Edwain mal conseguiu dormir, pois esperava ansiosamente por aquele dia. Na noite anterior, Kandel explicou que começariam no dia seguinte, bem cedo. A claridade do dia já havia chegado, mas ainda faltava meia hora para o sol nascer. Sua porta se abriu e o príncipe saltou da cama.
Pode ver apenas os contornos do velho conselheiro que ainda mantinha certa forma física.
– Bom dia, príncipe Edwain.
– Bom dia, Kandel! – ele sorria, estava feliz, mas ao mesmo tempo apreensivo.
O conselheiro trazia consigo uma valise pesada. Ele a abriu e retirou algumas peças de roupa e colocou sobre a cama do menino.
– Escolha uma peça e vista-se.
Ele obedeceu animado. Observou que havia um uns pequenos retângulos vermelhos bordados nas mangas das camisas dentro de um escudo também de linhas vermelhas. Kandel pode ver o quanto o menino era franzino e desprovido de músculos. Duvidava que pudesse dar um bom guerreiro, mas ainda assim, estava disposto a lhe dar uma chance. Retirou de valise uma pesada caixa de madeira. Destrancou a fechadura e deu a chave a Edwain.
– Guarde bem isto, certo?
Ele fez que sim. – O que tem aí dentro?
Kandel abriu a caixa, que era dividida em dezenas de pequenos compartimentos, cada qual, abrigava uma pequena garrafinha. Ele pegou uma delas e agitou e mostrou ao príncipe. O líquido borbulhou e assumiu uma coloração viva, quase como se brilhasse com luz própria.
– Isto aqui é o seu disfarce. Vai precisar de uma destas por dia.
– Magia, né?
– Sim, irão fazer com que se pareça com outra pessoa.
– Poderei escolher minha aparência?
– Não.
Edwain deu com os ombros, pegou o frasco e observou o líquido com admiração. Olhado bem de perto, parecia que estava vivo.
– Beba.
Edwain tomou um gole e fez uma careta. – É horrível!
– Tome tudo logo e não reclame. Um gosto horrível será o menor de seus problemas.
O príncipe obedeceu e tomou todo o resto de uma vez.
– E então? Funcionou? – Edwain estranhou o som de sua voz, pareceu um pouco mais grave.
– Sim, olhe-se no espelho.
Edwain se assustou. Tinha a aparência de um estrangeiro. Sua pele era muito branca, as bochechas avermelhadas, olhos verdes, redondos e grandes. O cabelo ruivo e levemente encaracolado.
– O nome que irá usar é Eduard Redwall.
– Muro vermelho? Que tipo de nome é esse?
– Muralha vermelha... Eram nobres do oeste de Whiteleaf, de antes dos tempos do condado de Montgrey. Havia uma fortaleza de muralha vermelha que caiu há séculos. A casa acabou caindo dando lugar a uma linhagem de cavaleiros. Hoje, há pouca informação sobre a pequena nobreza de Whiteleaf e são raros os alunos que vem de lá e são aceitos na academia. Mas há de fato um velho de nome Redwall em Whiteleaf que tem um neto da sua idade. Seu nome é Odard, mas não sabemos o nome do neto ao certo. Achamos que Eduard vai facilitar as coisas para vossa alteza.
– Disse achamos?
– Claro alteza, pensa que estou dando conta disto tudo sozinho?
Edwain fez que não.
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Herdeiros de Kamanesh
FantasyCerca de vinte anos após a abertura de um novo elo para as dimensões abissais, e da liberação da praga de mortos-vivos sobre o reino de Lacoresh, um novo reino ainda frágil, Kamanesh, tenta se erguer das cinzas do antigo império. O jovem príncipe E...