Ameaças

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− Há dois dias que tento falar com você, Phoebe. – Ela exigiu que eu levasse uns documentos até a sua sala, eu não queria conversar com Tracy, me sentia traída e envergonhada. – Por que foi embora? Onde está morando?

− Estou na casa do Bobby , ele me ofereceu um quarto quando eu estava procurando um lugar para morar e ainda estava vago...

− Ainda estava vago porque ele é um porre, ninguém consegue morar com aquele chato.

− Eu vou conseguir – declarei conseguindo, finalmente, encará-la. Seu olhar era de preocupação.

− Seu lugar é no meu apartamento, Phoebe. Somos amigas, quem vai ouvir minhas confidências agora? – disse segurando as minhas mãos.

− Eu não sou a melhor ouvinte – disse com um sorriso amarelo, lembrando a nossa última conversa.

− Você é a melhor ouvinte e a melhor conselheira. – olhei para ela tentando entender o que aquilo significava. Tracy sorriu, seu olhar tinha um brilho diferente, parecia mais jovem e descontraída.

− Eu resolvi mudar, você me fez pensar sobre o meu comportamento um tanto promíscuo, apesar de eu ser uma mulher moderna e não dever satisfação dos meus atos para ninguém. Resolvi me dedicar a um homem de cada vez.

− O quê? − perguntei perplexa. − Você será monogâmica?

− Um de cada vez, isso não significa que será apenas um no mês por exemplo. Se não der certo passo para o próximo.

− Mas pelo menos tentará fazer dar certo? – questionei esperançosa.

− Tentarei, se for a pessoa certa, tentarei. – Eu a abracei, sabia que não era feliz e sempre tive esperança que um dia tentasse encontrar alguém que verdadeiramente a amasse, mas para isso ela tinha que dar uma chance para o amor. – Sem draminhas – disse com a voz embargada. – Agora quero que volte para casa, sinto a sua falta.

− Não posso, você sabe que não posso.

− Steve não está mais morando comigo – um misto de sentimentos me atingiu com aquela informação. Nenhum era bom.

− Ele voltou para a namorada? – Diz que não, por favor!

− Não sei, mas quando vi o bilhete que você deixou na geladeira dizendo que estava indo embora eu dei um jeito de colocá-lo pra fora. Ele foi um babaca com você, Phoebe. Não podia compactuar com isso.

− Obrigada – respondi tentando parecer animada, mas um nó na minha garganta fez a minha voz falhar.

− Você não se apaixonou por ele né – Não respondi, apenas olhei para ela. − Phoebe?

− Não, claro que não, só mais uma decepção – falei resignada, impedindo que lágrimas deslizassem pelo meu rosto.

− Ele é o meu irmão, mas não quero te ver sofrendo por um amor impossível. Steve é apaixonado por Erin, eles já terminaram uma dezena de vezes, mas é só ela ligar choramingando que ele volta correndo – disse me olhando com pena. Eu não precisava ouvir mais nada, tinha desistido dele no momento que deixei aquele quarto. Não queria mais sofrer como antes, mas estava sofrendo.

− Eu sei, por isso fui embora.

− Mas você não precisava ir, aquela é a sua casa. Se alguém tinha que sair, era ele. – Nesse momento alguém entrou na sala. Disfarcei, mexendo nos papéis sobre a mesa, mas reparei que a postura de Tracy se modificou totalmente, ficou tesa, fria.

− Boa dia, senhorita Stanford. – a voz sensual de Bruce Garret soou. – O Senhor Thompson me aguarda.

− Só um momento, vou anunciá-lo.

− O Senhor Garret está aqui, Senhor Thompson – falou ao interfone. – Pode me acompanhar – disse se dirigindo ao diretor que mantinha um sorriso no canto dos lábios, enquanto olhava para a minha amiga com visível cobiça.

− Quero te ver hoje – ele murmurou se aproximando de seu ouvido, ela se retraiu, era a primeira vez que via Tracy desconsertada diante de uma cantada.

− Isso não vai acontecer – disse se afastando do homem de terno impecável. − Nunca mais – completou.

− Eu que decido quando parar – Bruce ameaçou segurando-a pelo braço. Eu me aproximei encarando-o.

− Solte-a – gritei. Talvez por medo de um escândalo, ele obedeceu. Olhou ameaçadoramente para as duas e entrou na sala da presidência. – Você está bem? – perguntei para Tracy que olhava para as manchas avermelhadas causadas pelos dedos do seu amante.

− Será que vai ficar roxo? – perguntou sem me mirar. Olhei para o braço.

− Acho que sim – respondi.

− Vou ter que escolher outro vestido para a festa de quinta, falou me olhando nos olhos, só então notei as lágrimas.

− Tracy... – murmurei abraçando-a com carinho.

− Eu me sinto suja por ter saído com esse homem – confessou soluçando. Caminhamos até o sofá de tecido branco, reservado aqueles que ocasionalmente se encontravam com Aaron Thompson, e sentamos. Ela se recompôs. – Bruce está me assediando desde que disse que não queria mais nada com ele. Fica me ligando, dizendo obscenidades, me perseguindo nos corredores da Faces. Ontem foi até o meu apartamento, eu estava sozinha, Phoebe. Entrei em pânico.

− Ele entrou? – indaguei assustada.

− Não, ameacei chamar a polícia e ele acabou indo embora. Mas sei que não vai parar... Ele não sabe receber um não.

− Precisamos denunciá-lo – aconselhei para a Tracy fragilizada que eu não conhecia.

− Não, eu tive um caso com ele, eu sei como funcionam essas coisas, acabarei sendo humilhada por policiais machistas.

− Vamos até a delegacia da mulher, Tracy. Você não pode viver sob ameaça e com medo.

− Volta pra casa, com você lá me sentirei mais segura – implorou.

− Eu voltarei – prometi segurando as suas mãos. − Mas pensa sobre denunciá-lo, eu irei com você. Ela mordeu os lábios.

− Eu vou pensar. 

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