O que acontece em Vegas, nem sempre fica em Vegas

PRÓLOGO

     Confesso que nunca na minha vida havia antes ficado tão nervoso. Enquanto o médico analisava meus exames, eu conseguia ouvir em meio ao silêncio meu coração pulsar forte em meu peito, deixando a minha respiração desregular, tive de afrouxar um pouco o nó da minha gravata para que conseguisse respirar melhor.

     Levou alguns instantes, até que ele finalmente abaixasse os papéis e os colocasse sobre a mesa e alguns outros para que me encarasse:

      ― E então doutor? –Perguntei, minha voz falha.

     Ainda em silêncio, ele apenas tirou seus óculos de leitura e os dispôs sobre a mesa. Não me respondeu, mas também não precisou, naquele momento compreendi que o que eu mais temia, havia se concretizado:

     ― Então quer dizer que... Não, não pode ser... –Eu estava desolado, era como se eu tivesse perdido o meu lugar no mundo, a minha importância, foi como se tudo o que tivesse planejado até então acabasse de ter sido arrancado de mim.

     ― Eu sinto muito, Lorenzo –O doutor disse- Eu sei que isso pode parecer o fim do mundo agora, mas não significa que você não possa ter uma vida normal, que não possa continuar os seus planos com a Katie, a medicina está muito evoluída, talvez nós possamos...

     ― Não, eu não posso fazer isso com a Katie, ela já fez tantos planos... –Deslizei minhas mãos por meus cabelos- Essa notícia vai destruí-la.

     ― Lorenzo, vocês dois se amam, sei que vão encontrar um jeito de passar por tudo isso, juntos.

     ― Doutor, preciso que me prometa que não vai contar nada disso a ela, nem a ninguém, por favor, eu mesmo quero contar.

     ― Não contarei.

     ― Obrigado. –Me levantei da poltrona, caminhando até a porta para poder sair do seu consultório.

     ― Lorenzo? –Me virei rapidamente para olhá-lo- Se mudar de ideia sobre os tratamentos...

     ― Claro, pode ter certeza de que irei procura-lo, agora eu preciso ir. –Sai sem olhar para trás, fechando a porta logo atrás de mim.

     Ao sair do hospital, entrei na minha Range Rover Evoque branca e no caminho para o apartamento de Katie, fiquei imaginando a melhor maneira de dar aquela notícia a ela, mas por mais que buscasse uma alternativa, sabia que não existia uma maneira fácil de contar algo assim a alguém, ainda mais quando essa pessoa já fez tantos planos. Contar a verdade a ela, seria o mesmo que matar todos os seus sonhos e ela não merecia isso.

     Minutos depois, estacionei meu carro em frente ao prédio em que ela morava, desci e ao entrar na recepção, o porteiro me cumprimentou com um sorriso:

     ― Bom dia senhor Lorenzo, quer que eu avise a senhorita Katie de que o senhor vai subir?

     ― Claro Otávio, obrigado. –Agradeci, entrando no elevador.

     Ao chegar no sexto andar, caminhei até o fim do corredor, parando em frente ao apartamento de Katie, respirei fundo e bati à sua porta:

     ― Oi amor! –Ela surgiu à porta, vestindo uma camiseta minha- Não fique parado ai fora, entre! –Ela sorriu, me puxando para dentro e logo depois enroscando seus braços ao redor do meu pescoço, me beijando.

     Eu a amava. E soube disso desde o dia em que a encontrei sozinha, perdida em uma estrada deserta no meio da noite com dois pneus do seu carro furados, a exatamente três anos atrás.