Possuído

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— Entre, Redwall — Ordenou Ivrantz.

Eduard entrou na sala de estudos de Ivrantz. Era um salão amplo, bem iluminado, tomado de prateleiras, estantes e bancadas. Havia muitos livros empilhados, mas também, centenas de frascos e objetos de todos os tipos, quase tudo muito empoeirado. Ed torceu o nariz, o lugar fedia ainda mais do que a casa do velho Lorcas.

— Mandou me chamar, Mestre? — Ed perguntou algo óbvio, estava um pouco nervoso e sem saber o que dizer. Nos últimos dias, e em especial, depois do assassinato do Conselheiro Yourdon, Edwain sentia-se mal e imaginava coisas. Estava apavorado com a perspectiva da possibilidade de ter sido possuído por um demônio.

— Sim, venha até aqui e dispa-se.

Ed corou. — Como assim?

— Ora, rapaz, tire as roupas. Tudo, vamos! Não tenho o dia todo.

Ed deu passos lentos e, constrangido, tirou o uniforme e depois as roupas de baixo.

— Erga bem os braços — ordenou o velho.

Ed obedeceu e o velho olhou com atenção. Depois, pegou-o pelas orelhas e puxou-as para olhar atrás. Ele resmungou.

— Nada! Mas não é possível!

— Nada o que? O que estava procurando?

— Sinais, rapaz. Sinais que um vanush deixa.

— E não encontrou nada? — havia alívio e esperança no olhar do garoto.

— Não, nada, mas... — o olhar do velho se iluminou. — Mas é claro! Claro que não achei nada. Estou ficando velho e desmiolado!

Ivrantz agitou os braços e recitou uns versos arcanos. Estava desfazendo o disfarce. A ilusão que cobria o corpo de Edwain se dissipou. O mago logo foi erguendo os braços do príncipe para olhar embaixo. Observou a virilha com atenção deixando o rapaz encabulado e depois, puxou as orelhas.

— Ele estava certo... — deixou escapar quase um lamento.

— Certo? O que houve?

O mago olhou-o, mas não disse nada. Empurrou papéis e objetos para lá e para cá em cima de uma bancada.

— Aqui está — trouxe um pequeno espelho de mão. —Veja!

Indicou pares pequenos furos sob as axilas de Edwain, na virilha e também atrás de suas orelhas. Pareciam picadas de insetos, mas sempre regulares separadas por um dedo de distância.

— Mas o que é isso? — Edwain empalideceu. Ele já sabia o que era, mas não queria acreditar. Lembrou-se bem do que havia lido no livro com Arifa.

— São as marcas deixadas por um demônio, rapaz. Um vanush. — Ivrantaz mostrou a ilustração num livro que estava aberto sobre a mesa. Edwain já havia visto aquilo. Era uma coisa horrível, parecido com uma aranha, só que com mais pernas, antenas e tentáculos. Era pequeno, do tamanho de um gato.

Edwain estava chocado e começou a tremer.

— Os assassinatos do palácio... É bem possível que ele tenha usado seu corpo para executá-los.

Seus pensamentos estavam confusos. Sentiu-se usado, invadido, profanado. Queria lavar o corpo. Olhou para a janela. Sentiu uma enorme tristeza e desespero. Uma queda do terceiro andar talvez fosse suficiente para causar a morte.

— Tome um pouco disto — o velho mago ofereceu uma poção amarelada.

Ed bebeu e sentiu seu corpo se aquecer. Era uma aguardente num frasco de vidro trabalhado, e não uma poção mágica.

Herdeiros de KamaneshOnde histórias criam vida. Descubra agora