A Viagem

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−Victor, Victor. Acorda!

Pude ouvir uma voz feminina.

Levantei-me da cama e abri os olhos lentamente. Enxerguei apenas uma claridade que vinha da janela do meu quarto. Quando me dei conta, percebi que existia uma figura feminina parada na porta. Era a minha prima, e ela apenas me encarava com uma cara de questionamento.

Cocei os olhos e a encarei.

−Bom dia pra você também, Isadora. –Falei.

−Bom dia! –Respondeu sorrindo. –Você sabe que horas são? –Perguntou-me erguendo a sobrancelha esquerda.

Não havia entendido o motivo da pergunta, até que olho para o relógio que marcava 10h30min. Nesse momento eu dei um pulo da cama. Acabei me dando conta de que dentro de quatro horas eu terei que estar no aeroporto embarcando.

−Meu Deus! –Gritei.

Esse era eu. Um pouco desajeitado.

Meu nome é Victor. Tenho dezessete anos. Sou um garoto da pele clara, cabelos pretos, olhos castanhos, algumas sardas no rosto, tenho um metro e setenta de altura. Não sou magro, mas também não sou sarado. Tenho um corpo "normal". Nada muito excepcional, porém eu me achava atraente.

Corro para o banheiro e me observo no espelho. Contemplo meu rosto terrivelmente inchado. Tiro minha roupa e vou até o box, antes de ligar o chuveiro, me certifico de que o mesmo está na temperatura "quente", Pois ultimamente a temperatura aqui na cidade de Gramado no Rio Grande do Sul beirava uns quatros graus.

Tomo um banho de forma rápida e logo em seguida enrolo a toalha na minha cintura e saio do banheiro. Respirei aliviado ao ver que eu já havia deixado a roupa que eu iria viajar separada na noite anterior. Escolhi uma calça preta, uma camisa branca, e Por cima um casaco preto.

Desci as escadas e fui até a cozinha pegar uma xícara de chocolate quente. Na volta encontrei a minha prima Isadora sentada no sofá com uma xícara na mão direita, e em sua mão esquerda segurava um sanduíche.

−Porra Isadora! Por que não me acordou antes? –Perguntei encarando-a.

−Eu lá sabia que você ainda estava dormindo. –Disse encarando-me.

−Se eu estivesse morto você nem saberia. –Falei sorrindo.

−Para de drama! –Disse enquanto tirava um pedaço do sanduíche.

−Cadê os meus tios? –Perguntei enquanto me sentava ao seu lado no sofá.

−Eles já foram trabalhar. Eles pediram para que eu lhe desejasse muita sorte, e que qualquer coisa que você precisasse poderia falar com eles.

Apenas a observei.

Por um momento eu pude sentir um misto de sentimentos. Meus pais não moram no Brasil. Há sete anos que eles se mudaram para Massachusetts. Lembro-me do quanto foi duro ter de escolher entre ir embora com eles, ou ficar aqui em Gramado com meus primos e alguns poucos amigos. Por incrível que pareça, eu preferi ficar aqui. Desde os meus dez anos de idade que eu moro com os pais da Isadora.

Depois de longos anos vivendo com eles, essa seria a primeira vez que eu teria que ir para outro lugar em que eles não estivessem. Meu mais novo destino era São Paulo. Eu havia passado no curso de Direito e teria que ir morar lá. Assim que eu fiquei sabendo da noticia, eu liguei para os meus pais e na mesma hora eles me apoiaram. Na verdade, eu sempre me senti privilegiado por ser acolhido pelos meus tios, e também por saber que sempre eu poderia contar com o apoio deles e dos meus pais.

Tudo isso era muito confortante. Mas nesse momento, tudo parecia ser assustador. Eu sabia que a partir do momento em que eu saísse da casa deles, tudo iria mudar.

−Não vai terminar de tomar o chocolate? –A voz da Isadora me retirou dos meus pensamentos.

Olhei para a xícara e logo em seguida olhei para a Isadora.

−Claro. –Falei sorrindo.

Olhei para o relógio, marcava 11h00min. Terminei de tomar o chocolate e fui até a cozinha para lavar a xícara. Meu voo estava marcado para às 14h30min.

−Prima, Solicite um uber pra mim enquanto eu vou até o quarto pegar as malas. –Falei.

−Tudo bem. –Disse pegando o celular.

Fui até o quarto. Chequei todos os meus documentos.

Carteira tá aqui, notebook também, malas "ok".

Tudo estava pronto.

Não demorou muito, e pude ouvir a Isadora gritar que o uber já se encontrava na porta.

Desci rapidamente com as malas. E começamos a despedida.

−Primo, não vai. –Disse a Isadora com a voz de choro.

Eu a encarei. Meu semblante não era de tristeza, mas por dentro eu estava me segurando para não dar risada da cara da Isadora.

−Primo, Tem certeza que você quer ir? − Questionou-me a Isadora.

−Ah prima! É a vida, não é? –Falei passando a mão em seu rosto.

−Eu sentirei tanto a sua falta. –Disse-me enquanto uma lágrima rolava em seus olhos.

−Eu também sentirei. Você sabe que somos como irmãos. Você é a irmã que eu nunca tive. Vamos sempre nos falar, você tem meu Whats, meu Skype. E quando eu estiver estabilizado, vou querer você comigo. –Falei.

A Isadora sorriu.

−Tudo bem. Eu te amo, e sorte lá. Quando chegar me avisa, tá?

−Tá. –Falei abraçando-a.

Logo em seguida dei um beijo em sua testa e me dirigi até o carro.

O motorista me ajudou com as malas e então eu entrei no carro. Aos poucos o carro foi se afastando da casa. Pela janela eu pude ver a Isadora sumindo aos poucos.

Da casa da Isadora até o aeroporto de Porto Alegre eram cerca de 115 km de distância. Daria uma fortuna se eu fosse de uber até lá. Então pedi que o motorista levasse-me até a rodoviária, e de lá pegaria um ônibus até o aeroporto.

Cheguei ao aeroporto por voltas das 13h45min. Restavam-me apenas quarenta e cinco minutos, como eu já havia feito o check-in pela internet, apenas despachei as bagagens, e fiquei andando pelo aeroporto.

Resolvi comer algo, e às 14h10min me dirigi ao salão de embarque. Mandei uma foto para Isadora, que ainda estava triste com a minha ida para São Paulo. Às 14h30min o avião levantou voo.

Da janela observei tudo ficando pequeno, e aos poucos o que veio à tona foi o pensamento de que as coisas iriam mudar...

Eu espero que pra melhor.

"Sampa" que me aguarde!

Revisado.

O Irmão da Minha Melhor Amiga (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora