Mentiras

292 32 5
                                    


Caminhei sonolenta até a sala, ainda usava a camisola, então fiquei escondida na penumbra do corredor tentando descobrir quem conversava com Tracy àquela hora da manhã, não que fosse cedo, mas era domingo e no domingo qualquer horário antes do meio-dia era considerado cedo.

− Como assim? Você foi atrás daquela vadia? – A voz era de Tracy. – Amor próprio, sabe o que significa isso? Você poderia ter só um pouquinho de amor próprio e parar de fazer papel de idiota?

− Que saco! Ela me ligou, ok? – Eu conhecia aquela voz, dei mais um passo, tentando descobrir quem falava. – Estava em apuros, eu fui ajudar e o cara chegou antes.

− E dai ele ficou com ciúmes de você e te atacou? – minha amiga perguntou. Ouvi uma gargalhada masculina, havia uma terceira pessoa.

− Ele que ficou com ciúmes do cara e partiu pra briga – o outro homem falou. Mais um passo e pude ver quem era o dono da primeira voz, senti uma dor no estômago.

− Você é patético, Steve. – Steve? Por que Tracy o chamava assim, Steve não era o nome do seu irmão? Nesse momento percebi que havia sido descoberta, justamente por ele.

− Stewart? – perguntei encarando-o.

− Steve, Phoebe. – Tracy falou. − Esse é o meu irmão Steve. – Por alguma razão esperei que ele corrigisse a minha amiga. – Espera! Ele é o seu Stewart? – A pergunta era para mim, mas ela olhava para o seu irmão.

− Eu posso explicar – ele começou a falar. O outro cara no sofá deu outra gargalhada e só então voltei minha atenção para ele. Meu coração disparou, eu o conhecia, era o cara do bar que tentou me assediar.

− O que ele faz aqui? – perguntei trêmula, apontando o intruso. – Ele é o tarado do bar. – expliquei para Tracy que não pareceu assustada, mas furiosa. Ela colocou as mãos na cintura e encarou o Stewart.

− Vocês usaram o Golpe Baixo com a minha amiga? – Do que ela estava falando?

− Golpe baixo? – repeti.

− Uma brincadeira ridícula que esses dois babacas fazem desde a adolescência para pegar as garotas.

− Brincadeira? – olhei para Stewart ou Steve.

− Eu posso explicar – ele repetiu, me deixando irritada.

− Explicar que eu fui só uma brincadeira? – perguntei.

− Não, Phoebe– respondeu num ímpeto. – No começo foi... – concluiu. Engoli em seco. O tarado sentado no sofá colocou as mãos na cabeça. Tracy as mãos para cima. – Vocês dois podem nos dar licença? – Steve falou impaciente.

− Vou tomar um café – Tracy comunicou indo para a cozinha.

− Eu também – o cara do sofá a seguiu. 

Ficamos por alguns minutos apenas nos olhando. Eu esperava uma explicação, mas sabia que ele devia estar pensando em uma boa mentira para sair de toda aquela situação.

−Golpe baixo? – interrompi o silêncio.

− Eu... eu não queria, mas o Dustin foi pra cima de você e não tinha como deixar aquele cara te...

− Basta, Stew... Steve. Meu Deus, nem o seu nome eu sei!

− Desculpa , Phoebe! Eu fui um canalha. – Ele tentou se aproximar, estendi o braço pedindo que mantivesse a distância. Ele parou. – Eu não vou mentir para você. Não mais...

− Não sei se quero ouvir o que você tem a dizer.

− Mas eu quero falar, eu preciso que você saiba que eu me envergonho do que fiz, mas não me arrependo. Se eu não tivesse feito... a brincadeira...

− Brincadeira? − falei profundamente magoada. Queria chorar, queria sair daquele lugar, mas fiquei para ouvir suas mentiras.

− Aquela idiotice que o Dustin inventou, eu não teria te conhecido. E isso foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. – Dei uma gargalhada.

− Nossa! Você é muito bom nisso!

− Nisso?

− Em mentiras.

− Não, não é mentira.

− Então porque você está me olhando com um olho roxo? Foi por minha causa que se meteu em uma briga a noite passada?

− Não – disse constrangido.

− Então eu não sou nada para você, Steve − pronunciei pausadamente o seu nome. – Foi por querer se vingar de Erin que você me procurou naquele bar, foi atrás dela que você foi quando me deixou ontem à noite.

− Mas ela precisava de mim... – tentou se explicar.

− Ela sempre vai precisar de você e você vai correr feito um cachorrinho atrás dela.

− Eu juro que isso não vai mais acontecer.

−  Por mim, tanto faz – disse com a voz embargada. – Você nunca me prometeu nada, a culpa é minha por pensar que os homens não são todos iguais, por acreditar que cada babaca que entra na minha vida vai ser diferente do último.

− Phoebe... eu não sou mais um, me dá uma chance de provar isso – implorou. Eu não queria mais ouvi-lo.

− Não – dei as costas e caminhei em direção ao meu quarto. Antes que trancasse a porta, Steve entrou.

− Eu preciso que acredite em mim.

− Não dá – falei com lágrimas nos olhos.

− Por favor – ele segurou a minha mão e se aproximou. – Eu só penso em você, é você que eu quero. – Seus lábios se aproximaram do meus, queria expulsá-lo, mas me sentia fraca. Meu coração acelerado, minhas mãos trêmulas, uma dor no estômago. E agora seu beijo para me fazer perder o chão. Salgado, um beijo com gosto de lágrimas. Steve envolveu o meu rosto com suas mãos, seus dedos se entrelaçaram em meus cabelos, enquanto sua boca me subjugava. Fizemos amor, na cama, nus, pela primeira vez. Senti o roçar de suas pernas, minhas unhas afundaram em suas costas quando fui penetrada, seu peito tocou meus seios, sua pele na minha pele.

− Me perdoa... – ele murmurou quando seu membro derramou seu sêmen em meu corpo, uma lágrima deslizou do meu olho e meu corpo se entregou a sentimentos ambíguos de luxúria, paixão, melancolia e tristeza enquanto meu sexo se contraia saboreando o prazer da sua invasão.

Steve caiu em um sono profundo, enquanto acariciava meus cachos e dizia palavras de carinho e promessas que nunca seriam cumpridas. 

Coloquei algumas roupas em uma mochila, escrevi um bilhete e parti.


Histórias de DesamorOnde histórias criam vida. Descubra agora