Doce Traição

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− Mamãe, a vovó Olga e o vovô Pepe vão me levar ao museu amanhã. O vovô disse que tem um dinossauro feito de ossos lá.

− Mesmo, meu amor? – perguntei sentindo o meu peito apertado por estar longe dela.

− Tem múmia e um homem de lata que nem no Oz.

− E tem a bruxa do leste?

− Tem a bruxa do leste, vovô? – ouvi Sky perguntar para o Pepe do outro lado da linha. – Não, só de mentirinha.

− Legal, vai ser super divertido! – tentei parecer empolgada, ainda usava o vestido que comprei sem saber como iria pagar. O cabelo com um coque no alto da cabeça e a maquiagem barata que adquiri na farmácia da esquina. O sapato não era novo, meu pé não havia crescido desde os dezessete, quando comprava sapatos caríssimos feitos para durar para sempre. Era um desses que usava. Liguei para Pepe para dizer que iria buscar Sky depois que recebi o telefonema de Bruce, mas eles pediram para que eu a deixasse passar a noite e o sábado com eles. Já tinham feito toda uma programação para o dia seguinte. Eu cedi, Sky estava eufórica. – Então, agora vá dormir, meu amor. E obedeça a vovó Olga e o vovô Pepe, ok?

− Ok, mamãe! Te amo! Posso dar boa noite pro papai? – perguntou com um bocejo.

− O papai ainda está trabalhando. Mas amanhã quando você voltar pra casa ele estará te esperando para te encher de beijos.

− Boa noite, mamãe.

− Boa noite, filhinha. – Conversei mais um pouco com o Pepe. Não era a primeira vez que eles ficavam com Sky um sábado inteirinho. Mas desta vez eu me sentia triste. Talvez porque Bruce não estaria comigo. Eu me sentia abandonada. – Bobagem, Amber. Seu marido está trabalhando e logo estará em casa – falei em voz alta. Fui até o quarto, tirei o vestido, os sapatos, lavei o rosto no banheiro, soltei o cabelo. Vesti um jeans velho e uma camisa banca com botões na frente. Dobrei as mangas e olhei em volta. Precisava achar algo para passar o tempo. Lembrei das roupas que separei para lavar à mão. Algumas camisas do Bruce e roupinhas delicadas da Sky. Caminhei até a área de serviço e comecei a separá-las. Coloquei alguns vestidos de Sky em uma bacia de molho no sabão líquido, enquanto examinava as camisas de Bruce para ver se precisavam de algum reparo, era eu que pregava botões e costurava quando necessário, apesar de Bruce sempre ter roupas novas e caras. Foi quando a vi. Ela estava lá, perfeitamente desenhada em seu colarinho branco, em tons vermelhos. Uma boca perfeita. Deixei a camisa cair da minhas mãos, senti uma dor no estômago, seguida de uma sensação de fraqueza, como se o chão de repente desaparecesse. Escorei-me na máquina de lavar roupa. Olhei para o tecido branco no chão, talvez houvesse alguma explicação para uma boca vermelha estar desenhada na roupa do meu marido. Lembrei da aliança, encontrada àquela manhã no armário do banheiro. Pensei que havia sido apenas um esquecimento, mas agora...

− Bruce, você não pode estar fazendo isso com a gente? Não pode. Eu te amo e tem a Sky... – Peguei a camisa no chão e levei até o quarto, a deixei sobre a cama. A dor no estômago persistia e aquela sensação de estar sem chão ainda não havia passado. Eu me sentia doente. Meu olhos ardiam. Peguei o telefone e liguei para ele uma série de vezes, todas as ligações caíam na caixa de mensagens. Ele deve estar na reunião. Reunião? Que reunião? De repente tudo fez sentido, não havia reuniões, aquilo era mentira, tudo era mentira. Toda a minha vida com Bruce era um mentira. Minha mente foi invadida pela voz do meu pai me acusando, me humilhando. – Não! – gritei, secando as lágrimas. Deve haver uma explicação e ele vai ter que dar essa explicação agora. Procurei a chave do Wolks, estava sobre uma armário na cozinha. Não tive tempo para trocar de roupa, iria até a Faces, invadiria a tal reunião se fosse necessário e faria ele me explicar o que significava aquele batom. Se é que havia explicação. Por algum motivo, talvez por vários, me sentia cansada. Bruce mudou desde que conseguiu aquele emprego. Ficou mais vaidoso, o que considerei normal. Exigiu que vendêssemos nossos carros e comprássemos um melhor para ele, nos endividamos, fiquei com o Wolks, o carro mais barato que encontramos, o único que coube no nosso apertado orçamento. Ele precisou de roupas melhores, de sapatos melhores. Agora descobri que de mulheres melhores também. Não estranhei as chegadas na madrugada, isso era uma constante. Primeiro os estudos, depois o trabalho. Nosso sexo era inexistente, ele não me procurava, durante algum tempo eu insisti. Eu o amava e o desejava. Ele foi o único, me seduziu quando nos conhecemos, quando me beijou na festa na casa da Summer eu o desejei, me entreguei a ele na semana seguinte, ele foi carinhoso, gentil, me tocou nos lugares certos, beijos onde me excitava e mordeu onde me enlouquecia. Mas depois de Sky tudo mudou, não me procurava como antes, nosso sexo era sem preliminares, sem carinho. Abria minhas pernas e me possuía, gozava, tomava um banho e dormia. Eu ficava sedenta por mais, às vezes me tocava para terminar o que ele havia começado outras vezes respirava fundo e implora mentalmente para acabar o quanto antes, tamanha a sua frieza. Tentei seduzi-lo, com roupas provocantes, com carinhos mais ousados, mas ele me afastava. Ele me ensinou a gostar de sexo, mas não me satisfazia mais. Mesmo assim não procurei outro alguém, isso não justifica uma traição, nada justifica. Eu não o perdoo! Nunca perdoarei!

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