Sentimentos ocultos

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Era tarde da noite. Edwain estava exausto e sua paciência havia se esgotado. Ele e mãe, Princesa Kátia, discutiram num dos salões íntimos, próximos aos dormitórios da família. Havia livros, poltronas e uma boa iluminação por numerosos candelabros. O rosto da mãe também demonstrava cansaço. Ela fora bela em sua juventude e algo disso ainda restava, apesar das marcas da idade em seu rosto. Seus olhos verdes ainda eram vivos como em sua juventude. Ela estava com uma longa camisola bege e touca, uma aparência nada principesca. O filho também vestia roupas de dormir.

– Eu já disse, mãe, não posso! – Edwain estava irritado com a insistência de sua mãe.

– Filho, você é o príncipe herdeiro, simplesmente não pode deixar de ir na cerimônia. Nathannis...

– Morreu, pronto! Eu não vou, pois estou trabalhando em algo importante.

– Não consigo entender esse seu súbito interesse pelos papéis do reino. Até outro dia, você detestava isso com todas suas forças.

– As coisas mudam, preciso me preparar para assumir o reino, não tenho um só dia a perder.

– Seu pai...

– Não vem com essa de meu pai! Ele também está morto! Boa noite! – Edwain deixou a sala pisando firme e irritado. Discutia com a mãe, incontáveis vezes. No fim do corredor, havia um membro dos blackwings. Kandel tinha colocado dois deles em ronda a Ala Real. Edwain acenou para ele e entrou em seu quarto. Sua raiva logo se dissipou. Soprou as velas e atirou-se na cama. Dormiu imediatamente.

Quando acordou, notou que o sol já penetrava pelas frestas das janelas.

– Bosta! Estou atrasado!

Saltou da cama, mal fez a toalete, vestiu-se, colocou um frasco da poção dentro da calça e zuniu pelos corredores. Desceu os lances de escada e foi apressado até a área de copa. Apenas dizia, oi, olá e bom dia para todos que cruzavam seu caminho, sem dar tempo para qualquer conversa. Pegou um pão, uma fruta e saiu pelos fundos do castelo, contornando-o em direção à saída. Quando chegou no sobrado do velho Lorcas, estava todo suado. Correu até o quarto dos fundos, bebeu a poção, trocou de roupas e ganhou as ruas de Kamanesh, correndo até seu limite. Cruzou a ponte quase colocando o que havia comido para fora. Penetrou em Clyderesh e viu ao longe, uns poucos alunos apressados entrando na academia. O sino tocaria a qualquer instante.

– Entrei... consegui! – e atirou-se no chão para descansar.

– Ei, novato, levante-se! – disse um aluno que Eduard julgava ser do sexto ciclo, talvez, do sétimo.

Eduard estava tentando, mas estava com dores terríveis devido ao esforço da corrida. Ele conseguiu se arrastar um pouco e bufar – Só... um... instan... te.

– Como é seu nome?

– Redwall – saiu de uma vez.

– Vou reportá-lo por comportamento indevido, está ouvindo, Redwall? Isso tornará sua permanência aqui mais difícil.

– O que foi? – indagou outro aluno que chegava ali.

– Nada, só mais um novato fracote que certamente será expelido.

O sino soou e os portões se fecharam sozinhos. Eduard já aprendera que muitas coisas na academia funcionavam automaticamente. Havia muita magia em toda a parte. Os dois estudantes seguiram seus caminhos e Eduard ainda ficou deitado mais alguns instantes recobrando o fôlego.

Quando chegou no pátio para a instrução do Mestre Farkas, todos já estavam em formação.

Karpo, está atrasado. Trinta agachamentos, apí!

Herdeiros de KamaneshOnde histórias criam vida. Descubra agora