Dirigi por horas, Sky adormeceu no banco traseiro. Eu estava exausta, não havia dormido na noite anterior, por motivos que não queria lembrar. Estacionei em um shopping, eu precisava de um lugar, não podia voltar para casa, não enquanto Bruce estivesse morando lá. Lembrar do seu toque, das suas palavras me causava repulsa.
Lanchamos na praça de alimentação, eu havia pego umas economias quando passei em casa, mas meu dinheiro estava acabando e a gasolina também. Então fiz o impensado, guardei meu orgulho, minha mágoa, minha dignidade e os procurei.
− Eu não sabia quem recorrer – expliquei com os olhos em lágrimas.
− Você sabe que sempre poderá contar comigo, querida – Ela falou colocando sua mão sobre a minha na guarda da delicada poltrona floral, no jardim da casa onde eu cresci. Olhei para Sky que corria com Poppy, o poodle de mamãe, no imenso gramado.
− Eu só preciso de um pouco de dinheiro, vou para um hotel com Sky até arrumar um lugar definitivo. – Não entrei em detalhes sobre os motivos que me levaram a deixar Bruce e ela não fez perguntas. Parecia que sabia, mas era tão discreta.
− Você pode ficar aqui, querida. Essa é a sua casa.
− Não, mamãe. Essa não é a minha casa há muito tempo.
− Querida, confie em mim. Você será bem-vinda hoje ou quando decidir, mas pense com carinho.
− Confiar em você, mãe? Você mentiu pra mim – disse magoada.
− Eu não menti, só ocultei os encontros do seu pai com a nossa netinha.
− Por quê? – Eu sempre imaginei que meu pai rejeitava a neta, assim como rejeitava Bruce. E agora descobrir que ele sentia carinho por Sky me surpreendeu. Eu me sentia confusa, minha vida estava de cabeça pra baixo. Eles me enganaram, todos me traíram, meu pai, minha mãe Bruce e Aaron. Droga! Sentia vontade de me jogar nos braços da minha mãe, como fazia quando era menina, e chorar contando meus segredos e recebendo os seus conselhos.
− Você concordaria? – fiquei sem resposta. Ela continuou. – Eu fiquei no meio de vocês dois, dois cabeças duras. Você e seu pai. Ele errou quando te expulsou, errou quando te deserdou, errou em não respeitar a sua escolha. Mas, mesmo que você não acredite, ele se arrependeu profundamente.
− Isso é mentira! – acusei, já havia passado anos, ele poderia ter dito uma palavra, somente uma para que minha vida ficasse mais feliz.
− Não – mamãe contestou com a voz sempre serena. Uma característica da Senhora Xavier.
− Por que ele não me procurou?
− Porque é um teimoso, orgulhoso. Como você! – pensei em me levantar e sair dali, não queria ouvir aquelas acusações, mas de repente me dei conta que fazendo isso estaria concordando com ela. – Ele sofre todos os dias com a sua ausência, mas não consegue suportar a ideia de ver a menina dele casada com "aquele homem". Já foi uma centena de vezes ao seu encontro, mas na hora, desiste. Desiste por saber que não será perdoado se não aceitar o seu amor por Bruce e isso ele não consegue.
− Eu vou tentar, querida – a voz embargada de papai as minhas costas fez com que eu me virasse em sua direção. – Se você conseguir me perdoar, eu te prometo que aceito Bruce em nossa casa e prometo que o tratarei como a um filho. – Engoli em seco. Não esperava por aquilo, lágrimas deslizaram pelo seu rosto e caminhei até ele. – Amber, por favor, me perdoa. Eu não consigo mais viver sem você, minha menina . Apesar de saber que o que eu fiz não merece ser perdoado! – Eu o abracei, ele me envolveu em seus braços. Queria dizer que ele tinha razão, que Bruce não prestava, que eu deveria tê-lo ouvido desde o começo. Mas os soluços e as lágrimas me calaram.
− Você pode ficar aqui o tempo que quiser, filha! – mamãe me acomodava no quarto que um dia foi meu e que continuava com a mesma decoração.
− Vocês redecoraram toda a casa, por que aqui continua igual? – perguntei curiosa.
− Seu quarto se transformou no refúgio do seu pai, tem dias que ele se tranca aqui e fica horas olhando para as suas coisas. Muitas vezes dorme coberto por suas fotografias – havia tanta tristeza em sua voz.
− Mãe, minha teimosia causou tanta dor para vocês – disse profundamente arrependida. – Se eu tivesse ouvido o papai, não estaria agora nessa situação. – Ela sabia do que eu estava falando, conversamos por horas, enquanto papai, Poppy e Sky se divertiam nos jardins.
− Você se transformou em uma mulher forte, digna, uma mãe exemplar. Não se arrependa, querida. Foi bom por um tempo, acredito que Bruce te amou, mas existem coisas que estão tão arraigadas em seu caráter que acabam vindo à tona, mais cedo ou mais tarde.
− Não, ele sempre foi um mau caráter, eu que era cega. – Aquela constatação doía, mas havia um outro sentimento dentro de mim que deixava essa dor sem importância. Aaron, Aaron ocupava meus pensamentos, mesmo querendo esquecê-lo, seus beijos, seu carinho me atormentavam. Mas ele era igual ao meu marido e eu estava cansada de "Bruces" em minha vida.
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Histórias de Desamor
RomanceUma serie de encontros e desencontros de pessoas que só queriam viver uma história de amor.