CAPITULO 77

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ANAHI

Ouço um zunido alto, me fazendo pular e abrir o olhos repentinamente.
ANAHI: Ai.. Só o despertador!
Me jogo de costas na cama novamente e estico a mão para o lado, encontrando o objeto em cima do criado mudo e desligando-o. Viro para o lado e abraço o travesseiro, me aconchegando, o sono da manhã é uma delícia.. Arregalo os olhos.
ANAHI: Que horas são?
Pergunto para as paredes e estico a mão, virando o despertador para que eu veja. 9:02. NOVE HORAS E DOIS MINUTOS. Já devia estar na empresa há pelo menos 40 minutos.
Levanto e entro correndo no banheiro, tentando fazer o máximo de coisas ao mesmo tempo que consigo. Abro o guarda roupas procurando meu vestido azul royal, já que parece estar calor la fora e ele tem o tecido tão leve que parece que será levado pelo vento. Passo o mínimo de tempo me produzindo e saio de casa feito um furacão.

Entro no saguão do prédio da empresa sem nem cumprimentar os recepcionistas, a movimentação a essa hora já está a toda e se torna complicado desviar de tanta gente quando se está com pressa e andando com saltos 15. Me junto ao menor grupo a espera de um dos elevadores e a ansiedade é tanta que, vez ou outra, aperto novamente o botão para me certificar de que ele esta vindo.
Meu celular vibra repetidas vezes e procuro-o em minha bolsa, hoje tudo parece estar contra mim. Acho o bendito justamente na hora em que a porta do elevador abre e eu acabo entrando verificando as mensagens. *Cadê você, Any?* seguidos por *Vou te matar se você nao aparecer logo, sua vaca* sao algumas das mensagens carinhosas de Dul, me procurando. Resolvo nao responder, já que em segundos a verei.
As portas se abrem no vigésimo primeiro andar e eu passo esbaforida.
ANAHI: Bom dia, Angel!
ANGEL: Bom dia, Any! A Dul esta louca atrás de você - ela da uma risadinha.
ANAHI: Percebi pelas mensagens que ela me enviou. - sorrio. - Pode avisa-la que cheguei?
ANGEL: Claro!
ANAHI: Obrigada! Ah! Manuel já chegou?
ANGEL: Já sim, mas esta em reunião tem uns 30 minutos.
ANAHI: Ok! Obrigada, Angel!
Entro pelo corredor onde ficam uma parte das salas dos advogados e a de Manuel também. Assim que passo pela sala da Dulce, sua porta se abre.

DULCE: Any! Até que enfim! Onde você estava mulher? Sabe que...
MANUEL: Anahi, bom dia!
Ouvimos a voz de Manuel e ambas olhamos para o fim do corredor, ele esta extremamente alinhado em seu terno cinza claro.
ANAHI: Bom dia, Manuel! - digo, chegando mais perto dele e o cumprimentando. - Desculpe o atraso.
MANUEL: Você sabe que nao precisa se desculpar, tem toda flexibilidade de horarios que precisar. - ele sorri, caloroso. - Mas eu ia realmente te chamar, preciso da sua opinião em um assunto. Venha, entre.
Ele abre espaço e antes de entrar eu me viro para Dulce, movendo meus labios para que ela entenda que depois nos falamos. Assim que entro me lembro que Angel tinha comentado que ele estava em reunião, então avisto uma silhueta masculina sentada de costas para mim, olhando atentamente alguns papéis. Ouço a porta se fechar.
MANUEL: Então, me interessei em alguns imóveis e trouxe o Alfonso aqui, para resolvermos alguns detalhes.
Minha mente registra: Alfonso. E em um segundo esse nome ecoa em mim, me fazendo arrepiar ainda mais quando percebo que ele havia se virado e, ainda com os papéis em suas mãos, me olhava firmemente.
Sinto a mão de Manuel tocando em meu cotovelo e sei que ele quer que eu entre de vez na sala. Caminho com ele a meu lado e vejo Poncho se levantar para me cumprimentar. Ele esta extremamente bem vestido, de terno preto e a gravata em tom de cobre que realça a cor ambar de seus olhos. Ele sorri, mas o sorriso nao chega aos olhos e sei que ele está tão desconfortável quanto eu.
PONCHO: Anahi. - ele estica uma das mãos e meneia a cabeça.
Anahi. Não birrenta, senhorita emburrada ou Any. Ele diz Anahi e meu nome nunca me incomodou tanto quanto nesse momento.

ANAHI: Poncho, como esta? - eu aperto sua mão estendida.
Faço questão de manter a intimidade, de chama-lo pelo apelido que fui acostumada desde menina, para que pelo menos pareça que tudo ainda continua igual a aquele tempo.
Manuel pede que nos sentemos e pede que Poncho me explique sobre o imóvel que ele esta interessado. Me sinto na pior das posições, vendo Poncho totalmente profissional e com total habilidade de um assunto que há pouco mais de 5 meses ele não dominava. E isso o torna ainda mais atraente.
MANUEL: Sempre tive vontade de comprar uma casa no campo, Any. E quando entrei em contato com o Alfonso ele me deu várias opções, porém essas duas me chamaram a atenção. - ele aponta para as fotos em cima da mesa de centro.
São duas casas extremamente deslumbrantes e imponentes, mas ao mesmo tempo aconchegantes, com aquela característica de casa familiar. Olho as fotos com cuidado, enquanto o próprio Manuel descreve mais detalhes sobre ambas as construções. Tantos quartos, suítes, salas de todos os gostos e terrenos de uma metragem onde se construiria mais uma casa igual. Minha atenção se volta para a casa toda branca, de traços suaves em um terreno um pouco mais elevado que a rua, sinto que já estive ali e não preciso vasculhar tanto a minha memória para descobrir.
ANAHI: Essa! - interrompo Manuel e levanto a foto, me virando para Poncho. - Não me diga que essa é a sua casa, a dos seus pais?
Minhas voz esta cheia de mágoa e Poncho me conhece o suficiente para perceber isso.
PONCHO: Eu e Christopher já estamos morando aqui e em breve a Maite também virá, mamãe achou que a casa ficaria muito grande para apenas ela e papai. - Sua voz assume um tom de desculpas e eu sinto um nó em minha garganta.

Não consigo imaginar aquela casa tendo outros moradores que não sejam os próprios Herreras. Ver a fachada sendo mudada, as cores das paredes e o estilo dos móveis. Meu diário de lembranças de uma infância feliz sendo apagado um a um. Olho para Poncho e sei exatamente o momento em que ele entende tudo que eu estou sentindo quando ele faz um breve meneio de cabeça.
ANAHI: Por favor, essa não. - me limito a dizer.
Manuel me olha com curiosidade e eu me viro para ele, tentando engolir o nó que se alojou em minha garganta.
MANUEL: Mas é uma casa tão linda Any e pelo visto você gosta dela, o que a deixa ainda mais interessante. - ele sorri.
Não consigo compreender esse seu comentário, talvez por estar com a cabeça totalmente longe. Mas sei que Poncho entendeu direitinho quando ele bufa e mesmo assim eu não desvio meu olhar de Manuel.
ANAHI: Realmente é uma casa linda e você adoraria passar as férias ou os fins de semana com sua família.. - ele me interrompe.
MANUEL: Futura. Futura família.
ANAHI: Isso. Mas essa casa não pode estar a venda entende? Tia Pilar não está pensando direito e assim que sair daqui conversarei com ela. - olho para Poncho. - Por isso essa casa não é uma opção, Manuel.
E o sorriso discreto que se forma nos lábios de Poncho me deixa confusa.

Manuel parece perceber o quanto estou falando sério e então pega a foto da casa de tia Pilar de cima da mesa e, em um simples movimento, a rasga em dois pedaços. E só quando respiro aliviada percebo que estava prendendo a respiração até aquele instante, por medo de que ele não atendesse meu pedido.
MANUEL: Alfonso, tenha a gentileza de pesquisar mais opções de casas com esse padrão e assim que estiver com um novo material em mãos, entre em contato novamente. - ele diz, se levantando, fazendo com que Poncho e eu também fiquemos de pé.
PONCHO: Como preferir, Manuel. Farei o possível para encontrar algo que agrade a vocês. - percebo que só eu senti a alfinetada em sua voz. - Anahi, foi um prazer revê-la.
Eu apenas retribuo o sorriso fraco que ele me direciona e nos encaminhamos para a porta do escritório. Eles se cumprimentam com um aperto de mão seguido de um "até logo" e me vejo sozinha com Manuel. Ele pigarreia.
MANUEL: Anahi, tem alguma coisa lhe incomodando? Há algum problema em eu ter procurado a HC como fornecedora?
ANAHI: Nã-não! Claro que não! - seco discretamente minhas mãos suadas em meu vestido. - Pelo contrário, fico feliz que tenha procurado por eles. É uma empresa de confiança.
MANUEL: Tudo bem! - ele me olha desconfiado e sei que ainda não se convenceu. - A papelada do Sr Gonzalez ja esta pronta?
ANAHI: Esta sim! - me assusto com a mudança repentina de assunto - Falta apenas uma pequena revisão.
MANUEL: Então assim que revisa-la, me envie por email. Preciso dar fim a esse processo.
Balanço a cabeça em concordância e sei que essa é a minha deixa para me retirar. Assim que saio da sala ouço o click da porta se fechando e então vou em direção a minha sala da forma mais rápida que consigo.

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