Adeus Nathannis

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Era uma manhã triste no pátio do castelo de Kamanesh. A Capitã estava arrasada, mas ao menos havia chegado à tempo de despedir-se do amigo. Ela, mais que outros, derramou muitas lágrimas na cerimônia de cremação. Lágrimas que escorreram e ninguém pode ver, ocultas pelo seu véu. Enquanto as chamas consumiam o corpo de Nathannis, a Capitã se recordava que há poucos dias estavam bebendo juntos no Gigante Hilário.

Ela fora procurá-lo após receber a missão de ir até Lacoresh. Pretendia ser objetiva, mas ele conseguiu desviá-la de suas intenções.

– Que tal uma bebida, Capitã?

– Não estou com sede.

– Não estou falando de água tão pouco. Vamos Capitã, por que não? – Ele tinha um sorriso convidativo no rosto. E aquilo a confundiu deixando-a momentaneamente sem argumentos.

Nate pegou-a pelo braço e disse – Vamos, há boas mesas para conversarmos na parte alta do Gigante.

Como ela queria discutir o caso do demônio com Nate, acabou deixando se levar. Ela estava convicta de que o demônio ainda estava no castelo. Kandel havia dito que ele e Nathannis dariam continuidade às investigações, mas ela queria discutir alguns detalhes, passar algumas de suas ideias a respeito. Nathannis era o cavaleiro em que mais confiava, aquele era o mais próximo dela e era certamente o mais indicado para seguir com as investigações.

Sentaram-se num lugar reservado na parte alta da movimentada taberna. Vieram dois canecos grandes com cerveja, que Nathannis tomava com gosto, enquanto a Capitã apenas bebericava, trazendo-a próxima ao rosto e elevando o véu o suficiente apenas para mostrar o queixo. No início, foi ela quem falou mais. Falou sobre suas suspeitas. Disse o que ele deveria procurar e como deveria proceder. Acreditava se tratar de um espião e ressaltou que ele deveria ser capturado e, sob nenhuma hipótese, destruído. Ele ouviu tudo com atenção e prometeu que iria se empenhar e que certamente teria novidades quando ela retornasse. Mas não era aquela parte da conversa que estava na mente da Capitã enquanto observava a pira funerária.

Àquela altura, ela já havia terminado sua cerveja e, como não costumava beber, sentia-se um pouco relaxada. Fora de seu eixo.

– Sei que tem consideração por mim, Capitã, mas diria que sou um amigo?

Perguntas íntimas e pessoais deixavam-na confusa e na defensiva. Demorou a responder, mas como gostava de Nathannis, segurou seu impulso de dar uma resposta ríspida e admitiu.

– Sim, Nate, considero-o um amigo.

Ele sorriu, mas não pode ver o sorriso dela por debaixo do véu.

– Como um amigo, queria perguntar uma coisa. Eu... Quero dizer, já tive dificuldades... Você sabe, quando perdi minha família... Foi um período difícil, e não ter amigos na ocasião, não facilitou.

– Nate, do que está falando?

– Desculpe, Capitã, estou dando voltas. O que quero dizer é que, talvez você queira falar de algumas coisas comigo, considero você mais do que como minha superiora... E... Bem, o que quero dizer é que se quiser, pode confiar em mim.

– Eu confio, mas disse que queria perguntar uma coisa, não é?

– É... Sim! É que, uma vez, eu vi seu rosto...

Ela ficou tensa e fez menção de levantar-se, mas Nate segurou-a pela mão, sem deixá-la sair.

– Espere! Eu nunca comentei com ninguém. E vi apenas por um instante. Muitos dizem que seu rosto é deformado e é por isso que usa o véu, mas não foi isso que vi. – Nathannis não iria admitir, mas achou-a muito bonita. Tão bonita, que não conseguia parar de pensar naquele momento. Respirou fundo e disse – Então, o que eu queria perguntar é: porque usa esse véu?

Herdeiros de KamaneshOnde histórias criam vida. Descubra agora