

− Então ligue para ele e diga que estamos esperando na sala de reuniões.

− Sim, senhor. – Inferno! Não sei o que farei se ela voltou para ele. Não pode ser, deve haver alguma explicação menos dolorosa.

Jofrey estava acompanhado por outros dois homens quando entrei na sala. Não conhecia a pauta daquela reunião, mas devia ser algo importante para trazer de volta à Thompson o seu antigo diretor jurídico.

− Podemos começar – perguntei depois de cumprimentar a todos.

− Seria importante que o Senhor Garret estivesse presente, Aaron. – o homem de aparência debilitada falou. Nesse momento, Tracy entrou na sala de Reuniões.

− Desculpa interrompê-los, o Senhor Garret se desculpou mais não poderá comparecer. Disse que está hospitalizado, teve que passar por uma cirurgia de urgência.

− Cirurgia? – perguntei, ainda ontem o homem estava na Faces, a imagem do beijo trocado entre ele e Amber me veio clara. Fechei as mão em punho.

− Ele não quis entrar em detalhes, Senhor.

− Jofrey, podemos continuar sem ele? – questionei o homem grisalho.

− Sim.

− Obrigado, Senhorita Stanford. Se precisarmos de algo, comunico. – Ela saiu da sala, geralmente, participava das reuniões, mas por algum motivo, que eu descobriria em breve, Jofrey foi categórico ao selecionar os participantes daquela reunião e a presença da minha secretária foi descartada. Apenas eu, Edmund Courtney, gerente contábil e Sergie Montreal, diretor financeiro.

O meu antigo diretor jurídico projetou em uma tela uma tabela com projeções de gastos com marketing da Faces no estrangeiro. Olhei para os números, a progressão de custos estava dentro do que era esperado. A faces havia ampliado o mercado de atuação, isso explicava aquele pequeno aumento. Olhei para Jofrey esperando uma explicação.

− Eu não entendo porque a minha presença é necessária aqui? – foi Edmund Courtney quem perguntou, o homem parecia nervoso, afrouxava a gravata, gotas de suor desciam pela sua tez, mesmo com a sala climatizada.

− Em breve entenderá, Senhor Courtney – Jofrey comunicou com certo cinismo. Não era à toa que tinha o apelido de Raposa, nada lhe escapava, nem mesmo agora, quando deveria estar aposentado, cuidando de sua saúde.

− Esse relatório foi o que analisei, na semana que descobri que teria que me afastar da Thompson. Entreguei para o Senhor Garret para que desse os encaminhamentos necessários para a aprovação orçamentária no Setor contábil. – Outra tabela foi projetada, essa apresentava uma diferença nos custos finais. Nada perceptível a primeira vista, uma vez que era uma projeção para o ano, e os valores foram alterados mensalmente de forma sutil, mas que no final de um ano somava um aumento exorbitante.

− O que significa isso? – perguntei percebendo aonde Jofrey queria chegar.

− Para minha surpresa, recebi essa Projeção de Custos por e-mail há alguns dias. Pensei que fosse um engano, então pedi para você, Aaron, solicitar ao Senhor Garret uma cópia.

− Sim.

− Essa é a cópia. – Ele não alterou a imagem. – Entendeu agora, Senhor Courtney porque sua presença é vital nessa sala. Somente o Senhor e o Senhor Garret podem nos explicar essa diferença de valores. Como Garret não se encontra...

− Foi ideia dele – o homem estava à beira de um ataque de nervos. – Ele apareceu com os relatórios aprovados pelo Jurídico e propôs que mudássemos os valores, não foi difícil fazer uma cópia do documento com as assinaturas e os números alterados. Mas ele cresceu o olho, disse que em um ano ficaríamos milionários, eu tenho família, filho em idade escolar, queria garantir o futuro deles, o senhor entende? – suplicou.

− Não, eu não entendo – falei para o homem que tinha um salário compatível com a sua função e que possivelmente era suficiente para pagar os custos com a faculdade para os filhos em uma das melhores Universidades do País. Era visível a ganância dos dois, inclusive de Garret que assumiu um dos cargos mais importantes da Thompson e agora cumpriria o seu mandato na prisão por fraude e roubo.

Todos os trâmites para a investigação foram tomadas, a prisão preventiva dos envolvidos seria solicitada. Eu queria que Amber soubesse por mim e não pela imprensa quando o escândalo vazasse. Não sabia qual seria a sua reação, talvez me odiasse, talvez... não.

Já era noite quando consegui me liberar e ir atrás dela, não a encontrei em casa, então resolvi procurá-la na casa dos Xavier. Foi Julia Xavier quem me recebeu.

− Aaron, que surpresa agradável.

− Como vai, tia Júlia? – disse beijando suas mãos.

− Bem – mentia, era visível seu olhar de preocupação, assim como era visível a sua frustração ao ver que era eu quando abriu a porta. Ela esperava outra pessoa. – Xavier não está, queria vê-lo?

− Não− respondi. – Na verdade vim ver a Amber, ela está?

− Amber? – perguntou surpresa.

− Sim, eu preciso muito conversar com ela.

− A Amber partiu, Aaron – informou com a voz entrecortada. − Ela foi embora junto com minha neta.

− Não... – Senti um nó se formar na minha garganta. – Ela não faria isso – disse colocando as duas mãos na cabeça. Júlia percebeu meus desespero.

− Vocês e Amber...

− Eu a amo. – confessei à mãe que me lançava um olhar melancólico.

− Eu sinto muito...


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