A fuga

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Pensava no homem que havia deixado dormindo, aquela manhã, enquanto descia do taxi e caminhava em direção à casa dos Xavier, lembrei das suas últimas palavras e uma dor dilacerante rompeu no meu peito. Eu precisava contar para os meus pais da minha decisão, não ia mais brigar com Bruce, voltaria para ele e pediria perdão. Imploraria para papai que me desse minha herança e com sorte ele voltaria a ser o marido ausente, me deixando cuidar de Sky sem a sua interferência. Aqueles pensamentos me causavam repulsa, mas nesse momento eu precisava pensar em Sky, eu não permitiria que ele ficasse com a minha filha, não depois da aberração que se revelou na noite passada.

Sky havia dormido na casa do Pepe, iria buscá-la mais tarde. Precisava de um banho, meu corpo estava dolorido, havia manchas vermelhas nos meus pulsos e nas minhas pernas.

− O que aconteceu? – perguntei assim que abri a porta. Eu ainda usava as roupas do dia anterior, estava sem maquiagem, o cabelos bagunçado.

− Você está bem, meu amor – mamãe veio me abraçar, sua aflição me preocupou.

− Aconteceu alguma coisa com a Sky? – perguntei atônita.

− Não, querida – papai respondeu. – Ela ainda está com a Olga e o Pepe.

− Então? – pensei que aquela angústia era por minha causa, mas então percebi que havia mais alguém na sala. Era o Doutor Ford.

− Podemos conversar em particular? – ele indagou me lançando um olhar preocupado.

− Não há necessidade, fale o que tiver que falar na frente dos meus pais – respondi.

− Bruce está hospitalizado e acusa você de agressão. – ele disse sem rodeios.

− Hospitalizado? Agressão? – sentia-me perplexa.

− Ele sofreu uma fratura peniana e teve que passar por uma cirurgia. – mordi os lábios. Minhas mãos suavam frias. − Ele disse que foi você – completou visivelmente constrangido.

− Mas... – Eu não pretendia machucá-lo, apenas me livrar do seu toque.

− Bruce registrou uma queixa contra você, Amber.

− O quê? – mamãe colocou as mãos sobre meus ombros.

− Ele alega que você é uma mulher descontrolada, que põe em risco a vida de Sky, entrou com um pedido de guarda provisório, que está sendo analisado nesse momento.

− Mas ele tentou... me... – engoli em seco, olhei para o meu pai e para mamãe. – Ele tentou me violentar, eu me defendi. Foi a única forma que achei de me livrar dele.

− Ele te machucou? Podemos fazer um exame de corpo delito e provar que Bruce está mentindo – o advogado falou confiante. Lembrei das manchas rochas nos braços, mas também lembrei das outras manchas, lembrei do que havia feito com Aaron na noite passada...

− Eu não posso... – falei, subindo as escadas desesperada, correndo em direção ao meu quarto.

Coloquei algumas roupas em uma mochila, vesti um jeans, tênis e camiseta e voltei a procurar meus pais. Estavam sentados na sala de estar.

− Nós vamos conseguir provar que ele é um canalha – papai dizia tentando consolar mamãe. O advogado já havia partido.

− Eu preciso buscar a Sky – interrompi. – Você me empresta o seu carro? – a pergunta foi para Júlia Xavier.

− Claro, querida – disse com um sorriso triste, olhando para a bagagem em minhas mãos. – Você não vai voltar, vai? – Fiz que não com a cabeça, não conseguia mais falar, um nó na garganta me impedia.

− Não faça uma loucura, querida. – Papai se aproximou. − Nós vamos dar um jeito nisso – disse me abraçando.

− Eu tenho que ir para um lugar onde o Bruce não me encontre, pai. Ele vai usar a Sky para se vingar de mim, eu não vou suportar ficar longe da minha filha.

− Eu entendo, mas deixa eu te ajudar dessa vez? – aquilo cortou meu coração.

− Sim – respondi aos soluços. 

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