Não me olha assim

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− Milly, isso não tem graça! – gritei mais uma vez, meus pés afundavam na areia branca, a brisa gelada que vinha do mar indicava uma mudança brusca de temperatura. Uma tempestade se aproximava. O dia que amanheceu ensolarado deu lugar a um entardecer triste e sombrio. – Milly, apareça! – O vento levantou a areia e meus olhos ardiam, a tempestade chegou com força e em poucos segundos tomou conta do litoral. Olhei para os lados, os grossos pingos de chuva machucavam meus braços. Eu usava uma camiseta vermelha com o desenho de um personagem HQ estampado na frente e uma bermuda preta de tecido impermeável. Havia voltado para buscá-la, havia ensaiado um sermão sobre a sua demora em voltar para casa. Mas eu não a encontrei, nunca mais a vi. A culpa era minha, eu não devia tê-la abandonado. Era minha obrigação ficar com ela, protegê-la e eu falhei. Minha irmãzinha de seis anos desapareceu em uma tarde de verão na praia de Salina e a culpa era minha, só minha. Um grande estrondo, um raio desenhado no céu. Sentei ofegante na cama. Esfreguei meus olhos com as mãos, lágrimas. O sonho, o mesmo sonho de dezoito anos atrás estava de volta, acompanhado por um doloroso sentimento de culpa. Uma culpa que nunca me deixou, mesmo depois de um longo tratamento psicológico. Eu sabia por que todo aquele sofrimento estava de volta, sabia qual era o motivo daquelas lembranças voltarem a me assombrar e ele estava deitado ao meu lado. Olhei para ela, que dormia nua e tranquila abraçada ao travesseiro. Seus cabelos estavam secos e formavam pequenos cachos dourados sobre o lençol preto. Amber, Amber Xavier, a amiga chata e irritante da minha irmã Milly. Eram inseparáveis. Os dois meses que meus pais passavam em Salina todos os verões eram os mais torturantes da minha vida. Eu era a babá daquelas meninas e ser babá de duas garotinhas era o que havia de mais chato para um garoto que estava prestes a entrar na puberdade. Ficávamos isolados do mundo em um trecho de praias particulares na bela praia de Salina. A mansão dos Xavier ficava ao lado da nossa, mas isso não significava perto. Existia uma extensa faixa de terra formada por dunas que as separavam. Naquele dia, Amber e Milly se desentenderam por um motivo qualquer, não estava prestando atenção nelas, lia uma revista do Zagor em uma cadeira, protegido do sol por um dos gazebos, que meus pais espalhavam pela faixa do litoral que pertenciam a nossa propriedade. Elas corriam usando seus maiôs coloridos. De repente Milly começou a chorar, olhei para elas e uma Amber emburrada caminhava com passos firmes em direção à casa.

− Eu vou brincar sozinha, não preciso de você para me divertir – Milly gritou com as mãos serradas ao lado do corpo. Revirei os olhos e continuei a ler a revista de histórias em quadrinhos.

− Pois eu não sou mais sua melhor amiga pra sempre – a menina com chiquinhas gritou e seguiu correndo em direção à mansão. Certamente chamaria seus pais para buscá-la. Isso significava que a minha irmãzinha iria me atormentar para ser seu parceiro de brincadeiras de menina. Nesse momento fiz o impensado. Deixei-a sozinha. Fugi da tarefa de ser um príncipe encantado, um pirata perdido, um astronauta em órbita ou um monstro marinho. Eu abandonei minha irmãzinha sozinha a beira mar para nunca mais vê-la com vida.

Olhei para Amber e a lembrança da menina que chegou, naquele verão, banguela em nossa casa me fez sorrir. Eu a apelidei de desdentada. Não imaginei que ficaria tão linda. Acariciei o seu rosto e ela suspirou, ajeitando o travesseiro em seu abraço. Meus dedos deslizaram pelo seu corpo até o quadril, senti sua pele arrepiar. Beijei o seu ombro, ela despertou.

− Oi... – sussurrou enquanto emaranhava seus dedos em meus cabelos, eu aproximei meu rosto do seu, minha mão pousou em seu ventre.

− Eu te acordei? – perguntei beijando seus lábios, ela enroscou suas pernas em minha cintura, entre nós o tecido fino do lençol impedindo que eu a penetrasse.

− Humm, humm – gemeu, mordendo levemente minha boca e sugando-a, meu pênis pulsou, duro. Puxei o lençol tirando-o do meu caminho e a penetrei sem proteção. Era a primeira vez que fazia aquilo, era a primeira vez que perdia totalmente o controle. Senti o calor e a umidade do seu sexo me recebendo, me envolvendo, me devorando. Deslizei minha mão subindo pela sua coxa, meus dedos afundaram em sua parte macia e arredondada, pressionando seu corpo para cima, para que meu pênis fosse mais fundo. Ela ofegou, deliciosa. Meu membro quase a abandonava, minha glande tocava seus lábios e voltava para o calor do seu corpo, lambuzada pela sua excitação. Senti a compressão do seu pulsar, um aperto indecente, involuntário, devasso. Senti os espasmos do seu orgasmo, o estremecer do seu corpo, ouvi o seu gemido, como um sopro. Não acelerei meus movimentos, meti devagar, queria prolongar o prazer. Mas com Amber, eu não estava no controle, havia algo que me deixava impulsivo, inseguro, refém. Senti suas mãos descerem pelo meu peito até a minha pélvis, ela tocou o ponto onde nos encaixávamos, elevando o quadril, me forçando a ir mais fundo. Amber tocou o seu clitóris, provocando um novo orgasmo, suas pernas roçaram no meu quadril, eu não resisti a toda aquela entrega. Meu coração descompassou, minha respiração falhou, dos meus lábios um grunhido de prazer rompeu o silêncio da noite e um jato de sêmen invadiu o corpo de Amber quando explodi de prazer.

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