A garota do elevador

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−Aonde você vai? – ela caminhava na ponta dos pés. Segurava o sapato de salto nos dedos para não fazer barulho. Usava um vestido justo e curto e na boca um batom vermelho.

− Eu, eu ... a agência ligou. Tenho uma sessão de fotos para uma campanha – mentiu, mas eu não contestei. Estava cansado daquelas discussões intermináveis. Levantei do sofá com as costas doloridas. – Você pode deixar a chave na portaria quando sair – falou calçando os sapatos e tocando um beijinho com os dedos.

− Ok – respondi quando ela já estava longe. Hora de sair de cena. Tomei um banho demorado, arrumei minhas roupas dentro de uma mochila e me despedi do apartamento com paredes decoradas por fotografias gigantescas da modelo que não era mais tão famosa, mas continuava linda. Não sabia se ela mentia, realmente, sobre a sessão de fotografias, algumas vezes elas eram marcadas com antecedência outras eram agendadas em cima da hora. Nessas, Erin geralmente substituía outra modelo que, por algum motivo, que ia de um simples resfriado a um contrato milionário com alguma marca famosa que, agora, exigia exclusividade, não podia fotografar. Ela era rica, mas o dinheiro não era suficiente, queria a fama do passado de volta. Estava com quase trinta e isso significava que tinha pouco tempo.

Estacionei o carro em uma rua lateral, o apartamento de Tracy ficava em uma avenida arborizada e de pouco movimento, um bairro antigo da Capital, onde os prédios foram construídos em uma época que as pessoas não tinham carros, por isso não havia garagens, obrigando seus moradores atuais a deixarem seus carros estacionados na rua. Era praticamente impossível encontrar uma vaga, principalmente aos sábados, quando todos estavam em casa. Peguei minha mochila no banco de trás, a pasta com o notebook e caminhei até a minha nova casa provisória. Toquei o interfone, ninguém atendeu.

− Droga, Tracy, você sabia que eu vinha – resmunguei, olhei para as mensagens enviadas na noite anterior. Não havia visualizado. Ela não sabia que eu viria. – Inferno! – liguei para o seu celular, caixa de mensagens. Sentei na escadaria em frente ao prédio e esperei por mais de uma hora e nada da minha irmãzinha chegar ou atender ao telefone. – Alô, Dustin?

− Não, é a Madonna – a voz arrastada de quem estava acordando de uma ressaca soou do outro lado da linha.

− Madonna, vamos tomar um café no Carlos?

− Um pretinho com queijo quente? Só se for agora!

− Te encontro lá. – Voltei para o carro, atirei minhas coisas no banco detrás e dirigi até o botequim que servia o melhor café da Capital. Não demorou para que o meu amigo de barba por fazer, cabelo sem corte, camiseta amassada e calça jeans dois números maior chegasse com seu jeito desleixado. Apesar de ser totalmente desligado do mundo fashion, era assim que Erin o denominava, ele era um cara que tinha sorte com as mulheres. Elas o achavam divertido e isso, por incrível que pareça, era um dos requisitos para se entregar a um total desconhecido no primeiro encontro. Não lembro de Dustin ter um relacionamento sério, sempre estava com alguém, mas esse alguém nunca se repetia mais de uma vez.

− Daí? Levou outro pé na bunda? – perguntou alto demais, alguns senhores de idade avançada, que liam seus jornais, riram da minha tragédia.

− Não, decidimos dar um tempo, ver como as coisas ficam – expliquei para toda a plateia.

− Sério, cara? Você vai dar um tempo pra aquela vadia dar pro riquinho até cansar e depois voltar pra você?

− Ela disse que não tem mais nada com ele, que foi um erro.

− E o paspalho acreditou?

− Eu não te convidei para um café, pra você ficar me enchendo o saco – falei perdendo a paciência. Beth chegou com os nossos cafés e dois pratos com os saborosos queijo quente.

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