O Embate dos Reis

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O clima estava tenso. A realização do duelo não seria imediata. Ambas as partes sentiram a necessidade de escrever termos que seriam assinados antes da disputa. Edwain seguiu Kain até um lugar reservado, no prédio da academia, enquanto outras pessoas cuidavam desses preparativos.

Edwain estava muito nervoso com a perspectiva do duelo, ao mesmo tempo, impressionado com os acontecimentos recentes.

— Não acredito. Ocorreu quase tudo conforme a sua previsão.

— A previsão funciona até bem para um evento próximo... Mas o caso agora é que se equipe. — Kain retirou a luva e em seguida, arregaçou as mangas. Retirou o bracelete e o entregou a Edwain.

O príncipe colocou o bracelete e ajustou o metal flexível para se encaixar em seu antebraço. O zumbido e fortes sons confusos inundaram sua mente. Edwain trincou os dentes. Aquilo incomodava demais.

— Meu dedo, minha voz. — Kain repetia isso enquanto movia seu dedo esticado para um lado e para o outro próximo do rosto do rapaz. Aos poucos, o jovem estabeleceu o foco necessário para afastar o ruído de sua mente. Edwain suou frio, mas graças ao condicionamento que Kain havia imposto a sua mente, obteve controle, a despeito do volume elevado de fluxos do Jii que eram canalizados do ambiente para seu corpo.

Kain deu um tempo ao rapaz e disse — Então, está pronto para ir?

— Acho que sim.

Os dois retornaram ao pátio onde havia grande movimentação. Ali, uma nova onda de Jii invadiu o corpo e a mente do rapaz. Cada passo significava uma fincada de dor que subia pelas pernas. Mas, depois de poucos passos, ele se habituava até que alguma nova impressão o atingia. Os cavaleiros que iriam escoltá-lo para fora do portão da cidadela se reuniam no pátio, próximo à saída. Mas o que chamou a atenção do rapaz foi um cavaleiro que estava só, acompanhado do monge Yaren, sob um dos arcos que davam acesso aos corredores laterais. Num primeiro instante, ele pensou se tratar da Capitã, pois usava um véu preso ao elmo e cobrindo o rosto. Mas, faltava a capa negra que descia até a cintura. Além disso, era uma figura um pouco mais baixa e de postura relaxada, um pouco corcunda, até. De súbito, este cavaleiro retornou o olhar para Edwain, que estava do outro lado, há mais de cinquenta metros de distância. O contato visual facilitava a conexão de mentes, e isso vinha mais fácil por causa do bracelete do Dragão Negro, mas nada veio dalí. Era um vazio tranquilizador, a ausência de emanação de qualquer fluxo de pensamentos. "Alguém muito bom em camuflar sua presença". Pensou Edwain. "Por que estaria usando um véu? Admiração pela Capitã? Alguma deformidade?" Edwain não ouvira falar sobre algum outro blackwing que vestisse um véu além da Capitã.

O som de madeira cutucando o piso do corredor tirou a atenção de Edwain de lá. Foi uma boa surpresa ver o sorriso debochado de Tíghas novamente. Ele avançava um pouco lento, apoiando-se num par de muletas. Edwain ficou surpreso ao ouvir Kain dirigir palavras a seu amigo.

— Ouvi dizer que você quase morreu. Seria uma pena perdê-lo.

— Ah, brigado por se preocupar, alteza.

— Você conhece o príncipe Kain? — Edwain estava perplexo.

— E cê achô mesmo que só ocê tinha segredos, né Eduard?

— Mas como?

— Uma outra hora eu conto, tá? Eu só vim aqui te desejá boa sorte. — Ele parou se apoiando numa das muletas e estendeu a mão para um cumprimento.

Edwain conseguiu sorrir. Estava feliz em ver que o amigo estava se recuperando.

— E não morra. Ou eu vô perdê a chance de cobrar docê, ou melhor, dum Rei alguma compensação por ter aturado ocê esse tempo todo.

Herdeiros de KamaneshOnde histórias criam vida. Descubra agora