A garota casada

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Corri atrás de Amber, mas não consegui alcançá-la. Ela desapareceu dirigindo aquele Wolks velho, por que mandei Jarbas levá-lo ao mecânico? Liguei para o Gary.

− Calma, Aaron. Segunda-feira eu te passaria o endereço, não pensei que estivesse tão desesperado assim para ressarcir o tal motorista? – falou o meu amigo do outro lado da linha depois de ouvir o meu esporro pela demora em conseguir a informação que havia solicitado.

− O Endereço, Gary. Depois te explico – falei impaciente enquanto voltava ao apartamento para trocar de roupa e pegar as chaves do carro. Ouvi os gritos de Erin vindos da cozinha, mas não tinha tempo para interceder, Jarbas cuidaria disso como sempre fez.

− Terei que ir até o departamento, deixei sobre a mesa.

− Inferno! – esbravejei.

− Calma, Aaron. Ainda hoje você terá esse endereço. Mas você vai ficar me devendo uma explicação sobre o motivo de tanta ansiedade e não venha com aquela história de que bateu no carro e quer pagar o dano.

− Eu explico, mas primeiro me mande esse endereço o quanto antes, Gary.

− Pode deixar, assim que possível passo no escritório para pegá-lo.

Isso aconteceu somente no final da tarde. Não voltei para casa, passei o dia com meus pais. Precisava acertar os últimos detalhes da cerimônia de quinta-feira, seria o primeiro evento social que papai participaria depois do AVC e eu queria que fosse perfeito.

O endereço me levou até um bairro do outro lado da cidade, as casas eram simples, pessoas iam e viam com suas sacolas de compras, crianças andavam de bicicleta, homens cortavam seus gramados. Durante todo o trajeto, pensava nela. Na loucura que fora aquela noite e na dor que sentia naquele momento com a simples ideia de não tê-la novamente. Toquei a campainha da casa do final da rua. Uma casa simples. Por que Amber Xavier morava naquele bairro, se era herdeira de uma das maiores fortunas do país?

−Bruce? O que você faz aqui? – falei surpreendido, ao ver o advogado abrir a porta usando jeans e uma camiseta.

− Senhor Thompson? – Ele parecia mais surpreso que eu. − Aconteceu alguma coisa, o senhor precisa de mim, era só ter ligado, que eu...

− Não, não aconteceu nada. Eu estava procurando o dono de um Wolkswagen azul que...

− O carro da Amber? – o homem perguntou confuso.

− Amber? – me fiz de desentendido.

− Minha esposa – engoli em seco. – Ela usa o Wolks, mas não estou entendo, qual o seu interesse no carro da minha esposa? – ele era sagaz. Não era à toa que caiu nas graças do J.J.

− Eu me envolvi em um pequeno acidente com esse carro outro dia, queria pagar os reparos. – Bruce me olhou desconfiado.

− Não se preocupe, a lataria daquele carro está tão amassada que não vai fazer diferença uma a mais – respondeu com desdém.

− Eu poderia falar com a sua esposa para me desculpar. – Eu precisava vê-la.

− Ela saiu com a nossa filha, deve ter ido visitar a mãe.

− Filha?

− Sim. Nossa filha Sky. O senhor não quer entrar? – ele deu passagem. Eu estava curioso e ao mesmo tempo incomodado ao imaginar Amber com aquele homem que sempre me pareceu uma raposa, pronta para atacar uma presa indefesa. Nunca confiei nele e foi contrariado que acatei o desejo de J.J. de promovê-lo. Agora gostava menos ainda. A casa era modesta, mas os móveis eram de bom gosto e tudo estava arrumado, organizado com capricho. Caminhei até a parede de fotos, lembrei da garota assustada que encontrou a foto do amigo de infância  e deixei um sorriso escapar dos meus lábios. Entre tantas fotos, lá estava uma dela com a minha Mily. As duas brincavam com seus maios coloridos à beira-mar.

− Apesar de ser de uma família rica, minha esposa é meio cafona e adora essas fotografias, encheu delas – falou o homem as minhas costas. Olhei para ele com desdém e ele imaginou que eu estava desaprovando a decoração. – Essa casa é provisória, estamos construindo uma maior em um bairro nobre da cidade, não sei se o senhor conhece os Xavier?

− Sim, a Construtora – respondi, tentando parecer desinteressado.

− O Xavier, dono da Construtora é o pai da minha esposa – disse se vangloriando. – Em breve estaremos morando em uma mansão que ele está construindo para a filha. Isso aqui é provisório – explicou.

− Eu preciso ir, sua esposa vai demorar, certamente? – perguntei caminhando em direção a porta, mais um minuto com aquele homem e perderia a cabeça. – Mas com certeza, o senhor a levara na Cerimônia de quinta-feira – pela expressão do homem, ele não pensava em levá-la. – Então terei a oportunidade de me perdoar pelo ocorrido.

− Claro, Amber me acompanhará à Cerimônia do Lançamento do Projeto das Torres T.

− Perfeito – disse me despedindo do homem que tinha em sua cama a mulher que me enlouqueceu a noite passada. Fechei a mão em punho enquanto caminhava até o carro, estacionado no outro lado da rua. Assim que embarquei, o celular tocou.

− O que ela fez? – perguntei, esperando que Jarbas tivesse uma boa desculpa para não ter evitado aquele escândalo. − E você não conseguiu evitar que chamassem a polícia? – esbravejei ao telefone. Aquele final de semana prometia. – Eu vou até a delegacia dar um jeito nisso. – desliguei o telefone. Erin havia destruído o Hall de Entrada do prédio depois que foi colocada para fora pelo meu mordomo. Ela fingiu estar conformada, saiu do apartamento sem questionar, Jarbas a acompanhou até o elevador parar no térreo, ela desembarcou, ele não. Esse breve descuido e a garota teve o seu ataque de fúria. Alguns moradores presenciaram a cena e a polícia foi imediatamente acionada. Agora dirigia em direção a delegacia para tentar retirar a queixa e tentar liberar a garota surtada.

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