Na saída do palácio todos abriram caminho para ela como era de se esperar. Os sentinelas imaginavam que era algo sério para toda aquela pressa. Ela estava confusa. Todas aquelas ideias perturbadoras ecoavam em sua mente. Seu coração estava acelerado. Estava apavorada com a perspectiva de ter sido tomada por um demônio e assassinado o cavaleiro Henyl.
A imagem da adaga mencionada por Galdrik veio à sua mente. Sim, na noite passada ela esteve na Ala Real. Na antessala de estar onde foi ter com a princesa Kátia havia uma cristaleira que continha uma coleção de objetos acomodados em pequenas caixas ornamentadas e em almofadas. Entres estas, algumas das velhas adagas do antigo ducado.
Aquela discussão com a princesa havia sido irritante, ao mesmo tempo, frustrante. Já estava se preparando para se recolher quando um criado veio trazer a mensagem.
— Desculpe incomodá-la a esta hora, Capitã, mas sua Alteza, Princesa Kátia, deseja vê-la imediatamente.
— Muito bem, diga que estou à caminho.
Ela cumprimentou as três equipes de sentinelas que guardavam a Ala Real até chegar à antessala. Não era grande como um salão, mas também não era um cômodo pequeno. Era bem iluminado por algumas dezenas de velas arandelas distribuídas pelas paredes do cômodo. Havia um conjunto de poltronas, mas a capitã não se sentiu confortável para sentar, ficou de pé. O móvel de madeira e prateleiras de vidro havia chamado sua atenção. Ele gastou algum tempo fitando os objetos ali expostos, entre estes, algumas adagas.
Cavalgando pela Avenida das Espadas em direção à ponte para Clyderesh, ela imaginou a adaga em suas mãos, suja de sangue. Repeliu aquela ideia com raiva e voltou a pensar no encontro com a princesa.
Kátia entrou no cômodo e a Capitã fez uma vênia dizendo.
— Boa noite, alteza!
A princesa tinha uma expressão dura estampada na face. Vestia uma camisola sílfica longa e muito colorida com motivos geométricos. Coisa horrorosa. Eu nunca usaria algo assim, tão, tão, ridículo. A Capitã invejava mulheres com olhos bonitos como os da princesa Kátia. Era verdes e expressivos. Suas sobrancelhas eram grossas, mas bem desenhadas e o nariz, um pouco grande o que estragava um pouco a harmonia do rosto. Não fosse pelo nariz, talvez também pelas orelhas, um pouco grandes, ela seria lindíssima. Fora mais bonita quando tinha seus vinte anos, agora que já era uma mulher madura, conservava um pouco de sua beleza. Os cabelos eram muito lisos e pretos. Estavam escorridos. Certamente ela pinta. Havia vantagens em sempre usar o véu, os outros não podiam ler suas expressões, e se ela pudesse ver o rosto da Capitã, veria que não estava nada contente em encontrá-la.
— Capitã! — ela começou num tom severo. — Estou muito descontente com a nossa segurança. Em especial, com a segurança do Príncipe Edwain.
— Quadriplicamos a guarda aqui na Ala Re...
— Ora, não me venha retrucar! Apenas escute o que eu tenho a dizer. — Ela estava mesmo irritada e seu tom de voz não pretendia simular qualquer tipo de boas maneiras.
— Como dizia, a segurança de Edwain precisa ser revista. Ele tem saído cedo, quase todos para estudar com o velho Lorcas. Sabe quantos guardas estão acompanhando seus deslocamentos? Nenhum. E quantos guardas estão a guardar a casa de Lorcas? Também nenhum. Ora, isto é uma falha intolerável! Não vê que estamos passando por um momento de grande vulnerabilidade? Não vê que há conversas sobre conspiração? Que Whiteleaf pode estar tramando uma invasão? Ou mesmo um golpe? Compreende o que estou dizendo, Capitã?
— Sim, Alteza, compreendo. A partir de amanhã...
— Sim, espero mesmo que sim! Quero Edwain acompanhado e protegido o dia todo, entendido? Sei que está cumprindo com seu dever, sei que é importante investigar esses assassinatos e encontrar os responsáveis, mas não podemos deixar que isto tire o foco do que é mais importante e precioso para o futuro deste reino, sim?
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Herdeiros de Kamanesh
FantasyCerca de vinte anos após a abertura de um novo elo para as dimensões abissais, e da liberação da praga de mortos-vivos sobre o reino de Lacoresh, um novo reino ainda frágil, Kamanesh, tenta se erguer das cinzas do antigo império. O jovem príncipe E...