− Como assim? – perguntei perplexa. Estávamos sentados no escritório de meu pai, uma sala repleta de estantes com livros técnicos de Engenharia, arquitetura, designer. Quando pequena, enquanto ele se debruçava sobre a mesa de desenho eu ficava sentada no grande tapete cinza fazendo projetos de casinhas coloridas, com chaminés e jardins floridos. Na parede, atrás da escrivaninha de mogno, um desses desenhos emoldurados, nele além da casinha, havia uma família de mãos dadas, Papai, Mamãe e Amber.
− Ele quer a guarda da filha, entrou com o pedido antes que entrássemos com o divórcio.
− Mas ele não pode fazer isso? – disse quase em desespero.
− Pode? – foi meu pai quem perguntou. Ele estava ao meu lado e segurou a minha mão numa tentativa de proteção, mas naquele momento, meu chão estava desaparecendo. Aquilo não podia ser verdade.
− Infelizmente, Senhor Xavier, ele tem todo o direito de pedir a guarda da filha, não significa que conseguirá, mas quanto a guarda compartilhada...
− O que tem a guarda compartilhada? – minha voz saiu estridente, quase um grito.
− Ele é o pai e vocês tem o mesmo direito, o tempo que cada um ficará com a pequena Sky será dividido igualmente.
− Não, ele não tem esse direito! – Levantei da poltrona e comecei a caminhar pela sala. – Ele nunca cuidou da filha, ele não sabe qual o seu desenho favorito, do que ela gosta de comer, que tem medo de tempestade e dorme encolhidinha agarrada no urso que recebeu o nome de Bolota por causa do nariz arredondado. Ele nunca a viu dançar ballet, quando ela está doente e choraminga ele pede que a afaste para não perturbá-lo. −Meu Deus, com que homem eu fui casada? De repente percebi o quanto Bruce foi um pai ausente, um marido ausente.
− Na verdade, Amber, o juiz já marcou uma audiência para que vocês façam os acertos.
− Acertos? – eu sabia que acertos, mas estava zonza com toda aquela informação, ele queria se vingar? Era isso? Só pode ser, não tinha outra explicação.
− Acerto dos dias que Sky ficara com ele. Segundo me informaram fez um teatro diante da juíza, chorando por ficar longe da filha, ela se compadeceu e agilizou tudo para que ele possa vê-la.
− Cretino! – papai esbravejou. – Não se preocupe, filha, daremos um jeito nisso.
− Desculpa, senhor Xavier, mas a única maneira de revertermos essa situação seria acusando-o de algo grave contra a integridade da menina.
− Não – falei. – Isso não. Bruce foi relapso, mas nunca fez mal à Sky.
− Então, teremos que acatar a decisão da juíza.
− Que dia é a audiência? – perguntei para o homem magro, de estatura mediana, o único que permanecia sentado naquela sala.
− Segunda-feira – olhei desesperada para o meu pai, esperando que ele tivesse uma solução. Mas ele estava cabisbaixo. Eu não podia concordar com aquilo, ele não ia me tirar Sky. – Eu tenho que lhe dar um conselho, Amber. – Olhei para o Jean, o advogado, um homem de meia idade, filho de um amigo de meu pai, de longa data. – Não se precipite, não faça nada impensado. Bruce está disposto a tudo para ter Sky definitivamente, qualquer deslize e ele pode conseguir.
− É dinheiro que ele quer – meu pai disse de repente. – Ele sabe que não deixarei minha neta desamparada, ele quer a herança de Sky. – Aquela constatação me causou um terrível mal estar, coloquei minha mão no estômago, senti que ia desmaiar. Sabia que ele estava certo e ver o quanto eu fui tola esses anos todos fez com que minhas forças se esvaíssem. Papai me amparou. – Filha?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Histórias de Desamor
RomanceUma serie de encontros e desencontros de pessoas que só queriam viver uma história de amor.